Capítulo 54

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Acordei transpirando por todo corpo, que ao mesmo tempo tremia. Meu rosto formigava e meus lábios eu não sentia, fiquei paralisado na cama sem voz e sem cor no rosto, tentando puxar desesperadamente o ar que se recusava veementemente a adentrar os meus pulmões que clamavam ansiosos por ele.

As lágrimas reais de uma sensação há muita tempo esquecida junto com a memória perdida, deslizava por minha face molhando os meus cabelos e minha veste interna, trazendo junto o sentimento de vazio e perda, que quando combinados, corroía mais do que qualquer outro sentimento.

O som não saía, preso em minha garganta, e eu apenas permaneci inerte ao mundo por um longo tempo, sentindo como se estivesse morrendo e não pudesse fazer nada além de esperar os minutos finais se encerarem. Esses minutos, misturando-se com sensações em sua maioria já conhecidas, deixaram-me em um estado de torpor, onde parecia que uma vida inteira havia passado até o momento em que consegui mover algo além do meu dedo do pé.

Quando recuperei o controle total de mim, saí a passos lentos e silenciosos da cama em que estava, sentindo o vento frio do inverno antecipado e escutando o barulho do encontro dele com as árvores sem vida espalhas pelo caminho.

Tão sem vida como o meu coração desolado.

Sentei-me abaixo de uma que ficava escondida dos olhares de possíveis transeuntes e, assim, deixei toda a dor e desespero vir de uma vez, mesmo sabendo que talvez eu não pudesse suportar. As cenas do que aconteceu vinham como se estivessem ocorrendo nesse exato momento e, de fato, era desesperador, tão sufocante quanto angustiante.

Segurei meu rosto que repousava em meu joelho, puxando os fios do meu cabelo com tanta força que a maioria veio junto se desprendendo da raiz, causando uma leve ardência que não era nada comparado com a que eu sentia queimar em meu peito e em cada parte do meu ser quebrado.

- AHHHH – gritei em direção aos céus, passando a bater com força em meus joelhos e coxas, intercalando os golpes com arranhões que fizeram marcas bem vermelhas em ambas as regiões – MALTIDO SEJA VOCÊS, TODOS VOCÊS

Que brincadeira é essa que eles resolveram fazer comigo? De todas as pessoas desse continente, por que ele? Por que justo o pai de Ji YunHua?

Isso não pode estar acontecendo, isso não devia acontecer, não, não, não, eu não aceito isso, eu não aceito.

- ESTÁ ESCUTANDO ISSO? EU NÃO ACEITO ISSO. PEGUEM ESSE SENSO DE HUMOR DE VOCÊS E O COLOQUEM NO BURACO QUE NÃO CHEGA A LUZ DO SOL, BANDO DE HIPÓCRITAS – a cada vez, eu esbravejava mais alto, sem me importar com as pessoas que poderiam chegar sendo guiadas pela minha voz elevada – EU NÃO MERECIA ISSO, JI YUNHUA TAMBÉM NÃO MERECIA, nenhum deles merecia – em algum momento, o som dos soluços se tornaram maiores que os gritos – Para que me dar uma nova chance apenas para me fazer perder mais pessoas? – murmurei, não tendo nem mais força para continuar com as maldições lançadas aos céus, sentindo toda a dor que eu estava evitando me atingir com força, me deixando tonto e perdido

Naquele momento, eu me assemelhava a uma criança que desejava apenas o colo de sua mãe e a segurança que os braços dela ao redor proporcionavam, assim como a segurança do sorriso de um pai que, com aquele gesto, dizia sem palavras que tudo ficaria bem. Mas eu não podia tê-los, não importa o quanto eu desejasse, o quanto eu implorasse. Esse abraço e esse sorriso eu nunca mais teria, porque também me tiraram isso, me tiraram a segurança e o carinho de dois pais e duas mães.

De repente, pegando-me totalmente de surpresa, fui envolvido por um abraço inesperado, ao passo que eu permiti-me ser abraçado, revelando minha fraqueza para outra pessoa pela primeira vez em muito tempo.

Os soluços eram inadiáveis, presentes e constantes, caindo sobre a roupa daquele corpo, que não pareceu se importar com suas vestes tão elegantes e caras sendo cada vez mais danificadas, mantendo a todo momento a firmeza do aperto ao meu redor.

O Cultivador TransmigradoOnde histórias criam vida. Descubra agora