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9

Quando terminei de contar o sonho que tive, Joshua já havia esvaziado o terceiro copo de smoothie.
Ele limpou a boca com as costas da mão enquanto me dirigia sua expressão pensativa.

— Isso definitivamente não me parece um sonho comum.

— Eu sequer conhecia a noiva dele, essa Lory. Não poderia projetar isso. Nenhum subconsciente é capaz de tanta criatividade.

— Embora eu discorde, minha criança, devo afirmar que você tem razão em dizer que não projetou isso. De fato, foi uma visão. E sabemos que isso só pode ter vindo do Criador.

— Ele está nos ajudando — afirmei baixinho, um tanto feliz e preocupada ao mesmo tempo.

— O que seus irmãos contaram a você?

— Natanael disse que não podia me dizer nada, eu insisti, mas mesmo assim não tive um detalhe sequer. Mas quando encontrei Bárbara... foi ela quem me contou sobre o noivado, sobre a explosão.

— O que exatamente foi essa explosão?

Eu suspirei.

— A abertura de fendas estava fora de controle. Clamamos ao Criador por ajuda, mas Ele nada dizia. O Conselho de Zestien organizou uma ação para tentar conter aquilo.

— Achei que tivesse dito que apenas Castiel mapeava as fendas.

— As fendas costumavam ser mais constantes antes de tentarem conter. Não era difícil achar uma, e a maioria eram em cavernas.

— Como a de Castiel — pontuou ele.

— Exato!
Ao que parece, Lory acabou desaparecendo antes da explosão, e por não tê-la achado antes, Castiel ficou furioso. Eu me lembro de quando ele se mudou para montanhas sem se quer me contar o porquê. Ele me visitou algumas vezes apenas depois.

— Me admiro da determinação dele. Cálculos, coordenadas, ele mapeou fendas por toda Zestien por ela.

— Eu chamaria isso de loucura.

— Amar é uma loucura, criança. E poucos os que realmente compreendem a arte do amar verdadeiramente.

— E você compreende? — confrontei, mas Joshua apenas sorriu, uma vaga memória o invadindo.

— Compreendo.
Mas a questão é, seu irmão está por aqui, em Zevestie, então temos que encontrá-lo.

— E como faremos isso? Não temos mais pistas de onde ele foi, mal sabemos se está num mesmo raio quilométrico que nós.

— Da maneira tradicional, então — uma chave surgiu por entre seus dedos. A chave de uma moto. Joshua sorriu — vou te apresentar a gloriosa Vancouver.

•.°

Quando Joshua pôs o capacete em minha cabeça e disse "segure-se, e observe", eu confesso, achei que não veria nada demais. Ele tem a mania de em enxergar beleza e arte em tudo.

Mas conforme as árvores indo ficando mais modeladas e abertas, a estrada limpa e a água adaptada a cidade, meu vislumbre aumentava.
Haviam prédios, carros, uma junção de cores e formatos que me deixavam admirada.
Em Zestien, você não observa isso. É tão monótono que simplesmente vira rotineiro.

Mas naquele momento, eu mal conseguia piscar.

— Bem vinda ao Stanley Park. Devo dizer que é um dos meus lugares favoritos.

Era um parque florestal, diferente da área que estávamos antes. Haviam barcos a distância, visíveis mas distantes, o céu estava azul, limpo de nuvens, e o calor estava agradável.