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Quando eu estava em momentos de completo desespero, eu costumava simplesmente me entregar a isso. Eu deixava aquele sentimento de ellipsim, isso é, a sensação de aceitar a tristeza por não ser capaz de saber como a história vai terminar, me dominar. Em dias como esse, eu apenas deixava que meus pensamentos me afundassem no mais profundo mar do esquecimento existencial. Minha consciência se apagava.

Foi quando escutei um grito de socorro. Era de Aquiles.

E eu simplesmente assumi o controle outra vez. Eu corri por onde sua voz ecoava. Foram poucos metros, mas eu teria corrido quilômetros assim fosse preciso.

- AQUILES!

Lá estava ele.

Caído entre pedras, e não tinha liberdade para se mexer. Sua mochila estava em suas mãos, ele a agarrava com tanta força que seus dedos estavam brancos.

Eu corri até ele tão depressa que poeira se levantou atrás de meus pés.

- Aquiles! Pode me ouvir?

- Lory, eu... eu não consigo me mexer - queixou-se.

- Consegue abrir os olhos? Aquiles, olhe pra mim.

Ele demoradamente obedeceu. Sua feição me preocupava, ela estava fraca muito além do que deveria.

Mas ele sorria.

- Seus olhos - ele disse - Estão brilhando.

- Foi a fenda. Não tenho controle deles aqui. É sério que esta preocupado com eles?

- Gosto deles assim. É minha coisa favorita em você, depois desse seu jeito mandão e bruto - ele tossiu - Me diga que não estamos aonde acho que estamos.

- Prefiro mandar você fica quieto. Agora, me diga aonde sente dor.

- Em todo lugar? - ele estremeceu, a beira de um desmaio.

- Aquiles, fique acordado! Preciso saber aonde está machucado... Me diga se isso dói, certo?

Comecei a pressionar as mãos sobre seu corpo. Trêmula, eu toquei sua coluna, mas ele não reclamou, e eu fiquei mais aliviada. Toquei seus braços, antebraço, ombros, mas ele não dizia.

- Você está adorando isso, não está? AI! -ele gritou, quando lhe dei um tapa no ombro após ter certeza que estava bem.

- Cale a boca, Aquiles - reclamei, mas eu sorria minimamente por ele estar, no melhor dos sentidos, bem

Apalpei sua coxa coberta pelo jeans coberto de poeira, e um pouco acima do joelho, ele deu um pequeno salto e gemeu de dor.

- Achei - eu sussurei -Tem algum canivete com você?

Ele acenou positivamente, e me indicou a mochila que ele segurava.

- No bolso frontal. - explicou.

Tirei o canivete, e fiz o corte em sua calça. O jeans era grosseiro demais, mas eu fazia o máximo para não tremer.

A área de sua coxa tinha uma lesão tão grande que eu precisei respirar fundo par não assusta-lo. Lembrei de quando Joshua me dizia sobre humanos que tentava mexer com viagens entre mundos, cosmos, até mesmo em seu próprio espaço-tempo. O corpo humano não tinha adaptação pra isso. E o ferimento de Aquiles era uma prova disso.

Enquanto eu ainda analisava o ferimento, Aquiles começou a se retorcer. Ele gritava, mas não sabia porquê.

- FAZ ISSO PARAR - ele gritava, mas sua voz era tão falha que eu mal podia compreender.

13:31Où les histoires vivent. Découvrez maintenant