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Assisti aqueles vídeos milhares de vezes, (milhares mesmo), mas em nenhuma delas eu consegui descobrir algo. Não vi nenhum tipo de sinal, característica ou início (ou um mísero desfecho). Nada. Absolutamente nada.

Nos primeiros três dias, eu não abri as janelas de casa nenhuma vez. Fiquei no sofá, e dormi quando minhas pálpebras não suportavam mais.
Depois acordava, e voltava a ver de novo as mesmas minutagens contínuas, repentinamente, com zoom, aumento de volume, ou mesmo a casa completa escuridão.

Mas nada parecia adiantar.

Semanas se passaram.
Meu corte cicatrizou, mas por algum motivo, ele ainda ardia. Todos os dias, às 13:31, ele ardia como brasa em fogo, e depois simplesmente parava. Inconstante e impróprio do mesmo jeito que havia começado.

Um mês depois do sumiço de Castiel, Natanael bateu em minha porta.
Eu vi pela batida desesperada que era ele. Guardei o card de memória que havia roubado no bolso do jeans e escondi a câmera de Castiel embaixo do sofá.

Quando abri a porta, Natanael não me cumprimentou de alguma forma. Nem mesmo me lançou seu famoso olhar de deboche.

Ele somente desmaiou nos meus braços.
Que maravilha.

Assustada, fiz o máximo de força que consegui para que não caíssemos os dois no chão.
Segurei-o e arrastei seu corpo pesado desacordado até meu sofá (que, por sorte, não era longe).

Quando o joguei por entre as almofadas, seus olhos abriram como num susto, como se não entendesse como havia ido para ali.

Você poderia me explicar o que diabos está fazendo aqui, Natanael?

Meu irmão mais novo, sentado ao meu lado, e já consciente, tinha uma expressão raivosa na cara, como se todos os problemas do mundo fossem culpa minha.

— Vai, me responde!

— Lory, você pode calar a boca por cinco minutos? Só cinco minutos?

— Você desmaiou na minha casa, nos meus braços! E simplesmente acordou como se isso não fosse nada! Eu mereço explicações!

Nat riu com sarcasmo de mim.

— Céus, você é igualzinha ao Castiel. Tudo tem que ser do seu jeito.

Eu me levantei na mesma hora.
Encarei Natanael como se pudesse (e eu queria) bater nele.

— Se veio até aqui pra insultar a mim e ao nosso irmão, eu sugiro que saia agora. Eu não preciso disso.

— Eu vim até aqui porque Lonie me pediu! Ele está preocupado com você! Não faço ideia do porquê ter desmaiado!

— Bom, não preciso disso. Estou ótima, agora sai da minha casa!

Os olhos de Natanael refletiam fogo puro. Ele realmente se levantou, mas não pra ir embora.
Ele ficou frente a frente comigo.

— Você não o protegeria se soubesse da verdade, sabia?

— Se não vai me contar, não quero você aqui.

— Castiel estragou nossa família!

— VOCÊ ESTRAGOU NOSSA FAMÍLIA QUANDO COAGIU COM AQUELA EXPLOSÃO!

— FOI PELO BEM DE TODOS! AS FENDAS TINHAM QUE SER FECHADAS!

— BOM, ADIANTOU MUITO!

O relógio da cozinha marcou 13:31.
Os olhos de Natanael voltaram ao normal. E sua expressão raivoso foi substituída por uma dolorida.

Eu vi quando ele apertou os próprios dedos na mão esquerda.

— O que houve com sua mão? Me deixe ver.

— Nada, não é nada.

— Me dê a sua mão agora, Nat.

Não esperei que ele me entregasse. A puxei pra mim.
Quase gritei quando vi um corte igual ao meu, porém muito mais fundo, e ele não somente ardia.
Ele sangrava.

E muito.

°.•

Como conseguiu isso?

— Eu não sei.

Eu segurava uma caixa branca de primeiros socorros. Parei minha trajetória na mesma hora.

— Se não me disser a verdade, Natanael, juro pelo Criador que te deixo sangrar até morrer.

Ele suspirou, mas nada disse.
Sentado sobre minha bancada, ele suspendeu as mangas longas de sua camisa e me estendeu a mão.
A segurei com cuidado. Molhei o algodão no álcool, e passei pelo corte.

Ele tremeu.
Foi quando começou a falar.

— No dia em que Cast desapareceu, eu estava em casa, jogando videogame. Eu tinha um compromisso às 14h, e por isso, checava os horários o tempo todo... ei, ei! Vai com calma! — reclamou, chiando de dor.

— Perdão. Continue.

— Eu checava sempre as horas.
Foi quando vi 13h31, e meu dedo simplesmente começou a doer e a sangrar. Só depois associei o corte.
Mas, Lory... eu não estava com nada afiado nas mãos. Eu não fiz isso.

Olhei para minha mão esquerda.
Eu também não lembro de ter me cortado diretamente.

— Eu sei que parece loucura, você nem deve acreditar em mim.

Eu acredito em você, Nat.

Eu tirei a gaze da caixa. Olhei nos olhos de Natanael, e eles refletiam medo.

— Me conte sobre a explosão, por favor.

— Lory, eu não posso.

— Castiel pode estar no Vazio, Nat. É nossa última esperança. Por favor.

Colei a última volta da gaze com fita.
Nat se levantou na mesma hora da bancada.

Antes de sair da minha cozinha, e ainda de costas, ele disse:

— Lonnie ainda não foi na casa dele, as chuvas deixaram as fronteiras alagadas, tudo virou rio.
Tente. Você o conhecia melhor que todos nós, afinal.

Segundos depois, ouvi a porta da frente abrir e fechar.

Suspirei de aflição, sem saber o que fazer.
Se Castiel estivesse no Vazio, toda nossa luta seria em vão. Mas eu preferia não acreditar nisso.

Guardei a caixinha de primeiros socorros, peguei minha mochila e pus o notebook e a câmera.

Hora de fazer uma viagem as montanhas.

13:31Where stories live. Discover now