Capítulo 23

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- Henrique

Quando ganhei um carro, pensei que seria só liberdade e independência. "Adeus, longas caminhadas e esperas por Uber", eu disse a mim mesmo. Mas a realidade é outra: agora sou refém da agenda da minha irmã Carol. Desde que minha mãe decretou que eu deveria levá-la à escola todos os dias, minha liberdade se transformou em responsabilidade.

Antes, Carol pegava o ônibus e fazia questão de manter distância de mim na escola. Ela temia ser associada ao "valentão da escola", título que me deram quando entrei na Ruth Goulart. É engraçado como as pessoas presumem que eu resolvo tudo na base da força, o que, confesso, não é totalmente falso.

A Ruth Goulart nunca pareceu ser o meu lugar. Cresci na comunidade, e apesar do dinheiro do meu pai, o dono do morro, eu nunca me senti parte daquela escola. Mas como acabei lá? Há três anos, a escola enfrentava uma crise financeira e lançou a bolsa Grêmio, uma oportunidade gratuita que minha mãe agarrou para mim e Carol.

Foi um choque descobrir que passamos na prova e ganhamos a bolsa. Carol estava nas nuvens, realizando seu sonho de estudar na Ruth Goulart. Eu resisti, preferia a escola da comunidade, mas meus pais insistiram, e lá fui eu para a Ruth Goulart.

A escola era exatamente como eu imaginava: um desfile de arrogância e competição por status. Não demorou muito para eu me desentender com um dos "ricos" e ganhar a fama de valentão. Esse rótulo se espalhou, e agora todos na escola me temem e me obedecem, exceto Julian.

Agora, aqui estou eu, jogado no sofá, olhando o relógio e resmungando. Carol está atrasada, como sempre. Quando finalmente ela aparece, descendo as escadas toda arrumada, mal posso esconder minha irritação.

Carol me olha com aquele sorriso matinal e pergunta se podemos ir. Eu a encaro, incrédulo. Ela deve estar brincando, certo?

- Já estaríamos a caminho se você não demorasse tanto - Respondo, meu sarcasmo tão evidente quanto o sorriso forçado em meu rosto.

- Ah, Diego, não é para tanto. Ainda falta para o sinal - Ela rebate, checando o relógio. - Você não faz ideia do que é ser mulher.

Ignoro seu comentário e pego minha mochila, seguindo para o carro. Carol vem atrás, cantarolando algo que mal consigo ouvir. Observo-a, intrigado. Ela não é de acordar cedo, muito menos de estar tão animada.

Com o cinto já afivelado, dou partida no carro. - Tudo bem com você? - Perguntei. - Você parece mais alegre do que o normal.

- Estou bem, sim - Ela responde, interrompendo a canção. - Desde quando acordar feliz é proibido?

- Não é, não é... Continue assim - Falei, um tanto desconcertado. - Só não é comum te ver desse jeito.

Ela volta a se perder na contemplação da rua, retomando a melodia baixinho. Não consigo entender o motivo de tanta alegria, especialmente com seu amigo suspenso. Será que ela está apaixonada? Isso explicaria muita coisa.

- E o seu amigo? - Perguntei, tentando parecer desinteressado.

- Qual deles? - Ela questiona, sem desviar o olhar da janela.

- O suspenso - Falei, evitando mencionar Julian pelo nome.

Ela finalmente me olha, uma expressão de curiosidade em seu rosto.

proibido se apaixonar (romance gay)Where stories live. Discover now