Alfas podem ser amigos?

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Draco sentiu o tronco cortando o ar, passando a milímetros de seu nariz, enquanto ele tombava para trás num esforço desesperado para evitar o impacto. Seus reflexos, aguçados pelo treinamento intensivo dos últimos dias, pareciam agir por conta própria, salvando-o no último instante. Ao esquivar-se, seu corpo inclinou-se perigosamente, perdendo o equilíbrio e desabando sobre o tapete de folhas outonais que forrava o chão da floresta – uma mistura macia de tons amarelos, marrons e avermelhados que amorteceu sua queda.

Ainda tentando compreender o que acontecia, Draco fixou os olhos no seu oponente. Diante dele estava um ômega furioso, de pele ligeiramente bronzeada e contornos musculosos delineados sob a vestimenta típica de um corredor. As calças justas aderiam à sua silhueta atlética, enquanto a camisa solta e leve, tingida em tons de vermelho e amarelo, ondulava ao vento. Uma pochete cinza, simples e funcional, marcava sua cintura esbelta. No entanto, o que mais chamava a atenção eram seus olhos – um verde intenso e penetrante, que ardia com uma chama de determinação, uma força que nem mesmo os óculos podiam refletir ou ocultar. Seus cabelos castanhos escuros, um tanto desalinhados, conferiam-lhe um aspecto ainda mais selvagem e indomável.

Draco, boquiaberto, mal podia acreditar no que via. Jamais imaginara um ômega exibindo tal postura desafiadora, pronto para atacar com um galho grosso sem a menor hesitação. Em sua mente, ômegas eram criaturas delicadas, dignas de proteção, como sua mãe sempre fora. Mas ali, naquele paradoxo, era ele, Draco, um alfa, quem parecia necessitar de proteção.

Os latidos incessantes dos cães ecoavam pelo ar enquanto o ômega, de olhos verdes penetrantes e óculos firmemente posicionados, encarava Draco com uma expressão de desafio. Com um movimento preciso, ele apontou a extremidade semi-afiada do tronco diretamente para o rosto de Draco.

"Mande seus cães se calarem! Não somos presas de sua caçada, alfa," exigiu o ômega, sua voz carregada de uma autoridade que fez Draco engolir em seco.

"Não estávamos caçando vocês!" respondeu Draco, apressadamente, tentando dissipar o mal-entendido. "Os cães... Eles só sentiram o cheiro de vocês, entende?"

Enquanto falava, Draco lançou um olhar ao redor e notou outro ômega caído próximo, exibindo uma expressão mista de medo e dor. "Ele está bem?" perguntou Draco, movendo-se para ajudar, mas foi prontamente impedido pelo ômega armado com o tronco.

"Isso não lhe diz respeito," interrompeu o ômega de óculos, sua postura desafiadora aumentando a irritação de Draco.

"Veja, claramente houve um equívoco aqui, e seria cortês se você me deixasse explicar," Draco replicou, erguendo-se finalmente do chão. Ele começou a tirar as folhas de suas roupas. Suas calças de corrida, agora marcadas por galhos e folhas, mostravam sinais de sua queda recente. Seus cabelos loiros estavam desordenados, e ele notou a ausência da toalha que antes pendia de seu pescoço.

"Seria cortês se você fizesse seus cães se calarem também, alfa. Como posso ouvir sua 'gloriosa' explicação?" retrucou o ômega, com um sarcasmo evidente.

Draco estava visivelmente perturbado, seus pensamentos atropelando-se em confusão. Ele sempre acreditara que ômegas deveriam ser submissos e educados, mas a figura desafiadora diante dele contradizia todas as suas concepções. Esse ômega em particular parecia desafiar cada expectativa que ele tinha sobre o comportamento típico de um ômega clássico.

Agora, de pé, Draco notou a disparidade física entre eles. O ômega era visivelmente menor que ele, tanto em altura quanto em porte. Draco, um alfa, era inegavelmente mais musculoso, uma característica comum entre os de sua classificação, mas a presença do ômega não era diminuída por isso. Ao contrário, havia algo na sua estatura menor, algo na firmeza de sua voz e na intensidade de seu olhar, que parecia desafiar as noções tradicionais de poder e presença.

A corridaWhere stories live. Discover now