Alfa não demonstra fraqueza

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Quando ele emergiu do carro, inalou profundamente o ar fresco e puro daquele refúgio arborizado. Era uma tentativa desesperada de purificar suas glândulas olfativas do odor penetrante da fumaça dos carros e do perfume sintético dos produtos de limpeza, que em vão tentavam imitar a essência da natureza. Esses aromas artificiais, misturados ao fedor pungente do lixo e ao perfume enjoativo das salas climatizadas, eram um lembrete constante da artificialidade da vida urbana. Aqui, contudo, o cheiro era autêntico, uma combinação harmoniosa de terra úmida e folhas verdes, complementada por um silêncio quase tangível.

Não que o campo estivesse completamente desprovido de som. Ao contrário, os ruídos sutis da natureza - o farfalhar das folhas, o canto distante dos pássaros - eram uma sinfonia serena em comparação ao caos sonoro da cidade: buzinas estridentes, alto-falantes de publicidade incessante, e a suposta tranquilidade de músicas lounge em lojas e elevadores.

Ali, ele sentia seus sentidos mais livres e aguçados, como se tivessem sido libertados da sobrecarga sensorial urbana - um emaranhado de estímulos visuais, sonoros e olfativos. Muitos alfas, como ele, buscavam refúgio em casas de campo, ansiando por uma conexão mais profunda com suas raízes ancestrais, um lugar onde pudessem se reconectar com sua essência mais selvagem.

E enquanto contemplava essa conexão, sentiu algo se aproximando. Seu olfato, extraordinariamente sensível, captou a presença antes mesmo de precisar se concentrar. Mas antes que pudesse investigar mais, foi interrompido.

"Draco, o que houve? Essa sua cara está longe de ser atraente... Cuidado, ou vai acabar com rugas antes da hora!" Narcisa Malfoy, sua mãe, repreendeu-o, saindo do carro. No entanto, Draco a interrompeu rapidamente.

"Espere! Não saia!" ele ordenou, encontrando o olhar confuso da ômega.

Draco mal teve chance de se justificar quando foi surpreendido por um ataque inesperado. De repente, vieram de todas as direções, emergindo das moitas densas e da floresta frondosa que ladeava a estrada de pedras. A trilha serpenteava até uma imponente mansão de estilo vitoriano, cujas torres góticas e janelas ornamentadas se erguiam majestosamente contra o céu nublado.

Os cachorros de Sirius Black, uma matilha diversificada de raças, incluindo labradores retrievers, beagles, pointers, bloodhounds e weimaraners, cercaram Draco num frenesi de entusiasmo. Cada um, com sua pelagem brilhante e olhos vivazes, parecia espelhar a personalidade descontraída e afetuosa de seu dono. Eles o derrubaram no chão de cascalho, cobrindo-o com patas pesadas e macias, enquanto latidos alegres e lambidas pegajosas demonstravam seu caloroso "bem-vindo".

"Sirius, faça alguma coisa! Não fique só aí rindo!" a voz exasperada de Narcisa Malfoy ecoou pelo ar. Draco, agora escondido sob uma montanha de pelos e focinhos curiosos, mal conseguia vê-la.

"Ora, meus filhos e filhas só queriam oferecer umas boas-vindas calorosas!" respondeu Sirius, com uma voz cheia de diversão. Draco, ainda imerso na matilha animada, percebeu a aproximação de seu primo e a risada contagiante de Sirius, que, apesar de causar um leve incômodo, também trazia um sorriso ao seu rosto.

"Sirius, francamente, seu primo vai ficar todo lambuzado e com cheiro de cachorro pelo resto do dia. Há outras maneiras de ensinar Draco a se conectar com seu alfa interior, que não envolvam ser soterrado por nossos cães," a voz de Remo Lupin soou com um tom de leve repreensão misturado com humor.

"Espera aí. Deixa eu tirar uma foto!" exclamou Sirius, claramente se entretendo com a cena.

"Sirius!" Narcisa repreendeu-o com um misto de exasperação e diversão mal disfarçada.

"Vocês realmente não sabem como aproveitar um momento desses..." Black reclamou. Em seguida, um assobio sonoro e claro cortou o ar, e os cachorros, obedecendo ao comando, afastaram-se de Draco, permitindo-lhe finalmente se levantar e tentar recuperar alguma dignidade.

A corridaWhere stories live. Discover now