Chef Chang

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Ele enxugou a testa, que estava encharcada de suor. Harry optara por sair do metrô duas estações antes de sua parada habitual para ir ao trabalho. Era um esforço consciente para se preparar para a Corrida, e já era o terceiro dia consecutivo que ele fazia isso. Sentia em cada músculo as consequências de anos de sedentarismo. Ofegante, ele entrou no restaurante chinês e foi recebido por sobrancelhas arqueadas do chef Chang.

"Isso vai se tornar um hábito, ômega?" perguntou Chang, um tom de curiosidade colorindo sua voz.

"Eu... não... me... atrasei," conseguiu dizer Harry, ofegante, apoiando-se na porta para recuperar o fôlego.

"Eu notei," ressaltou Chang, franzindo agora o cenho.

"Já estou indo me preparar para o trabalho," respondeu Harry prontamente, buscando evitar mais questionamentos por parte do seu chefe. No entanto, Chang o deteve, pressionando contra seu peito um copo de chá Oolong gelado.

"Beba isso e só depois vá se trocar. Não quero ser responsável se você desmaiar durante o expediente," resmungou Chang.

Harry agradeceu silenciosamente e bebeu o chá com avidez.

Enquanto sorvia o líquido refrescante, Harry ponderava sobre o futuro que se desenhava à sua frente. Se realmente fosse participar da Corrida, precisaria dedicar-se intensamente aos treinamentos para enfrentar os obstáculos do evento. Ansiava por vencer, por completar a terceira fase sem ser capturado por qualquer alfa. Desejava ardentemente o prêmio em dinheiro que poderia alterar o destino de Gina. Se quisesse concretizar todos esses planos, teria que fazer sacrifícios — e isso poderia envolver seu emprego no restaurante "Dragão de Jade."

"Não vou pensar nisso agora. Ainda nem me inscrevi na Corrida," pensou, afastando as preocupações por ora e redirecionando sua concentração para as tarefas imediatas do trabalho: lavar panelas e pratos sujos. De alguma forma, essa atividade também poderia ser considerada uma espécie de treinamento físico.

~**~

Durante o intervalo que deveria ser para descanso, Harry se viu inundado novamente por preocupações. Agachado no estreito beco atrás do restaurante, ele participava de uma videochamada com Ron, Fred, Jorge e Gina. Mesmo com o vento frio que anunciava a chegada do outono, sua mente fervilhava com as complexidades do futuro.

"Bom, após a inscrição, teremos cerca de três meses até a própria Corrida. É um período curto para treinar, não posso negar," observou Fred, dando voz às apreensões de Harry.

"Concordo que é um período apertado, mas não podemos esquecer que Harry tem um talento natural para esportes," interveio Ron, buscando aliviar a tensão. "Na escola, ele sempre se destacava — no rugby, no futebol e até no críquete. Lembra, Harry? Um treinador até tentou incluí-lo no time oficial, falsificando a inscrição, já que ômegas são proibidos de competir."

"Sim, eu me lembro. Mas, Ron, faz tanto tempo," respondeu Harry, nostálgico. Ele amava esportes e tentara participar de todas as equipes possíveis na escola. No entanto, por ser um ômega, sua participação era limitada. A crença predominante era que os ômegas eram frágeis e, portanto, deveriam evitar atividades físicas intensas. Harry via essa mentalidade como uma forma de confinar o potencial atlético dos ômegas exclusivamente à Corrida. Criava-se o paradoxo de que ômegas não eram aptos para esportes, mas um bom ômega era aquele que poderia correr e evadir captura — o que, ironicamente, exigia habilidades atléticas.

"Faz tanto tempo assim? Harry, você fala como se fosse um velho caquético," Jorge reclamou. "Você só tem 24 anos! Ouça você mesmo e me sinto como um ancião."

"Mesmo que Harry tenha talento, o tempo ainda é muito curto," Gina murmurou.

"Existem alguns cursos preparatórios para a Corrida. Estive pesquisando, mas são muito caros," Fred adicionou.

A corridaWhere stories live. Discover now