A virgindade

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A virgindade era altamente valorizada nessa sociedade, especialmente para um ômega. Estereótipos culturais insistiam que um ômega deveria representar certas virtudes, e a pureza estava no topo da lista. A Corrida alimentava essa percepção de alguma maneira. A fuga frenética dos ômegas dos alfas era quase como uma dança ritualística para preservar sua "virtude mais sagrada": a castidade. Claro, a ironia era que qualquer ômega que se inscrevesse para a Corrida dificilmente seria casto. No entanto, a ilusão precisava ser mantida.

Essa valorização da virgindade tinha consequências monetárias tangíveis. Muitos ômegas recorriam a leiloar sua primeira vez para alfas e até betas dispostos a pagar um preço elevado. Era uma opção economicamente viável, considerando como a sociedade frequentemente relegava os ômegas à marginalização, limitando suas oportunidades de emprego e pagando-lhes salários notoriamente mais baixos em comparação aos betas e alfas.

Embora estivesse ciente dessa triste realidade, Harry detestava a prática. Não era uma questão de ser conservador, mas de achar repugnante o nível extremo de objetificação ao qual os ômegas estavam sujeitos. A ideia de que sua primeira experiência sexual poderia ser comercializada como um bem precioso era abominável para ele, especialmente quando comparada à falta de importância atribuída a tal evento na vida de outros indivíduos. Harry sabia que os Weasley enfrentavam dificuldades financeiras, o que tornava a decisão de Gina um pouco mais compreensível em sua mente. Mesmo assim, a situação o enchia de uma mistura tóxica de raiva e repulsa.

Ele conhecia Gina. Por ambos serem ômegas, havia uma afinidade natural entre eles, um espaço seguro para trocar confidências. A ideia de que ela pudesse estar pensando em algo tão drástico sem lhe contar o perturbava profundamente. O quanto a situação financeira dos Weasleys tinha se deteriorado para chegar a esse ponto? Harry não pôde evitar sentir uma pontada de culpa; afinal, eles o tinham acolhido quando ele era apenas um órfão.

Absorto em seus pensamentos, Harry mal percebeu a dupla de adolescentes que cochichava próxima a ele enquanto viajava de metrô para a periferia de Londres ao fim do seu turno de trabalho.

"Você fala com ele," insistiu um.

"Não, você fala," retrucou o outro.

Finalmente, um dos garotos reuniu coragem e se aproximou. Harry estava tão concentrado em mensagens que enviava para Ron e Gina que só notou a presença do jovem quando o aroma o atingiu. Era um cheiro doce, rico e amadeirado, a marca distintiva de um alfa.

Inspirando profundamente e expirando longamente, ele ergueu os olhos do celular para o garoto diante dele. Não devia ter mais de 16 anos e usava o uniforme de uma escola privada da elite alfa. O que ele está fazendo aqui?, Harry pensou. Rumo à parte pobre da cidade, o metrô em que se encontrava não era frequentado pela alta sociedade. Harry tinha uma leve ideia do que poderia estar acontecendo, mas preferiu esperar para ver.

"O que você quer?" Harry foi direto ao ponto, sem ter paciência para rodeios. O odor intenso de feromônios começava a deixá-lo levemente nauseado, aumentando ainda mais sua irritação.

"Você é um ômega, está sozinho e também não usa coleira," declarou o adolescente Alfa. Harry percebeu que outro jovem, aparentemente um Alfa como o primeiro, assentia a cada palavra proferida.

"Parabéns pela perspicácia. Alfas continuam a me surpreender com suas descrições do óbvio," respondeu Harry, deslizando a mão em direção ao bolso de sua mochila.

O olhar do jovem Alfa se alterou, e o que antes era castanho agora assumia um tom avermelhado na íris. Para Harry, essa era uma das habilidades mais banais dos Alfas: a capacidade de mudar a cor da íris conforme suas emoções.

A corridaWhere stories live. Discover now