Portanto, eles se concentravam em absorver e discernir os cheiros do ambiente. "Consigo sentir o cheiro do orvalho e... ali, crisântemos a alguns metros, com seu aroma leve, ligeiramente picante, talvez até amargo. E essa fragrância mais intensa, de resina, é dos pinheiros... Harry, você percebe esse cheiro? Canela, deve haver Samambaia-canela por aqui. Também sinto Hamamelis, com seu aroma suave e distintivo, suas flores florescem no final do outono...", relatava Neville Longbottom, revelando-se um expert na identificação de odores da flora local. Harry sempre se surpreendia com o nível de detalhamento que Neville empregava em suas descrições, algo que ele próprio tendia a ignorar.

Harry, concentrado, percebeu algo além do aroma das plantas. Um odor mais intenso e almíscarado capturou sua atenção. Um cheiro terroso, amplificado pelo aroma de pelo molhado e saliva.

"Harry? O que você encontrou?" perguntou Neville, notando a mudança na expressão de seu amigo.

"Cachorros..." respondeu Harry, seus olhos verdes se alargando em alerta. "Cachorros se aproximando! Neville, precisamos correr!"

Antes que Neville pudesse questionar mais, o som de latidos ao longe rasgou o silêncio da floresta. Harry agarrou o pulso de Neville, puxando-o para se moverem rapidamente entre as árvores.

"Seriam lobos?" questionou Neville, enquanto eles avançavam a passos largos.

"Não há lobos nesta região. Mas cachorros? Isso sim seria possível... Lembre-se, os alfas gostam de caçar e frequentemente usam cachorros para isso..." explicou Harry, aumentando o ritmo da corrida.

Neville sugeriu, ainda esperançoso, "Não poderia ser alguém fazendo trilha com seu cachorro?" Mas a realidade se impôs com a crescente cacofonia de latidos, vindos de várias direções e indicando um grupo de cães, grandes e pequenos. Eles estavam, sem dúvida, em meio a uma caçada.

O coração de Harry pulsava acelerado, sua respiração tornara-se rápida e superficial. Será que essa sensação de desespero, essa perda de orientação e medo, o invadiria durante a corrida real? Não, ele se recusava a ser a presa, a sucumbir ao terror. Mas, enquanto sua mente buscava uma saída, um gemido de Neville e o som de uma queda o fizeram girar rapidamente.

Neville havia tropeçado em uma raiz proeminente, camuflada sob um tapete de folhas caídas. "Droga... Desculpe!" lamentou Neville, com uma expressão de dor.

"Não peça desculpas, já te disse!" respondeu Harry, aproximando-se para ajudá-lo. Ele percebeu o calcanhar de Neville avermelhado e inchado, um sinal claro de contusão. Correr com a mesma velocidade seria impossível agora.

"Você deveria ir... Eu só serei um estorvo...".

"Neville, cala a boca, sim?" interrompeu Harry, decidido a não abandonar o amigo, independente do perigo iminente. Ao invés disso, ele agarrou um galho firme, testando-o no ar com movimentos precisos, transformando-o em uma arma improvisada.

"Harry..." Neville sussurrou, sua voz carregada de apreensão ao observar Harry se posicionar para defendê-los. O som dos cães, agora mais próximo e ameaçador, ressoava atrás deles, transformando a atmosfera antes relaxante da floresta em uma cena digna de um filme de terror.

***

Embora ele inicialmente desdenhasse desse tipo de treinamento, era inegável que estava colhendo resultados positivos. Correr como parte de uma matilha, segundo Sirius e com o incentivo adicional de Victor, traz benefícios significativos, promovendo o desenvolvimento do senso de coletividade e liderança. No contexto dos alfas, observa-se uma dicotomia comportamental: a tendência de integrar-se harmoniosamente à matilha ou a aspiração de lutar pela posição de liderança.

A corridaWhere stories live. Discover now