Animista por excelência

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Ouvimos sua voz antes mesmo de enxergá-la.

-Vocês estão ouvindo? Ninguém está ouvindo?

Mas todos nos podíamos ouvir. O som crescente de um tum-tum-tum que batia muito alto e acelerado em compasso com um outro coração.

Clara olhou para si mesma e pôs a mão no lado direito do seu peito. Deu um longo sorriso e gritou feliz numa atitude condizente com sua pouca idade.

-Ahhhhhh, é o meu coração animista.

A sombra do grande guepardo da floresta apareceu e rodeou Clara reconhecendo-a como uma igual e se postou do lado direito dela. Um raio cortou o céu e o vento soprou novamente. O espectro corpóreo da mãe natureza  apareceu do lado esquerdo de Clara e então, todos nós entendemos o que estava acontecendo bem diante dos nossos olhos. 

A surpresa de Haram estava evidente em seus olhos espantados.

- Uma criança como animista por excelência?  – A despeito de sua expressão, a voz continuava doce e encantadora quando falou.

A energia espiritual, animal e humana se juntaram de uma só vez no corpo da Clara e ela teve alguns segundos de uma espécie de descarga elétrica, onde seu corpo primeiro estremeceu, depois levitou para finalmente pousar suavemente no chão. 

Clara ainda não tinha se dado conta de que tinha interrompido uma guerra. Ela olhou para si mesma. As manchas típicas de um felino, bem como os olhos e as presas apareceram transformando-a, a cauda era o traço mais marcante. Pouquíssimos animistas recebiam uma cauda na transformação. Era um instrumento de força raro.

Alguma coisa se abriu em sua mente infantil e num reflexo automático, Clara girou sobre si postando-se em posição de combate contra Haram. 

Ele era um mito poderoso e experiente, mas estava sem dúvidas, subestimando a escolha das forças superiores. 

Haram ficou parado esperando, mas um minuto depois, suas esferas de fogo reapareceram em suas mãos e Clara avançou sobre ele, atacando-o sem medo. Os demais animistas fizeram um cordão protetor de frente com a entrada do Vale.

Eu estava com Nando num canto escuro enquanto assistia, embasbacada, minha irmã lutar contra o maior mito que já tinha se ouvido falar. 

Ele era habilidoso e combatia como ninguém. Ela por sua vez, lutava absurdamente bem para uma criança. Aparentava ser quatro vezes mais forte que um urso, tinha a velocidade triplicada de um falcão e a agilidade em dobro de um felino.

Ao nossos olhos era uma luta desleal, já que ela era um pouco mais alta que a cintura dele. Mas não podíamos negar que suas habilidades eram compatíveis. 

Era incrível vê-la naquele momento. Não parecia nem de longe minha irmãzinha de apenas nove anos. Não. Ela tinha muito mais do que força e agilidade. Agia com a segurança de um grande guerreiro, de quem sabe o que faz.

Seus olhos refletiam a garra e perseverança de alguém que está focado em alcançar um objetivo. Todos nos esperávamos que ela conseguisse.

Não sei por quanto tempo Haram tentou inutilmente derrubá-la ou vencê-la. Houve um momento de terror quando ele a suspendeu emitindo um grito de fúria e a jogou por cima de sua cabeça. Minha respiração ficou presa na garganta. Um burburinho se espalhou e virou um grito de torcida quando ela num único gesto bateu no tronco da árvore da vida com os dois pés e voltou girando sobre o ar atingindo o pelas costas.

Ele recompunha-se rapidamente. Suas pupilas prateadas brilhavam na escuridão e dava-lhe um aspecto ainda mais sombrio e soberano. Ele atirou as bolas de fogo que incendiaram parte do aceiro onde a luta acontecida. Ninguém se interpôs entre eles porque sabíamos que era uma luta de poderes entre duas esferas inimigas que estava além de nós. 

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