A revelação

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"No instante em que é tomada uma nova decisão, entra em movimento uma nova causa, efeito,direção e destinação para a sua vida."


Cheguei ao Vale do Portal bem cedo. Levei Clara comigo e ela ficou extasiada de poder ir ao Vale por dois finais de semana seguidos. Andamos todo o percurso da mata com ela falando sem parar sobre um monte de assuntos. Era incrível como estava cada dia mais adulta para a idade dela.

Meus pais ficaram bastante surpresos com nossa chegada e só se tranquilizaram depois que lhes assegurei de que estava tudo bem. Minha mãe parecia bem recuperada e com um aspecto bem melhor desde a última visita que eu tinha feito há mais de um mês atrás e logo se envolveu nos assuntos intermináveis de Clara.

Meu pai, bem mais observador, notou que havia um ligeiro nervosismo por trás do meu rosto casual, assim arrumou uma forma sutil de me tirar de casa sem que minha mãe e Clara pudessem nos acompanhar.

-Pensei que você e eu pudéssemos colher algumas frutas frescas no Grande Pomar pra gente poder fazer uma refeição digna de uma família que não se reúne para comer juntos há um bom tempo. – Ele sugeriu e já acrescentando para Clara – E você poderia ajudar a mamãe na cozinha enquanto Halina e eu buscamos as frutas.

- É melhor eu ir com o senhor e a Halina ajudar a mamãe. Ela é a mais velha e sabe cozinhar. – Clara objetou como era esperado.

-Vamos como animistas para chegarmos mais rápidos. – Meu pai era muito bom em impor sua vontade sem ser grosseiro ou arbitrário.

-Mas eu... - Ela ainda tentou, mas meu pai foi firme. 

-Está decidido.

Clara cruzou os braços em claro desacordo com a decisão do meu pai e todos nós rimos dela. 

-Quando eu for animista quero ser um guepardo, porque ele é o animal mais veloz do mundo, dai eu vou ganhar de vocês dois. 

-Você já mudou seu animal uma centena de vezes... Não dá pra ser tudo de uma vez. – Minha mãe se divertia com a imaginação de Clara.

-Não se pode escolher, se é que você esqueceu – Eu a lembrei de que era a força animal que nos escolhia e não o contrário.

Meu pai e eu saímos e já na rua ele passou os braços protetoramente sobre meus ombros e começamos a caminhar rumo ao Grande Pomar que era uma área a se perder de vista que reunia milhares de árvores frutíferas de todas as espécies para o consumo livre e farto de toda a população do Vale.

Era um lugar lindo e bem cuidado cheio de passarinhos que vinham se alimentar das frutas silvestres e faziam seus ninhos nas enormes copas. Havia muitos animistas que trabalhavam para manter o Grande Pomar sempre saudável. Pessoas vinham das áreas mais distantes colher todo tipo de frutas para fazerem suas receitas e sucos.

Quando estávamos a certa distância de casa ele foi direto ao assunto me perguntando se estava acontecendo alguma coisa e embora estivesse ali justamente para aquilo às palavras me fugiram. Diante do meu silêncio ele parou de frente comigo e insistiu:

-Quero saber o que está te afligindo Halina.

Eu olhei para ele sem saber por onde começar e vi uma ruga de preocupação nascer em sua testa. Meu pai era a pessoa que me conhecia mais do que qualquer outra, e sabia que a falta de palavras não me era nada comum.

Inspirei profundamente, limpei a garganta e tentei começar.

-Pai, bem, não é nada grave... Quer dizer... eu acho que não é...Eu ... 

A AnimistaWhere stories live. Discover now