O pedido

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-Que foi? – Eu tive que perguntar enquanto ele estreitava os olhos perdidos em algum pensamento do passado.

-Estranho, mas... - E parou de falar novamente tentando se lembrar de alguma coisa.

-Fala – Eu insisti já ficando apreensiva com o suspense do momento.

-Quando você me chamou de Nando. Nossa... Me dei conta de que você nunca tinha pronunciado meu nome antes – E inclinando ligeiramente a cabeça, ficou tentando se lembrar de alguma outra situação em que eu tinha pronunciado seu nome – -Não, você realmente nunca disse meu nome em nenhum outro momento antes – Ele parecia pasmo que isso nunca tivesse acontecido e mais, que ele nunca tivesse percebido.

-Bom, acho que eu nunca falei mesmo. -Concordei porque também não me lembrava de algum dia tê-lo chamado pelo nome.

-E como pode? Quero dizer, estamos em contato há mais de um mês, e passando tardes inteiras juntos. Já conversamos sobre tantas coisas... mas, nunca falou meu nome em nenhuma dessas conversas.

Ele estava tão perplexo que acabei por rir de sua fisionomia. Ele riu também, um riso meio fungado.

-Ora, como podia te chamar pelo nome, ou pelo apelido se na verdade nunca sequer se apresentou pra mim? –Brinquei com ele, mas era verdade. 

Desde o primeiro encontro na trombada que tivemos na Árvore da Vida, até hoje ali na casa que ele tinha acabado de comprar, ele nunca tinha me dito o nome dele.

Eu sabia por que a Tina tinha me falado, mas nunca ele.

Ele cruzou os braços ainda buscando mentalmente alguma imagem que ele pudesse se lembrar de ter me dito seu nome, mas como nunca o tinha feito, é claro que não conseguiu achar nenhuma.

Colocou a cabeça pra traz e riu alto, aquela risada que eu já adorava.

- E posso saber como é que sabe meu nome, se eu nunca te falei? –Ele me desafiou divertido.

-Tenho minhas fontes – Eu impliquei com ele, usando uma frase que já tinha sido dele e invertendo agora nossos papéis.

-Ok – Ele se endireitou numa formalidade exagerada- Nunca é tarde para se fazer.

E esforçando-se para ficar sério, como a ocasião pediria se fosse realmente a primeira vez que estivéssemos nos vendo, esticou a mão num cumprimento formal. Entrando na brincadeira eu aceitei seu cumprimento e o ouvi atentamente achando tudo muito engraçado.

-Muito prazer, Halina. - Ele começou a apresentação - Eu sou o Fernando de Luca Cardinale, brasileiro, paulista, biólogo, ou melhor, pesquisador e agora...

A interrupção da frase poderia ter me avisado de que viria algo que eu não estava esperando, mas foi à mudança repentina na expressão do seu rosto que me tirou do clima da brincadeira e fez com que todo o meu corpo reagisse instantaneamente.

Ele diminuiu a curta distância que nos separava e terminou a frase quase no mesmo momento em que passou ambas as mãos pela minha cintura e me puxou para si.

-... namorado da Halina. – Concluiu baixando a cabeça e finalmente me dando o beijo que eu tanto tinha esperado.

Nem todos os romances que eu havia lido e que tantas vezes me fizeram sonhar acordada, me prepararam para aquele momento ou para aquela sensação que me tomou. A boca dele era quente, úmida e beijava deliciosamente bem. Não sei explicar com a verdade que a ocasião merece, mas só sei que minha mente saiu da razão e eu correspondi com tudo que eu tinha e podia. 

Ele tinha a boca mais macia e o hálito mais gostoso que eu já tinha sentido. Nossas vontades explodiram com o toque dos nossos lábios e o beijo se prolongou mais e mais sem que nenhum de nós fossemos capazes de terminá-lo. A forma que ele colava o meu corpo ao seu me dizia o tanto que eu conseguia mexer com ele e isso me deixou muito feliz porque finalmente tive certeza de que não era a única que não conseguia manter o controle ali.

A AnimistaWhere stories live. Discover now