Os mitos

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"Na natureza, nada está sempre certo. Contudo, se tudo está indo bem... alguma coisa está errada." (Joseph Murphy)


Depois do que pareceu uma eternidade finalmente chegou o grande dia. Estava tudo acertado. Luisa viria buscar a Clara no reforço. Graças a Deus terminaria em duas semanas e não precisaria mais nos preocupar com isso. Eu iria direto para o ambiente de pesquisa. Chegaria ao cair da noite no mais tardar.

Na última aula, Lilian e Ana, duas colegas de classe que quase não falavam comigo vieram me perguntar sobre meu namorado. Fiquei realmente irritada com aquilo. A última coisa que eu queria agora era uma fofoca sobre a minha vida pessoal.

-Somos apenas amigos – Falei para desconversar e não dei nenhuma chance para outras perguntas. 

Elas se entreolharam e falaram num tom casual, mas bastante audível pra mim.

- Então ainda podemos ter chances. – E saíram com olhar malicioso.

Isso realmente me enfureceu. Sei que não tinha nenhum direito ou privilégios sobre ele, mas não queria ter que compartilhar de uma atenção que eu estava conquistando ainda.

E eu conhecia bem aquelas garotas, elas disponibilizavam armas das quais eu nunca faria uso para conquistar alguém. Não era meu perfil ser sensual. Teria que nascer de novo para ser provocante. Talvez fosse melhor evitar que o Nando viesse me esperar na frente da escola futuramente. Pelo menos até o alvoroço sobre ele baixar um pouco.

Peguei um atalho até a margem do rio Negro e Solimões que me levaria facilmente ao descampado de flores e trepadeiras silvestres. Era um lugar lindo para se ver. Uma natureza bem selvagem e intocada que se desenhava artisticamente por si só. Nando devia ter explorado muito bem toda a área, porque era sem dúvida uma das partes onde podia se encontrar um número considerável de exemplares raros.

Mas precisava realmente ter um bom conhecimento sobre o assunto. Porque as ramificações muitas vezes nos confundiam e o que parecia ser raro podia ser nada mais do que simples mato sem nenhum valor.

Fiz uso da minha velocidade leonina, não só pela ansiedade de chegar, como para sentir um pouco a agradável sensação animal que se desprendia naturalmente de mim quando estava na floresta. Próximo do local combinado diminui e arrumei o cabelo.

Tinha trocado o uniforme por uma roupa mais adequada. Uma blusinha de malha bege de alças largas que não me impediria os movimentos e uma calça esportista marrom de tecido leve com tênis de caminhada bastante confortável.

Não que eu me machucaria, ou me arranharia ou teria os pés feridos por andar ali. A floresta não me atingia em nada. Mas se não o fizesse, tenho certeza de que Nando não aprovaria.

Alguns minutos mais tarde ele chegou. Tinha uma mochila imensa nas costas com tudo que poderia precisar. De óculos escuros e roupas apropriadas se aproximou colocando a mochila no chão e me oferecendo Coca-Cola.

-Você nunca toma água? – Impliquei com o mau hábito dele de matar a sede sempre com Coca-Cola.

-Tomo água sempre que não tenho uma Coca na mão – Respondeu naturalmente, sem se abalar com a sutil crítica que estava nas entrelinhas da minha pergunta.

-Vai ter problemas nos rins ou qualquer coisa do tipo.

-Não vou não. Sou forte. – Brincou – Chega de conversa mocinha e me mostre toda sua habilidade com as plantas.

- Bom, eu pensei em começarmos mais próximo da margem aonde uma vez eu encontrei algumas ervas medicinais que eu nem sabia que existia.

-E se não sabia que existia como podia ter certeza que eram medicinais?

A AnimistaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora