A batalha

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"Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer"

(Mahatma Gandhi) 

Já era bem tarde quando Nando pegou a moto, eu coloquei a mochila nas costas e nos colocamos a caminho da república. Quando estávamos quase chegando senti o cheiro de fumaça no ar e conforme avançávamos para mais próximo a névoa ofuscava nossas vistas.

Meus sentidos ficaram em alerta e eu soube que tinha alguma coisa errada. Tirei o capacete para que meus olhos pudessem averiguar tudo ao meu redor. 

-Nando, para a moto. - Eu pedi assim que entendi que tínhamos problemas mais adiante. 

Mas Nando foi rápido em perceber o que estava acontecendo e acelerou ainda mais.

Minha forma animista veio sem que eu pudesse reprimi-la e isso me preocupou, pois significava que o perigo estava muito perto.

Ao entrarmos na rua de acesso da Casa, Nando freou bruscamente fazendo a moto derrapar, e antes que ele pudesse fazer com que ela parasse de vez, eu saltei do banco de traz caindo em pé cerca de três metros adiante dele.

Agora eu podia ver claramente o que tinha feito com que ele brecasse. Um paredão de mitos estavam se materializando e fechavam o acesso a casa. Pareciam estar esperando por nós. Sai em disparada de encontro a eles. Eu iria passar e nada ia me impedir diante da fúria e do pavor que eu estava sentindo em pensar no que poderia ter acontecido na minha ausência.

Minha força atirou dois deles a longa distância e eu fui abrindo caminho, tirando quantos mais eu podia da minha frente. Ouvi o barulho da moto bem perto e logo Nando tinha se emparelhado comigo. Íamos na mesma velocidade. Ele me ajudando a abrir o caminho até a Casa Colonial.

O portão do jardim estava arrancado indicando um confronto recente e ao longe eu via os sinais de um incêndio propagador no centro da floresta, possivelmente nas proximidades da Árvore da Vida.

Eu adentrei a casa que estava completamente vazia e destruída. Não tinha nada inteiro em nem um cômodo sequer. Sai gritando por Tina, Artemus, Luisa...chamei por todos. Nando subiu as escadas correndo e em poucos minutos estava descendo como um jato.

-Não tem ninguém aqui.

E antes que eu pudesse pensar em dizer algo ele já tinha disparado para fora e descia numa velocidade campeã todo o quintal que levava a floresta. Um gelo na espinha me avisou das intenções dele. Estava correndo para o perigo. De encontro a ele. Queria a maldita glândula de ônix.

Meu atordoamento com a atitude dele durou apenas alguns segundos. Eu tinha que pará-lo. Seria morto se tentasse chegar perto de Haram sem proteção. Usei toda minha habilidade para alcançá-lo, mas a vontade dele de não perder o que seria talvez a única oportunidade de ter a ônix nas mãos o fez tão veloz quanto corajoso e em questão de segundos tinha se perdido noite a dentro na mata.

O fogo se alastrava pela floresta fazendo um círculo luminoso a nossa volta. Eu o gritava mas era impossível que me ouvisse. No meio do caminho, corpos de mitos abatidos já secavam pelo chão num processo adiantado pelo calor do fogaréu.

Sons de uivos, rugidos e silvos se misturavam deixando o ambiente apavorante, mas nem isso o fez parar. De repente estávamos bem no meio do combate. Ele parou diante da cena. A comunidade estava aberta. Mitos e animistas embolados uns aos outros numa batalha sangrenta.

Olhei a minha volta para reconhecer as pessoas. Tina, Artemus, Joca, Domenico espalhados entre tantos outros rostos conhecidos. Meu pai lutava ferozmente. Os mitos eram fortes e habilidosos. Podiam deixar um ser humano comum em pedaços facilmente. Conosco era mais difícil, mas não impossível. Podia ver pessoas gravemente feridas ao redor.

A AnimistaWhere stories live. Discover now