A ESTRADA NOVA

24 1 0
                                    

   A ESTRADA NOVA

Faltavam 30 km para seu destino. A tarde ia avançada, mas ele não tinha pressa, amava as estradas. Vivia sua vida nelas como vendedor itinerante. Sempre que podia testava novas rotas para as inúmeras cidades que visitava, curtia as paisagens, as pousadas, os restaurantes nos postos de gasolina.

A placa indicando saída a 1 km deixou-o meio atarantado. Afinal, fizera esse roteiro muitas vezes antes e a estrada que percorria passava ao lado da cidade. E ainda faltavam 30 km! Devia ser um novo acesso, do qual não tivera notícia antes. Bem... mais uma oportunidade de conhecer alternativas e, sem hesitar, ingressou na nova pista.

A estrada era um tapete, quase reta, e no sol do final da tarde os campos laterais brilhavam num verde sem máculas.

Após alguns quilômetros notou não ter se deparado com nenhuma construção, marginal ou distante. Só campos verdes. Estranhou quando depois de rodar 30 km não viu sinal de atividade, habitação, comércio, qualquer coisa obrigatória nas imediações das cidades.

Começava a escurecer e ansiava por chegar ao destino, pois tinha pouco combustível. Mas não havia saídas, nenhuma placa, a cidade não chegava e já estava com fome.

Assustou-se ao constatar que andara 40 quilômetros, muito além da meta prevista, e o marcador já estava chegando na reserva.

A noite estava fechada, ele já se desligara das distâncias. Em seu desassossego, preocupava-se só com o marcador de combustível. Enfim, a pane seca.

O que fazer? Dormir no carro, esperar até no dia seguinte alguém passar para pedir socorro? Depois lembrou-se que em todo o trajeto não cruzara com vivalma. Sair caminhando na noite, com a mala na mão, sem saber onde estava e aonde chegaria?

Decidiu dormir no carro. No dia seguinte, veria o que fazer. A fome já incomodava, pensou que no futuro deveria se precaver contra esses acasos.

Apesar da angústia, acabou dormindo e acordou com o sol despontando.

Decidiu não carregar a mala, por isso deixou-a no porta malas, trancou o carro e encarou a estrada. Mas uma circunstância o perturbava desde o dia anterior e, ao refletir sobre ela, sua inquietação se transformou num sentimento misto de perplexidade, alarma e pavor. Desde que entrara nessa pista, e ao longo de mais de 50 quilômetros, a paisagem não mudara, não cruzara com ninguém, nenhum veículo, não vira uma casa, animal ou árvore na beira na pista. Nem sequer uma placa de sinalização. Apenas o interminável campo raso, verde. Isso é loucura, nada pode ser assim! E se tudo continuasse da mesma forma, não importando quanto ele caminhasse? É um pensamento insano, mas... Depois de 50 km, quanto mais teria que andar até a salvação? A pé ele não aguentaria muito, não estava preparado. E com fome!

Depois de algumas horas, exausto, desistiu.

Foi encontrado morto, sentado sob um barranco, numa estradinha de terra que levava a uma lagoa nas proximidades. Pelos documentos, descobriram ser o motorista do carro abandonado alguns quilômetros antes.

---

OS VULTOS (contos)Where stories live. Discover now