De Dentro Da Escuridão

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Eu não sabia o quão longe podia chegar na minha própria escuridão.

Era como um poço de sombras e eu estava em queda livre dentro dele.

Sempre que eu achava que estava chegando no fundo.

Acabava encontrando mais sombras, mais escuridão e mais de tudo aquilo que eu era.

E quando finalmente depois de uma semana eu abri a porta do quarto, após um longo banho que tirou os resquícios de sangue das minhas unhas e lavou minha alma sombria...

Ninguém estava preparado para o que podia acontecer.

– Bom dia – Izana me dirigiu o cumprimento.

Ele estava sentado na mesa da cozinha com uma xícara de café na sua frente, Kakucho ao lado tomava algo que parecia ser chá preto, me sentei em outra cadeira e suspirei observando as comidas sobre a mesa.

– Quer que faça algo em especial? – Kakucho perguntou e eu o observei sendo gentil comigo e engoli em seco a bola de mágoa que se instalava em minha garganta.

– Não precisa – Foi o que eu disse.

Eu só conseguia pensar que tinha coisas pra resolver e não sabia mal por onde começar, precisava organizar minhas ideias, colocar meus pensamentos no lugar, ver as variáveis e criar planos de contingência pra cada uma delas, até as mais absurdas, pra que nada como aquilo acontecesse de novo.

– Tem uma moto sobrando? Preciso ir em um lugar – Pedi a Izana, ele me analisou alguns segundos e enfiou a mão no bolso, tirando de lá uma chave.

– Pode usar, mas se for sair, use o uniforme que Kakucho te deu.

Apenas assenti me levantando sem nem ter tocado nas comidas na mesa, Kakucho teria que me desculpar por pular seu maravilhoso café da manhã, mas minha mente estava um turbilhão e eu precisava de algo que acalmasse.

Saindo da casa dei de cara com os Haitanis entrando.

– Finalmente vejo seu belo rosto, Saiko – Ran sorriu e eu ergui o cenho, talvez eles pudessem me ajudar – Já vi esse olhar em algum lugar... O que você precisa minha Dama?

Mordi o interior da boca pensativa.

– De um traficante, um muito bom, e também de alguém que possa descobrir algumas coisas pra mim.

O mais alto sorriu e direcionou o olhar ao irmão que tinha os braços cruzados.

– Conheço uma pessoa que é tudo que você precisa, vou mandar mensagem pra ele, o encontre na estação de Shinjuku.

– Quem eu devo procurar?

Os irmãos sorriram.

– Ele vai te encontrar.

Assim eles saíram sem me dar mais explicações e eu tive que aceitar aquilo, até por que não queria ir até Kamagasaki buscar por um traficante no meio daquela favela.

Mas antes de sair voltei ao quarto para buscar o uniforme vermelho da Tenjiku, o vesti e senti que faltava alguma coisa.

Abri o closet e encontrei saltos altos pretos, mordi a boca e soltei um suspiro, peguei os saltos e os coloquei.

Sai novamente e vi Izana e Kakucho me observando quando passei com os saltos estalando no chão.

Peguei a moto de Izana e dirigi rapidamente até a estação de Shinjuku onde centenas de pessoas entravam e saíam, fiquei em frente a entrada principal observando os arredores, buscando alguém de uniforme vermelho.

Mas curiosamente, o rapaz que me chamou atenção usava uniforme da Toman.

Ele sinalizou pra mim, uma máscara cobria seu rosto, segui pra onde ele ia e ele entrou em um depósito.

Entrei em seguida e o garoto estava de braços cruzados.

– Me disseram que queria falar comigo.

– Bom, eu pedi um traficante, e alguém que possa descobrir umas coisas pra mim, me mandaram você.

– Que doce você tá querendo? – Ele enfiou as mãos nos bolsos, deixando alguns fios do cabelo branco caírem no rosto.

– Coca – Sussurrei e ele pareceu sorrir por debaixo da máscara, pude notar ele mexer uma das mãos no bolso.

– Quanto?

– Quanto você tem?

– Uns 15 pinos.

– Quero tudo.

Ele arregalou levemente os olhos e eu me mantive em silêncio.

Então ele tirou a mão do bolso e me entregou os pinos, enfiei eles em um bolso e do outro tirei um maço de dinheiro.

– Considere o pagamento e um adiantamento pra uma coisa que preciso que descubra – Enteguei a ele que passou o dedo nas notas e em seguida voltou a me olhar.

– Do que precisa?

– Quero que descubra cada mínimo detalhe da vida de Shuji Hanma.

Novamente notei ele sorrir debaixo da máscara.

– Tudo mesmo?

– Tudo. Des do dia em que nasceu. Onde ele vai, onde ele come, onde mora, todos os membros da família dele, lugares que ele estudou, todos que ele já teve contato – Me aproximei – Se ele trocar mais que duas palavras com alguém na rua, eu quero saber, se ele entrar em um lugar diferente, eu quero saber... E vou te pagar muito bem por isso.

– Considere feito... Dama de Vermelho.

Ele então apenas saiu do local, eu soltei um longo suspiro e peguei um dos pinos de cocaína e abri.

Estiquei a mão esquerda e coloquei a quantidade exata do pó sobre o osso do dedão.

Poucas pessoas sabiam disso, mas se você esticasse os dedos da mão de determinada maneira, um pequeno ossinho ficaria sobressaltado entre os demais, e colocando o pó ali, você tinha a quantidade exata de uma grama.

Observei aquilo e antes que pudesse mudar de ideia levei a mão ao nariz e respirei fundo, fazendo todo o pó entrar por um dos lados do nariz.

Joguei a cabeça pra trás com a sensação ardente e em poucos segundos minha mente estava clara.

Fiz o processo sobre a mão esquerda de novo, agora levando a mão ao outro lado do nariz, repeti o ato e finalmente pude acalmar o turbilhão que havia dentro de mim.

Estava claro o que eu precisava fazer agora, e esperava breves respostas do rapaz que havia contratado os serviços.

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