Verdade

325 32 0
                                    

Quando eles viraram de costas, me esgueirei pra fora do lugar e corri pelas ruas até que chegasse a um parque.

Um lado meu dizia que eu tinha que fazer aquilo por que se não machucariam Kazutora, outro lado meu se quebrava sempre que eu mentia pra eles.

Eu estava em constante guerra entre meus dois lados, e isso estava começando a me fazer mal.

E eu sabia que machucaria alguém em algum momento.

*****

A semana se passou rápida.

De manhã eu ouvia os meninos da Toman no colégio e perguntava vagamente para Hina e Emma sobre a gangue.

A tarde eu seguia o grupo para o templo Musashi e observava seus treinos, os membros mais fortes e mais fracos.

A noite eu relatava tudo a Hanma.

Kazutora havia ficado praticamente sumido essa semana, nas palavras dele, focado na briga contra a Toman e isso me trazia uma ansiedade horrível.

Eu precisava trair as únicas pessoas que haviam me tratado bem na minha vida, se não, Kazutora iria morrer.

E o pior de tudo era não conseguir bolar um único e maldito plano. Minha mente parecia travada, em pane por conta de tudo que estava acontecendo.

Na noite de sexta-feira, um dia antes da luta, eu me encontrava no parque para o qual sempre fugia, estava encostada em uma árvore olhando para o nada, de verdade eu não estava olhando, minha mente estava em outro lugar.

– Oi moça, você tá bem? – Um garotinho parou ao meu lado, ele tinha cabelo escuro e pele clara, tinha a impressão de já tê-lo visto mas não lembrava de onde.

– Tudo sim garoto – Dei um meio sorriso – Só problemas de adulto.

– Mas você não parece adulta, acho que tem a idade da minha irmã – Ele se sentou do meu lado e eu franzi o cenho – Quando ela tá triste, eu sento do lado dela e escuto ela falar dos problemas, por mais que eu não entenda deles, mas ela se sente melhor, então, se você quiser falar, eu posso te ouvir.

Suspirei.

Quais as chances de eu encontrar esse pirralho de novo?

– Sabe, pra começar a te explicar, eu teria que dizer que sou doente, tenho um problema na cabeça.

– Você vai morrer?!

– Não – Sorri – Não muito cedo, mas esse problema me faz ter um lado ruim dentro de mim, que não se importa com ninguém, e esse lado está sempre em conflito com uma parte boa que se importa demais.

– Acho que entendi, é tipo como se tivesse duas de você? – Ele olhava curioso.

– Mais ou menos, o nome de verdade é Transtorno de Personalidade Antissocial, e me faz não me importar com coisas que deveriam ser importantes e ter pensamentos muito ruins.

– Hmmm, e é por isso que você tá triste?

– Não... É por que... Eu tenho uma pessoa, que eu amo muito, com todo o coração, e ele me pediu pra ajudar ele a derrubar umas pessoas que ele odeia – Apertei as pernas contra o peito – O que aconteceu é que agora eu me importo com essas pessoas, então o meu lado bom diz que eu devia contar a verdade pra eles, e meu lado ruim diz que eu devo continuar assim, por que se não trair a confiança deles... Pessoas más vão matar a pessoa que eu amo.

– Nossa – Ele disse depois de alguns segundos de silêncio – Você tá bem enrolada.

Soltei um riso analasado.

– Pois é.

– E o que vai fazer?

– Eu ainda não sei, a briga deles é amanhã e tenho medo de machucar essas pessoas que acabei de conhecer, assim como tenho medo de perder a pessoa que eu amo... Tenho sentido muito medo ultimamente.

– Briga amanhã? Você quer dizer a briga da Toman e da Valhalla?

Arregalei os olhos pra ele.

– Você conhece eles?

– Conheço...

– Por favor, não pode contar nada, não até eu resolver isso!

– Tá tudo bem, eu sei que você vai dar um jeito, não vou dizer nada.

– Obrigada – Suspirei – Espero que esteja certo, se não vou ter problemas amanhã.

Minutos depois o garoto foi embora e eu me sentia um pouco mais leve de ter desabafado, mesmo que fosse com um garotinho, então me levantei e fui pra casa descansar.

Eu obviamente não consegui dormir naquela noite, milhares de ideias, planos, variáveis, suposições, todos rodavam minha mente como um filme.

Mas nenhuma era boa o suficiente.

Eu sempre me considerei uma pessoa egocêntrica, sempre me achei muito boa no que fazia, mas agora, por um momento questionei minhas capacidades.

Eu não sabia se seria capaz de salvar a todos.

Psico Love - Tokyo RevengersWhere stories live. Discover now