Capítulo 37

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Maratona 5/10

ANAHÍ

Me olho no espelho e fico por um tempo parada encarando meu reflexo, já nem sei mais quem eu sou, não me reconheço. Horas atrás a mulher que me encarava de volta brilhava mais que o sol, tinha luz própria e emanava felicidade. Já essa que me olha agora, está com olheiras enormes e com os olhos sem vida, é de dar pena. Ninguém diria que pudessem ser a mesma pessoa, e não são.
Não suporto me olhar por muito tempo, ver o estrago de dentro emergindo pelos meus olhos é demais até pra mim.

Visto o roupão, saio do banheiro me jogo na cama e não sei dizer por quanto tempo fico ali na mesma posição até o cansaço me tomar de vez e apagar completamente.
Nada de sonhos.
Apenas escuridão e vazio, nada diferente de como estou por dentro neste momento.
Melhor assim.

ALFONSO

Depois de me enfiar comida até não poder mais, minha mãe me convida para dormir no meu antigo quarto, estou tão exausto que nem me dou ao trabalho de debater. Apenas lhe dou um beijo na cabeça e vou para meu quarto, crio coragem apenas para um banho rápido e me atiro na cama, apagando em poucos minutos, mas meu último pensamento antes de cair no inconsciente você ja sabe. Ela. Sempre ela.

ANAHÍ

Quando acordo o quarto está completamente escuro. Minha cabeça lateja e meu corpo inteiro protesta quando me levanto da cama. Minha garganta está seca, abro a porta do quarto e a luz do corredor faz minha cabeça fisgar outra vez. Caminho até a sala e May está no sofá com o computador no colo, passo direto indo em direção a cozinha, pego um copo d'água e bebo enquanto tento assimilar tudo o que aconteceu, o vazio no meu peito está insuportável e a dor de ter brigado com a minha irmã corroe meu interior.
Fizemos um juramento que nunca brigaríamos ou que ficaríamos sem nos falar. E eu quebrei essa promessa, tudo bem que ela colaborou pra isso. Mas eu a quebrei.
Em tão poucas horas rompi com as duas pessoas mais importantes da minha vida.. Infelizmente o Alfonso é um caso sem volta, só em pensar nele meu estômago revira e sinto a bile subindo pela minha garganta, como ele pôde ser tão canalha comigo?
Balanço a cabeça afastando ele da minha mente, não quero pensar mais nisso, pelo menos não agora, vou ter tempo suficiente pra sofrer por ele nos próximos dias.
Suspiro e volto pra sala, caminho até o sofá e me sento ao lado de May..

- Irmã.. — a chamo e minha voz sai completamente rouca. Limpo a garganta.

- Hum? — May responde olhando para a tela e digitando sem parar.

- Tem um minuto?

- Pra quê? Por acaso esqueceu de me xingar de alguma coisa, mais cedo? — ela me fita com o olhar triste e sinto meus olhos queimarem.

- Me perdoa?.. — minha voz sai embargada, sem conseguir controlar as lágrimas que já escorrem descontroladamente pelo meu rosto.

Ela suspira e me puxa para um abraço apertado, enquanto acaricia meus cabelos e eu molho sua blusa.

- Ounn Annie, eu não suporto te ver chorar.. — ela sussurra me abraçando mais forte. — Mas talvez seja o que irá te ajudar agora.. Então chora, coloca pra fora o que está te fazendo mal irmã, eu estou aqui com você. Sempre vou estar.

E então a comporta se abre e eu choro toda a dor, raiva, magoa, decepção e desgosto. Eu tinha planejado estar com ele aqui agora oficializando que estávamos juntos e comemorando com nossos amigos. Mas a vida te da uma rasteira quando você menos espera e te faz cair na realidade outra vez.
Cada um tem seu karma, o meu é: Sofrer por amar Alfonso.
Muito tempo depois, meu pranto cessa e me sinto muito agradecida por May não me perguntar nada. Ela apenas me abraça forte, deixa um beijo estalado na minha cabeça e se levanta.

Casa comigo, Hoje?  AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora