capítulo seis

17 4 0
                                    

Sophia Adams.

- O jantar está pronto! - Minha mãe gritou lá da cozinha.

       Nos levantamos em sincronia, nossos olhares se encontraram por alguns segundos, mas rapidamente se desviaram.

       Fomos até a cozinha e todos já estavam sentados em seus lugares postos à mesa, nos olhando com uma certa curiosidade.

       Noah, já foi logo se sentando ao lado do meu pai e, para o meu azar, a única cadeira disponível era ao lado do loiro.

       Me sentei na cadeira, dando de ombros para a companhia do meu lado e foquei na missão mais importante: colocar a minha comida no prato.

       Peguei um pedaço de lasanha e, logo após, um de empada. Estava montando o meu prato gradualmente, quando vejo o prato do Noah cheio, parecia uma paleta de cores, pois havia pego um pouco de cada coisa. 

- Ninguém resiste aos meus dotes de master chef. - Meu avô brincou ao olhar para o prato cheio de Noah, arrancando a gargalhada de todo mundo.

       William, por volta de seus 25 anos, concluiu a faculdade de gastronomia, abriu um bar e conseguiu faturar bastante com seus pratos originais e gostosos.

       Porém, fechou quando um mala sem alça espalhou por toda a cidade que o restaurante estava infestado de ratos e baratas.

       Envolveu a justiça e tudo mais um pouco. Mesmo comprovando ao juiz que o restaurante era higienizado e ganhando a audiência, meu avô perdeu o interesse de continuar com o restaurante.

       Hoje em dia, ele ainda é o dono do espaço, no entanto, o mantém fechado.

- Diga, Noah. Como estão seus pais? - Meu pai pergunta. A atenção de todos, exceto a minha, se direciona ao loiro.

- Eles estão bem, ainda passam meses fora de casa, por conta das viagens de trabalho. - Ele respondeu e todos se calaram. Noah, ao ver o baita clima que acabou causando, pigarreou. - Mas eu não podia estar mais feliz, já que tenho a casa toda só para mim, certo, pessoal?

- Você tem sorte! meus pais vivem na minha cola, igualzinho a chiclete. - Me intrometi no assunto intencionalmente, para ajudá-lo a deixar o clima descontraído.

       O loiro me olhou, e dessa vez, com um sorriso fraco nos lábios, aliviado. Entendi aquele gesto como um sinal de gratidão. Até que ele era decente o suficiente para agradecer.

       Noah Campbell, um cara reservado, sério, mas ao mesmo tempo, o palhaço da turma. Quando o conheci na primeira vez no parquinho, discutimos pelo balanço, eu dei um cascudo nele e ele foi chorando para casa.

       Depois desse dia, descobri que ele morava praticamente do lado da casa dos meus avós, eu só não o via com frequência, pois, ele sempre estava viajando com os seus pais.

       O tempo passou, e nossos encontros viraram rotina. Até que um dia, minha avó explicou que os pais dele simplesmente começaram a viajar sozinhos e o deixavam com uma babá.

       A partir daí, ele nunca mais teve a devida atenção dos seus pais biológicos, mas graças aos meus avós, que resolveram adota-lo como neto, ele nunca se sentiu completamente sozinho.

       Sempre achei triste o fato dele não ter tido o amor por inteiro dos pais, ao ponto de achar isso em outras pessoas, mas também, é louvável a forma com que ele lidou ainda pequeno e lida até hoje com a ausência deles.

- Nem vem, que não ficamos no seu pé não! - Minha mãe protesta e o meu pai a apoia.

- Não, só ficam me ligando direto para saber onde eu estou e com quem. Só falta pedir a localização. - Comentei brincando e eles levaram na esportiva.

- Ei, nem começa! Isso é coisa da sua mãe.

       O caos se instalou entre nós. As gargalhadas eram tão gostosas de se ouvir, e o assunto estava tão interessante, que me esqueci completamente do meu ódio pelo Noah. Ele era legal quando queria.

       Noah e eu, fizemos questão de lavar a louça, enquanto meus avós e meus pais subiram para os seus quartos, nos deixando a sós.

       Enquanto ele lavava, eu enxugava e guardava os pratos. Estávamos trabalhando tão bem em conjunto, que se a Kathe chegasse aqui, iria perguntar se estávamos conscientes.

       Me assusto quando o loiro se desespera e o jato de água vai em direção a sua camisa. A rosca da torneira saiu, impossibilitando reduzir a quantidade de água.

- Calma! Eu vou tentar colocar de volta. - Uma, duas e três tentativas falhas de colocar a rosca novamente. Apenas na quarta vez, por um milagre, consegui encaixar e desligar a torneira.

       Olhei para a sua camisa polo, depois para o seu rosto. Ele estava abismado e encharcado. Não consegui conter a risada e gargalhei.

- É assim então?

       Sou pega de surpresa com um jato de água no meu rosto. Enquanto ele ria, eu fechava a cara, mas não consegui me manter bicuda e ri junto.

- Sempre tem que envolver alguém nas tuas palhaçadas. - Falei rindo, enquanto usava as minhas mãos para tirar o excesso de água das minhas pálpebras.

- Até que você não é tão frescurenta, Adams. - Ele diz, e eu sorrio.

- Para! O frescurento aqui é você. - Falei, e dei uma cotovelada leve no seu braço.

- Nunca. Não sou princesinha igual a você. - Ele retribui a cotovelada e eu rio novamente. - Vamos limpar isso aqui, antes que a sua avó desça e nos mate.

- Boa ideia. - Peguei um pano na despensa e passei por toda aquela água no chão. - Se quiser, eu pego uma camisa do meu pai para você. Deve estar um friozão lá fora.

- Sem problema. Não é como se a minha casa fosse uma rua depois dessa. - Ele disse, voltando a enxaguar o resto dos pratos ensaboados.

- Se você prefere assim... - Dei de ombros e apanhei o pano. Após espremer, deixei estirado no pé da pia.

       Guardei os pratos limpos e quando me viro, esbarro com o par de olhos azuis. Ficamos em silêncio, apenas mantendo o contato visual. Eu queria muito saber se na sua cabeça também passavam-se os mesmos desejos carnais.

       Voluntariamente, aproximamos nossos rostos e quando menos faltava para encostar os nossos lábios, o meu avô entra na cozinha.

- Vocês ainda estão aqui? - Sua voz era sonolenta. Nos afastamos rapidamente.

- Terminamos agora! - Constrangida, deixei o pano de prato em cima da pia e arrastei o Noah para a sala. O miserável só fazia sorrir maliciosamente. - Tchau. Tenha uma boa noite!

- Obrigada pela calorosa recepção. - Ele piscou um de seus olhos, com o sorriso ladeado no rosto e saiu pela porta.

       Tranco a mesma e encosto minha testa na porta de madeira, soltando um suspiro de alívio. Isso nunca mais pode acontecer! Tenho que ter mais controle se eu for continuar vendo esse homem.

Memórias Where stories live. Discover now