capítulo três

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Sophia Adams.

- Amiga, acho que vou comer um petisco. - Gritei, para que a mesma conseguisse ouvir diante o volume da música.

- Tá bom! Vou ficar aqui mais um pouco.

       Após ouvi-la, sai cambaleando e sentindo minhas pernas trêmulas. Eu precisava me sentar urgentemente. Achei a primeira cadeira que vi pela frente e me sentei.

       Olhei para a pista e conseguia ver claramente a Kathe, ela não aparentava nenhum sinal de cansaço, ao contrário de mim, que quase me desmontei vindo até aqui. Perdi o costume valendo.

       Aliviada por notar a mesa de petiscos bem atrás de mim, me rendi a preguiça e estiquei um dos meus braços para pegar um cubo de queijo e alguns amendoins, porém, sem sucesso.

       Revirei meus olhos, frustrada comigo mesma por ter que me levantar só por conta dos meus míseros braços curtos.

       Antes que a coragem pudesse vir, tanto o queijo quanto os amendoins já estavam na minha frente. Alguém teria visto a minha tentativa ridícula e piedosamente me ajudou.

       Levantei a minha cabeça para ver quem seria a pessoa de bom coração e dei de cara com o Thomas. Ele estava sorrindo e, aparentemente, animadinho. Se é que me entendem.

- O-obrigada! - Pego os dois petiscos de suas mãos enormes e não deixo de reparar o seu braço com várias veias pulsadas.

       Acredito que ele tenha percebido que eu estava fissurada nas suas veias, pois ele riu enquanto me analisava.

       Coloquei uma quantidade de amendoim na boca e mastiguei, torcendo para que o mesmo não notasse a vermelhidão das minhas bochechas.

       Ele pigarreou e resolveu puxar assunto, quebrando o clima.

- Por que você não está dançando?

- Eu não estou mais com o mesmo pique da Katherine, perdi o costume total. - Respondi após engolir os amendoins.

- Entendi. - Ele se cala por alguns segundos, mas logo volta a falar. - Por que você nunca mais veio aqui? Esperei para te ver desde que voltei.

       Ouvir aquilo me fez gelar. Como assim, ele esperava me ver? Não foi ele mesmo que quis terminar comigo por conta da "distância"? Que ironia!

- Eu apenas segui a minha vida e isso me fez abrir mão de muita coisa. Uma delas foi deixar de visitar os meus avós.

       Ficamos em silêncio por alguns minutos. Thomas não sabia formular uma única frase para justificar suas atitudes passadas, e então, como de costume, não poupou esforços para desviar do assunto.

- Bom... Pelo menos te vi hoje. - Ele sorriu e puxou uma cadeira para sentar-se ao meu lado.

       Sem reação, comecei a saborear o meu cubo de queijo, que estava delicioso.

- Sabe, sempre me perguntei se você conseguiu fazer a faculdade de psicologia ou se tinha simplesmente mudado de ideia.

- Felizmente, continuei com o mesmo sonho de cursar psicologia e, hoje, estou no segundo período da faculdade. - Abri um sorriso fraco ao lembrar de quando recebi a notícia da minha aprovação na faculdade.

- Fico feliz por você. - Ele sorriu.

- E você? Por que pediu transferência para continuar a faculdade de medicina na Califórnia?

- Digamos que a saudade falou mais alto. - Logo, seu sorriso se desfez e o mesmo tombou a cabeça para trás. - Se eu tivesse sido um pouco mais esperto, nunca teria ido e, talvez, ainda estaríamos juntos. - Seu semblante estava mais sério e, por incrível que pareça, suas palavras me impactaram.

       Me perguntava por qual razão ele estava vindo com esses papos nessa altura do campeonato. A ficha dele só caiu agora quando me viu? Ou isso é tudo encenação para que eu sinta dó?

       Sendo que antes, eu acompanhei todas as suas publicações em festas com amigos e várias garotas. Enquanto eu chorava horrores, tentando lidar com o término, ele estava aproveitando bem a vida de solteiro.

- Não adianta me dizer isso agora. Você fez a sua escolha, pensa que no fim, você curtiu bastante a sua vida lá na Inglaterra. - Disse, após engolir o último pedaço do queijo.

- Era torturante saber que eu não podia te ter comigo, ou até ficar sem receber uma única mensagem sua.

- Torturante foi para mim, quando tive que ver tudo o que você postava! De como estava feliz ou aparentava estar. - Me levantei da cadeira, já sem paciência. - Dane-se! Você diz que sentiu a minha falta, mas simplesmente desistiu de nós na primeira oportunidade, e em pouco tempo de término, compartilhou todas as suas revoadas, sem ao menos pensar em mim. Isso sim, foi torturante!

       Ele estava calado, absorvendo tudo o que eu havia dito. Mesmo ainda com muita coisa entalada na garganta, entendi que não era o momento e nem o lugar para continuar com aquilo.

- Se me der licença, vou ao banheiro!

- Sô...

       O ignorei totalmente e corri para qualquer direção aleatória. Eu me recusava a chorar na frente dele. Eu não podia me sentir vulnerável depois de tanto tempo.

       Até antes de voltar para Laguna Beach, estava convencida de que tinha superado o passado, mas talvez, eu estivesse apenas me enganando.

       À caminho do banheiro, acidentalmente esbarrei em alguém, e antes que eu pudesse cair de costas, seus braços agarraram a minha cintura.

       Nossos olhares se encontraram e, por questão de segundos, me esqueci de tudo o que havia acontecido. Eu conhecia bem aqueles olhos claros como diamantes.

       Não sei se era a bebida, mas nunca pensei que iria sentir vontade de beijar os lábios da pessoa que mais odiei por toda a minha vida, Noah Campbell.

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