NOVE

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Martina

Hoje eu tô no auge da minha falta de paciência, estou de TPM e hoje é meu aniversário. Eu queria muito viajar pra comemorar com minha mãe, mas ambas estamos trabalhando.

A única família que eu tenho é ela, meu pai morreu quando eu era uma criança e sinto muita falta dele.

- Bom dia- eu digo quando entro na sala e o idiota tá sentado na mesa fazendo alguma coisa num S9, claramente ele ganha bem mais que eu. O cara que tem uma moto da BMW, um iPhone de ultima geração e um tablet da Samsung de dez mil reais e eu mal consigo pagar as contas.

- Estava ótimo até você me agraciar com sua presença- ignorante.

- A educação nunca foi seu forte mesmo- eu odeio esse cara, antes eu gostava dele demais, mas agora é ódio atrás de ódio- A diretora pediu pra te entregar isso- ela me deu um envelope e pediu pra entregá-lo.

- O que é isso?- ele diz pegando da sua mão.

- O envelope é seu, então você deveria saber- ele me olha engraçado.

- A falta de educação sempre foi seu forte- isso, sem criatividade.

Eu sento na cadeira, falta meia hora pra meu turno acabar. Graças a Deus.

- Que merda!- eu ouço o Alberto gritar e sair como uma bala pela porta.

- Que cara maluco!

Eu passo os próximos dez minutos sozinha, organizando algumas coisas bobas e olho celular

Regina: Oii, fiz uma reserva pra nós duas num restaurante foda.

Regina: A gente janta e depois finaliza num barzinho.

Eu: Pode ser! Saio em alguns minutos.

Tinha que ser a Regina, nunca vi gostar tanto de álcool.

Começo a juntar minhas coisa, tem canetas para todo lado, provas para corrigir no final de semana, cabo de carregador, fone, agenda... enfim um caos completo. Me levanto para pegar meu computador que esta na mesa ao lado e o idiota do Alberto quase me joga no chão.

- Tá cega caralho?-  se ele tá com raiva o problema é dele, não vem descontar em mim não.

- Você que não enxerga! Se tá com raiva problema é seu, eu não tenho culpa dos seus problemas- ele esta apoiado na mesa e de costas pra mim. Quando ele vira, tem um olhar perturbado e medonho e ainda tem algumas gotas de sangue nas calças.

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Valentim

Quando eu abri o envelope tinha um recado "Feliz cumpleaños hijo, es una pena no poder esta presente em tu día"  e uma foto da Martina, com as mesmas roupas de hoje. AS MESMAS ROUPAS.  Eu não imaginei que ele seria tão rápido assim.

Eu sai da sala e devo ter esmurrado todos os extintores no meu caminho até o banheiro. Eu devo a escola uma pia.

"Tal mãe, tal filho. Dois traidores filhos da puta... se sua mãe esta morta a culpa sua Valentim! Se você não tivesse a acobertado ela estaria viva... seu tio estaria vivo"  foram as palavras dele no dia que descobriu que estava me bandeando para o lado da Jimena. E se ele pegar a Martina, eu terei falhado com a Jimena, como falhei com minha mãe.

- O que aconteceu com você?- a Martina esta me olhando assustada

- Não te interessa!- eu pego as minhas coisa e vou embora.

Eu sai cego de raiva, com quinze minutos eu estava em casa. A Jimena me disse que tinha alguém de olho na Martina, e agora eu sei que tem há muito tempo.

- O que aconteceu com você cara?- o Juan é insuportável.

- Não é da sua conta.

- Então sangra aí até morrer- ele tem um ponto, a pia era de porcela e eu arregacei minha mão, a adrenalina faz coisas, na hora não sentir dor, mas agora essa porra está doendo para caralho Minha mão tem um corte do osso de baixo do mindinho até o osso do começo do pulso pra piorar eu estava no trabalho de moto, fiz uma lambança no acelerador.

- Cadê o Henrique? Vamos sair pra comemorar meu a aniversário.

- Não vi ele o dia todo. Você vai sangrar até morrer, então esquece comemoração- chato pra lá.

- Não, você vai fechar isso- ele tem que usar a habilidade pra alguma coisa- Qual é Juan, você é cirurgião, fecha aqui- eu aponto pra o machucado e ele dá um sorrisinho- Estava doido pra fazer isso né? Filho da mãe.

Ele pega as coisas, limpa o machucado e arde, arde demais.

- Vai aguentar sem anestesia?- com certeza vai doer para caralho, mas vou ter que aguentar. Eu aceno que sim e ele passa a primeira agulhada.

- Cacete!- o idiota tá rindo- Sadomasoquista do caralho.

- Quer uma ml de lidocaína?

- Não! Vou sentir essa dor pra lembrar de nunca mais quebrar nada que corte.

Com dez minutos ele termina e o lugar fica latejando e meu remédio hoje será o álcool e talvez um ml de heroína. Quero esquecer da vida. 

A PROTEGIDA- UMA HISTÓRIA DE CARTEL (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora