Capítulo 18

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- E assim consegui essa cicatriz no cotovelo - Diz Matheo.
- Bah... - Jane esconde o riso. Ambos ainda sentados na beira do rio.
- Depois daquela nunca mais me pendurei num arame farpado.
- Como que tu não percebeu que ia se machucar, Matheo?
- Ah, Sei la. Eu vi um passarinho pousar lá e ele ficou bem... Ah, eu só tinha 11 anos.
- Hm... - Ela revira os olhos - Sheesh...
- Que? - Matheo sai de sua viajada nostálgica e vira para Jane.
- Ah, é uma gíria do meu tempo.
- Oh... E oque significa?
- Ah... - Ela olha para a água - Não sei, só coloca a mão assim e fala sheeeesh.
- Isso é bem ridículo - Ele sorri de lado.
- Ah... eu sei - ambos riem - Na verdade não sei se as pessoas ainda fazem isso. Até aonde eu tive em 2021 faziam.
- Hm... Por quê? - Questiona.
- Ah... Sei lá. Por que no teu tempo as pessoas chamam tudo de 'Rad'?
- Como assim? Rad é algo legal... você não sabe oque é né?
Jane sacode a cabeça concordando lentamente, mas logo sorri e sacode para os lados, dizendo que que não.
- Bom, você é rad.
- Ah, é?
- Sim, até demais, pra um broto. - Matheo sorri, inclinando-se até Jane.
- Um broto???
- Ah... - Seu sorriso cai, e Matheo a encara por um instante. - Esquece esse, você não vai entender direito.
- Hm... tá né... bruh.
Ele a olha confuso novamente, e quando Jane apenas sorri para o riacho, sabendo que Matheo estava a olhando.
- Mas tá, que saco, vamos fazer algo.
  Jane se levanta e o puxa, e, consequentemente, também é puxada, e agora ambos, de mãos dadas, rodopiam, rindo como crianças inocentes na beira de um riacho cintilante. A luz do sol brilhava no rosto de Jane, fazendo seu sorriso infantil se iluminar, e também refletia no cabelo de Matheo, revelando alguns fios dourados que recebera de sua mãe. Riram por uns bons momentos, até Matheo, num movimento súbito, a puxar pela cintura até se encostarem, seus rostos tão próximos, podia sentir-se suas respirações cansadas de girar. Seus olhares surpresos perdidos num do outro, num silêncio que parecia interminável.
  - Hum... Janie...
  - Hum?
  - Eu, uh... tenho uma coisa pra te dizer...
  - Ah... O-oque? - Não se sabia se era do sol ou não, mas Jane estava completamente corada.
  - Tem... uma folha no seu cabelo. - Diz, levando a mão até seu cabelo, a removendo.
  - ª - Jane permanece imóvel por uns segundos.
  - Janie? - Matheo sorri, erguendo uma sobrancelha, ao notar que Jane ainda continuava imóvel.
  - Hello-o? - Ele estala os dedos na frente dos olhos dela.
  -... AHTAPORQUENÃOMEFALOUANTES!? - Grita Jane, e, num movimento exagerado, prende o seu pé numa rachadura duma pedra, se desequilibrando e caindo com toda a cabeça dentro d'água.
- Dear heavens! - Matheo riu rapidamente, até correr para ajudá-la.
- OOOAAAAHHH - Ela se levanta, puxando ar, esfregando os olhos.
- Janie, você está bem?
- Eu... cof cof... ah, acho que bati a cabeça... Nossa, sempre que eu toco nessa água eu quase morro.
- Você já quase morreu aqui?
- Bom, aquela vez eu... uh... Não. Mas, eu achei que ia.
- Ahh, aquela vez que você...
- Isso. Que que tem? - Ela olha para Matheo, emburrada.
- Ah, vem, levanta - Ele pega uma mão de Jane, e com a outra a segura pelas costas.
- HMM ah!
- Oque foi?
- Ah, merda, acho que também torci o tornozelo...
- Ahm... Tá, assim então. - Ele a levanta pelos joelhos, agora a segurando em seu colo, a tirando do chão.
- Hmmmmmmm - Jane encara o céu, seu rosto vermelho e quente, ela diria que é do sol mas ah, né? Vocês me entendem.
Chegando na casinha roxa, Matheo a senta lentamente no sofá azul escuro.
- Aonde tu ta indo?
- Vou pegar uma coisa pra você colocar ai - Diz Matheo, remexendo nas gavetas da cozinha.
Jane o espera, com as mãos apertando seu machucado.
- Aqui - Ele coloca um pano com água quente sobre seu tornozelo.
- Não deveria ser gelo? - Ela pergunta.
- Não temos isso.
- Ah, é... Bom, isso já ajuda.
  Ela sorri para ele, que sobe o olhar para encontrar com o dela, disfarçando rapidamente, tentando conter um pequeno sorriso.
  - Aqui - Matheo da um beijinho na canela de Jane - Espero que ajude - Sorri.
  - Que-Que isso??? Que nojo, Matheo.
  - Oque?
  - Eu tava andando de pé descalço!
  - E dai? eu não beijei seu pé. Ah, fica com dor então. - Ele diz, num tom sarcástico, a soltando devagar.
  - An? Tá bom, eu vou é subir pro meu quarto e colocar uma roupa decente.
  Jane se apoia no sofá para levantar, mancando até a escada - Ai, Ai, Ai - Tentava não dizer a cada passo. Apenas três, até cair no chão.
  - Ahh, foi mal, vem ca - Matheo corre até ela, a levantando.
  - Não quero a tua ajuda. - Ela fala, franzindo a testa.
  - Mas precisa, não é? - Ele sorri, e ela revira os olhos.
  Matheo leva Jane até seu quarto, até ela se sentar em sua cama.
  - Pronto, melhor assim, mademoiselle? - Ele se curva, sorrindo.
  - Pff, tanto faz - Diz, com os braços cruzados.
  Matheo ergue uma sobrancelha.
  - Hmm tá! - Ela larga os braços na cama - Merci, monsieur.
  Matheo toma uma mão dela - 'Enchanta' - Ele beija.
  - É 'Enchanté' - Jane sorri.
  - Eu não falo francês. Não ligo.
  Ambos riem, e Matheo lentamente anda pra trás, até sair do quarto, deixando Jane sentada na cama. Ela sorri, ainda no assunto. - Fofo - Diz.

...

- Oi Janie, quer que eu te ajude a descer? - Diz Matheo, que navegava o olhar pelos livros na estante.
- Não, valeu. Já ta melhorando, e só eu não pisar forte.
- Hm, okay. Gostei do vestido, azul combina com você.
- heh, obrigada, Matheo. Oque tu ta olhando?
- Nada não, só vendo os nomes dos livros. Fiquei entediado.
- Hmm, entendo. Ahh - Jane se senta no banquinho - Eu queria ir pra casa. Quanto tempo mais vai levar? Já estamos aqui há 1 ano!
- É, eu sei. Talvez se saíssemos pra caminhar e procurar alguma coisa? Algum portal ou coisa assim?
- E arriscar se perder? Eu não vou voltar a dormir no chão, na chuva. Mas como??? Por quê??? Por que nós?
Ela se atira no tapete.
- O jeito é esperar que algo aconteça. - Diz Matheo, se sentando no chão ao lado de Jane.
  E então fizeram, passavam os dias juntos e tentando se divertir. E o tempo passava, e passava, e nada acontecia.

Nossa VidaWhere stories live. Discover now