Capítulo 6

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Era uma manhã confortável, em que Jane levantava de sua cama, aquela mesma que se encontrava no quarto principal da casa, aquele no qual Matheo chamou Jane para ver, quando entrou pela primeira vez. Apenas Jane dormira naquela cama desde que chegaram, pois Matheo ficara com um quartinho apertado, à direita da porta do quarto de Jane. Ela até tinha oferecido a ele trazer o colchão para o quarto que ela estaria, mas ele cismou que daria à ela a privacidade que deveria dar.
Jane ouvira sons vindo la de baixo, e como só tinha ela e Matheo, nem questionou.
 Jane levantara, vestindo roupas idênticas as de antes, apenas com uma coloração diferenciada na saia. Roupas essas que misteriosamente apareceram naquele armário. Sim, aquele armário, aquele mesmo que Jane abrira enquanto explorava a casa. Não se sabia como, mas já que estavam ali, e a esse nível, nada mais parecia tão surpreendente. Mas não foi só as de Jane, algumas para Matheo também. Mas não é como se fosse do gosto dele, ainda eram as mesmas roupas de velho. Não é como se aparecesse o que eles quisessem, porque eles mesmos ja gritaram dentro daquele armário, coisas como "pode me mandar umas cuecas normais?" e "joga ai meu celular, vlw fml".
 
Jane descia as escadas, e logo à esquerda estava Matheo, na cozinha a preparar um 'chazinho da manhã', como ele chamava.
- O que está fazendo? - Perguntou Jane, se sentando numa banqueta acolchoada.
- Ah - disse ele, virando-se para Jane e exibindo uma chaleirazinha lanhada - Meu chazinho.
- Nem precisamos comer. - Jane diz com deboche.
- Aha, eu é que não abro mão dum chá de manhã cedo.
Jane revira os olhos e sorri.
- Coisa de velho, mesmo.
Matheo suspira sarcasticamente ofendido e vira para Jane, que gargalha, descansando o braço direito na bancada.
- ... - Matheo abre a boca para falar, mas para ao ver Jane rindo, tão autêntica, quase o fez esquecer que estava em um mundo alternativo com uma garota... Quer dizer, até esqueceu por um momento do mundo, mas não dela.
Jane volta os olhos para Matheo, que disfarçou o olhar, voltando-se para a chaleira que apitava.
- Bom - Jane começa - bem que essa casa ta precisando de uma arrumadinha...
- Hmm?
- É, tipo, uma varrida e talvez alguns ajustes.
- Ah, talvez. - Matheo para por um instante - Nem sabemos quanto tempo ficaremos aqui.
- Ah, e dai? - Jane questiona - Vamos pelo menos ficar num lugar confortável, né?
Matheo concorda com um sorrisinho, indo em direção à bancada, onde estava sua xícara.
-Quer um pouquinho? - Matheo pergunta à Jane, levemente aproximando a chaleira dela.
-Ah não, obrigada... Eu odeio chá.
Matheo não responde, mas claramente se surpreendeu com essa geração. Não é como se adolescentes amassem chás em 1985, mas sendo inglês e sendo O MATHEO, não tinha como evitar.
...
Jane e Matheo sentam nos degraus da frente da casa, com Matheo tomando seu chazinho, e conversam sobre oque fazer.
...
- Eu vou dar uma varrida embaixo da escada - Disse Jane - Eu notei muita sujeira ali.
- Ah... - Matheo responde - E eu... O que que eu faço?
- Uh sei lá procura algo o que arrumar, essa casa toda caindo aos pedaços, deve ter algo que tu consiga fazer.
- Há, como se tivesse algo que eu não consiga fazer - Matheo se exibe.
- hehehe, ta bom.
...
- Então vá arrumar algo! - Jane o empurra de leve
- Como preferir, moça.
Matheo procura algo para arrumar, e se depara com algumas tábuas frouxas atrás da parede da escada. Elas estavam escassas, descascando e poderiam facilmente se soltar. Matheo tenta fixá-las de volta na parede.
- Kshh, Ah! - Um som como o de alguém que puxa ar entre os dentes, sentindo dor. - You s-stupid bloody... Shit!
Matheo passara a mão em um prego velho que aparecera de trás de uma tábua, abrindo um pequeno corte na mão dele, mas, claro, como o baita machão que ele era, isso não seria problema algum e...
-" :( "
Matheo levanta e caminha em direção à sala, ou seja lá aonde Jane estaria.
-Mat- O- O que que aconteceu contigo? - Jane pergunta, apos ver a mão de Matheo, que apenas encarava Jane como uma criança cagada.
-... Ai, Matheo, vem aqui.
Jane puxa de uma gaveta na cozinha um pequeno rolo de ataduras, e uma pequena garrafinha.
-Ah, não precisa disso não - Diz Matheo, tentando jogar isso pro lado, mesmo ele sabendo que queria que a mão parasse de latejar.
-Não te faz, guri. Vem, senta aqui.
Jane o puxa pelo antebraço e o senta em frente à ela, no chão da sala.
- Dá ai.
Matheo estica a mão machucada para Jane, que a puxa e começa a colocar a aguinha que estava na garrafinha.
- Ó, pode ser que doa um pouquinho, mas nada que eu não tenha sobrevivido. - Sorri Jane.
- Ah, eu não sou tão galinha quanto tu pensHmmmmm - Matheo interrompe sua frase com um gemido de dor disfarçado.
- Hahaha, sei.
  Jane começa a enrolar a mão de Matheo com a faixa, com Matheo deslizando um olhar atento à Jane, que logo responde com um mesmo, fazendo Matheo olhar pra longe, disfarçando, e Jane corar um pouco.
  - Pronto. - Jane diz, soltando a mão dele. - Acho que isso ajudará.
  Jane esfregava a poeira da sua saia, e logo vira para Matheo, ainda no chão.
...
- Vem, levanta. - Jane estende a mão para Matheo, bloqueando a luz que vinha das grandes janelas, fazendo com que tudo que Matheo visse fosse sua silhueta feminina e infantil.
Matheo segura a mão de Jane, usando a mão que lhe restara. Não que tivesse amputado a outra, mas do jeito que ele é, diria algo do tipo.
...
- Tu tá bem mesmo? - Jane, em sua camisola, segurando uma vela num pratinho pergunta a Matheo, que estava deitado no seu quarto.
- ah, sim. Já falei. Pode ir, Jane.
- heh, então tá - Ela se vira em direção à porta - Mas não vem me aparecer querendo cafuné.
- Ah mas vaaai - Matheo joga uma almofada em Jane, que ria perto da porta, fazendo ela quase derrubar a vela e ambos com surpresa suspirarem.
- Ah, foi mal - Matheo diz.
- Essa casa é de madeira, mano, e se essa coisa queima?
-...
-... Se tu não tivesse machucado, eu te cagaria de pau com essas almofadas. - Jane sorri, e então sai do quarto, sem ver o grande sorriso bem de dente que Matheo esboçara, logo antes de se atirar de costas na cama, olhando para cima, perdido em seus pensamentos.

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