Capítulo 10

20 2 0
                                    

- Devagarinho... - susurra para si mesmo, o Matheo. Parado em frente ao quarto de Jane, segurando na sua mão esquerda um pratinho de madeira, com algumas frutas e flores.
  Matheo gira a maçaneta, tentando fazer o mínimo possível de barulho para não acordar Jane.
  Matheo entra no quarto dela, avistando uma serena e calma silhueta adormecida, da qual ele se aproxima...
  - Janie... Janie... - Matheo cutuca suas costas.
  - Hmm...
...
- Ah, qual foi menó? Sfd me acordano... - Jane se senta, esfregando os olhos.
- Uhh... - Matheo para por um instante - Feliz Aniversário!
- Que?
  Matheo estica os braços, levando o pratinho até mais próximo de Jane.
  - Desculpe não ter coisas tão apetitosas, foi o que eu conseguir achar. É pra você, Janie.
  - ... - Jane olha para o prato de madeira, e para as frutas brilhosas que nele repousavam.
  -...Tu não meteu essa.
  -O que? - Matheo vira a cabeça.
  -Haaa che - Jane empurra o pratinho - Tu não meteu essa comigo, foi?
  - Janie, eu juro que um dia eu vou te entender. Eu não meti nada... em nenhum lugar...? - Matheo realmente tentara, mas Jane sempre surgia com alguma gíria diferente.
  - Você não gostou? - Pergunta Matheo.
  - Oque? Gostei, sim. Mas não precisava, que melação hehehe - Jane ri, fazendo Matheo sorrir.
  - Obrigada, Matheo. - Jane pega o pratinho. -... Como que tu sabia que era hoje? Nem eu lembrei.
  - Você me disse, quando nos conhecemos.
  - Aah... É mesmo.
  Jane olha para Matheo, que a encarava, sorrindo.
  O sol morno da manhã que invadia pelas janelas, deixando o olhar azulado de Matheo ainda mais saturado, e o marrom cor de mel de Jane tão profundo.
  - Uh... Ah bom, eu não vou comer tudo isso! Haha
  - Tudo bem, a gente divide. Vamos? - Matheo levanta e estica a mão para Jane.
  - Aonde?
  - La embaixo
  -... Por quê? - Jane cruza os braços.
  -... Não interessa, vamos! - Matheo a puxa para fora da cama.
  - Perai, deixa eu me vestir.
  - Precisa não, só tem nós.
  - É meu aniversário - Jane se solta dele - e eu escolho estar bem vestida nele - Jane sorri debochadamente para Matheo, que se enrubesce, cobrindo a boca.
  - Ah tá. Eu to aqui fora.
...
 
  Jane abre a porta de seu quarto, vestindo uma blusa branca com adornos de renda, uma saia salmão claro e os mesmos sapatos pretos de quase sempre.
  - Agora sim eu to pronta! - Jane sorri para Matheo, o pegando desprevenido, que a esperava encostado na parede.
  Jane parecia tão... Normal. seu sorriso amarelado e seus cachos desfeitos estavam como sempre foram. Mas tinha mais que isso, naquele momento. - "O ar de aniversariante" - Pensou Matheo, pois não era normal sentir um frio na barriga ao vê-la, já que a via todo os dias.
  - Ta - começou Jane - que que é?
  - Oque? - Matheo volta de seus pensamentos - Ah, sim. Vem.
  Matheo a leva até a escada.
  - Olha pra mim - Matheo segura Jane pelos ombros.
  - Ue?
  - Desce de costas, não olha pra trás.
  - Ai Matheo, oque foi que tu fez agora?
  - Nada, só vai - Matheo força Jane para trás, que tropica, quase se embolando até o fim da escada.
  - Dear God! Você está bem? - Matheo corre até ela, que se levantava do chão.
  - Sim, eu acho. É isso que tu queria?
  - Não, não mesmo. Ah... - Matheo abraça Jane - Vem comigo.
  - Uh... okay - Jane responde, sem entender muito, tanto por causa da queda, quanto o abraço inesperado de Matheo.
   Matheo leva Jane pela mão. De novo. Acho que ele gosta de fazer isso.
   Jane assistia perdidamente as ondas marrons do cabelo de Matheo se remexendo ao ar, enquanto caminhavam sob as árvores e os claros e belos fachos de luz que entravam pelas folhas. E sua visão fora interrompida, por uma brilhante e clara luz, fazendo-a levar o braço até os olhos.
  -... Uaauu... - Jane abre um sorriso enorme e seus olhos brilham, ao se deparar com um enorme e verdejante campo, com diversos tipos de flores, brancas, amarelas, de todas as cores. Cada uma num movimento tão único e original, mas resultando numa belissima dança dos ventos, liberando um cheiro agridoce que pairava no ar. Atraía também algumas borboletas, eram o único "animal" que Jane e Matheo haviam visto nesse lugar.
  - Tem mais - Matheo vira o rosto de Jane para a esquerda, aonde ficava uma pequena colina com uma árvore de madeira branca. Era uma árvore diferente das outras, quase como se quisesse se destacar.
  Jane, encantada, segue Matheo até o topo. Estava tão distraída, mas ao mesmo tempo tão focada, em tudo. Tudo ao redor, as belas flores, o sol, as borboletas, o barulho das folhas que se remexiam com a leve brisa, o distante e leve som de água descendo das pedras, os gentis e leves passos de Matheo, era tudo tão... Mágico.
  - Janie? - Pergunta Matheo.
  Jane não respondeu. Apenas adimirava o horizonte coberto por árvores.
  - Janie?
Ainda sem resposta.
  Matheo se aproxima pelas costas de Jane, que aparentemente nem notara seus movimentos, e cobriu seus olhos.
  - Desculpe interromper, Senhorita Jane, mas creio que tenha algo para lhe mostrar.
  Jane se vira, olhando para Matheo, que se sentava no chão.
  - Oh - Recém que Jane notara, que havia ali, debaixo da árvore, uma toalha antiga com listras azuladas, onde Matheo largara o pratinho de madeira junto com alguns livros.
  Matheo dera tapinhas no chão, indicando para Jane se sentar, e ela o fez.
  - Foi oque deu, desculpa não ser uma festa - Matheo diz, olhando para longe.
  - OQUE? - Jane vira bruscamente, fisgando o olhar de Matheo para ela.
  -... Ah, é que... - Ela se vira para além do horizonte, pensativa.
  -... Tá perfeito. Obrigada, Matheo.
  Matheo a encarara, em silêncio. Observando enquanto ela sorria e falava algo sobre os livros que ali estavam. Matheo nem ouviu. Seus ouvidos abafaram, nem sentia mais seu corpo contra o chão. Apenas a via pegando um dos livros e explicando algo sobre a capa de couro marrom.
  -... Matheo? - Jane estala os dedos perto de seu rosto.
  -Ah, sim. Esse livro. mhm...
  -...
  -...
  -... Tu não ouviu nada do que eu falei?
  -... Não - Matheo responde, com um sorriso torto, fazendo Jane rir.
 
E meio que assim foi, o resto do dia. Eles conversavam, riam, comiam, e Jane se entretia vendo Matheo tentar entender algumas palavras do português clássico.
  Ali ficaram, até o cair da tarde.
Jane e Matheo, sentados lado a lado, assistiam o pôr do sol. Matheo se apoiando pelas mãos, e Jane abraçando sua saia.
  - Eu... nunca havia notado. - Começa Matheo
  - Hmm? - Jane vira para ele.
  - O quão lindo é aqui.
  - Heh, é... - Jane olha para o chão, lembrando dos meses que passara explorando sozinha.
  - Eu tive muito medo, no começo. - Matheo continua, e Jane vira para ele.
  -...! Não que eu tenha medo, né? Pft! Não sou cagão. - Matheo sacode os braços, enquanto Jane ri baixinho.
  -Mas... achei que iria ficar perambulando sozinho para sempre.
  - Até que eu te achei. - Jane interrompe. - Obrigada, novamente, por hoje.
  - ... - O rosto de Matheo enrubesceu. ficando muito, muito vermelho, ao notar que Jane deslizara sua mão sobre a dele, e agora repousava sua cabeça em seu ombro.
  Matheo já tinha fama de ficar muito corado facilmente, agora parecia que iria estourar.
  Foi só por alguns segundos, que Matheo observara o sol descer, e isso foi o suficiente para o acalmar, agora repousando sua cabeça sobre a de Jane.



Até eles perceberem e se levantarem, disfarçadamente.

Nossa VidaWhere stories live. Discover now