DISTRITO 111 •Jikook•

22

Oi!

A madrugada chegou mesmo que no fundo quiséssemos evitá-la. Jungkook depois de tudo, conseguiu seu banho e logo depois foi a minha vez. Observá-lo calmo e quieto, aprumado sob os lençóis, me fez querer desistir. Não queria continuar, não queria ter que enfrentar o mundo lá fora, não quando tinha tudo que precisava ali, naquele quarto comigo. Egoísmo. A amargura de perceber que não, que um futuro fugindo e se escondendo nunca seria digno dele, é o que me fez finalmente tomar coragem para continuar.

— Vamos, meu amor. — Falei por fim, chamando sua atenção para mim.

Jungkook me olhou, seus olhos escuros estavam salpicados de tristeza e medo. Ele não era ingênuo, sabia que estaríamos entrando na toca de um leão, e que talvez nem todos sairíamos de lá.
 
— Pode me dar um segundo? Quero ligar para Taehyung.

O modelo havia voltado para o Canadá assim que pousou em Liverpool. Yoongi nos avisou, como também disse ter encontrado Jin em um dos apartamentos de Jaebum, provavelmente nas mesmas condições que Jungkook. Mas mesmo com as notícias era um direito do garoto conversar com o amigo, então eu apenas concordei.

— Venho te buscar quando acabar.

Sorri e sai do quarto em direção a saída do hotel, aparentemente os outros estavam no estacionamento, já que quando passei pela recepção todas as chaves haviam sido entregues.

Namjoon, Richard e Scott, conversavam casualmente entre um carro e outro. Se fosse outra pessoa a observá-los, poderia facilmente pensar que as malas com munição e colete, eram roupas para um trio de amigos passar o final de semana.

Eu desejava que fosse.

O pensamento me fez suspirar amargurado.

— Tudo pronto? — Namjoon perguntou, assim que notou minha aproximação.

— Jungkook está conversando com Taehyung, já irá descer.

— Deveria deixar ele sozinho? — Scott perguntou, desconfiado, e antes mesmo da minha resposta, já estava caminhando para dentro do hotel. — Eu vou lá buscar o garoto. 

É claro que eu mesmo iria, assim que visse as luzes do nosso quarto se apagarem, já que no estacionamento tínhamos uma visão ampla das janelas. Mas queria conversar com Richard, então não me impus.

— Namjoon, se importa de ir com ele? Não quero ter que lidar com mobília destruída e costelas quebradas  — pedi a meu amigo com a esperança que ele aceitasse, e para minha sorte o tenente prontamente atendeu. .

— Scott nunca tocaria no garoto.  — Richard finalmente se manifestou, se afastando do carro, vindo em minha direção.

— Não é com Jungkook que eu estou preocupado.

O homem riu, e me ofereceu um cigarro, e assim que neguei ele colocou um entre os dentes — Ele é um rapaz bem genioso, não é? Não é para brincadeiras... Um jovem que sabe o que quer.

— Ele nem sempre é tão evasivo assim... É um garoto muito amoroso.

Jungkook era uma infinidade de coisas, e eu me sentia mal por Richard não ter a chance de descobrir cada uma delas.

— Imagino que sim. É filho da mãe dele, afinal. Akami tocava em suas flores com a delicadeza de um beija-flor, mas socava como um gângster. — ele deu uma risadinha apaixonada e melancólica. — Deu trabalho pros desgraçados que a mataram, só pra proteger o filho... Minha garota corajosa. Ela teria um orgulho imenso se o visse agora.

Aquilo me fez estremecer. O tom de tristeza misturado com amor e lembrança. O fato daquele homem ter pedido o amor da vida dele e ainda sim ter forças para viver me deixava perplexo. Eu aguentaria? Não, é claro que não, perder Jungkook seria como morrer aos poucos. Quando perdi meu pai senti que não conseguiria mais respirar. Me senti sufocado, sozinho, desamparado.