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Olá.  Espero que estejam bem. Quero me desculpar pela ausência, e agradecer pela paciência e pelo carinho com a história. Prometo voltar logo.

Jungkook dormiu até depois do meio-dia, enquanto Namjoon e eu andávamos pela propriedade e fazíamos alguns serviços pendentes para tentarmos nos distrair. 

Olhar para paisagem me fazia pensar como seria morar ali, na fazenda em Caledon. Nunca pensei que fosse querer isso para mim, afinal, sempre adorei o ritmo acelerado da cidade, mas algo havia mudado. Talvez fosse a intensa necessidade de estar em paz depois de tudo, ou quem sabe o alívio de ter alguém pra quem voltar, eu não tinha certeza, mas queria acabar com tudo logo e finalmente dar um jeito em minha vida. 

A manhã havia sido melancólica e nublada, como a calmaria estranha antes de uma terrível tempestade. Todos nós sabíamos o que estava por vir, e mesmo que tentássemos nos preparar, nada seria suficiente para tornar as coisas mais fáceis. 

De um jeito ou de outro sairíamos quebrados. 

Agoniado com aquele clima sufocante eu segui até dentro do chalé, queria preparar algo para comermos e arrumar as bagagens para voltarmos a Toronto. O lugar ainda estava tranquilo demais, e o único som que dava para ouvir era da água translúcida do riacho que corria atrás da propriedade, além dos sons sutis de alguns animais. 

Richard estava sentado na cadeira de balanço ao lado da grande área coberta. Ele fumava seu tabaco rotineiro, mas ao contrário das outras vezes, exibia uma ruga formada entre as sobrancelhas grossas e retas. 

Se não fosse pelos traços orientais herdados pela mãe, daria facilmente para imaginar Jungkook assim em seus anos de velhice. 

Os olhos escuros feito café me fitaram com uma curiosidade genuína, antes de entregarem o descontentamento que o homem por trás deles sentia no momento. 

— Park. — ele resmungou com o cigarro entre os dentes. — Você seria um ótimo fazendeiro. 

Seus olhos seguiram até minhas roupas surradas e empoeirados de um concerto recente de uma cerca. 

— Acho que eu seria razoável. — eu respondi e me sentei nas escadas a sua frente. — Preciso manter tudo aqui em ordem até Esther voltar. 

— E quando ela voltar você pretende continuar vindo? — Sua postura, apesar de rígida, parecia um pouco mais leve agora. 

Eu pensei um pouco antes de responder. 

— Eu espero poder. 

Ficamos em silêncio, observando o horizonte.  O vento leve fazia com as folhas das árvores voassem sobre a grama bem aparada do jardim da frente, e o sereno da noite anterior ainda fazia o cheiro de terra molhada dominar a propriedade. 

— Você o ama? — A pergunta veio com um tom preguiçoso e inseguro. Com uma polidez fingida. 

Eu o olhei por cima dos ombros e vi que ele continuava admirando a vista. Impassível. 

Não costumava ser tão aberto  quanto aos meus sentimentos, mas dava para perceber que era uma questão importante para ele. 

— Sim. 

Ouvi um suspiro longo, e então uma risada contida.

— Nunca pensei que antes mesmo de ouvir a palavra papai, já ficaria de frente a um pretendente.— eu virei meu rosto para encará-lo. — Eu perdi todos os anos da vida dele. Os primeiros passos, palavras. A primeira vez na escola, o primeiro dentinho embaixo do travesseiro. Coisas que são insubstituíveis, mas… Fico feliz por estar presenciando ao menos isso. — Seus olhos piscaram algumas vezes, tentando afastar a melancolia. — Ele nem prestou atenção nas coisas que eu disse ontem até você entrar naquela sala. Quando ele te olhou e ficou em paz, eu implorei em silêncio pra que você o olhasse da mesma forma. 

DISTRITO 111 •Jikook•Onde as histórias ganham vida. Descobre agora