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"Não quis falar nada, mas senti o cheiro de um gato lá perto. Bem, tem vários por aqui, seria difícil dizer. Agora sabe o porquê de eu não confiar em humanos", disse o Lobo para a Gata.

"O que será de mim agora? Ai de mim! Não deveria ter fugido, por que fui tão curiosa? Morrerei sozinha neste mundo!", choramingou a Gata.

Uma coisa sobre o Lobo precisa ser dita: ele não se apaixonou pela Gata, mas o fato de ela querer cuidar dele e alimentá-lo teve peso em sua decisão. Ele jamais deixaria essa boa ação passar sem gratidão, apesar de não gostar de gatos e nem de animais domésticos. A combinação dos dois lhe dava náuseas, mas ele estava disposto a ensinar a Gata a caçar e sobreviver. Ele não se ofereceria para matá-la e livrá-la de sua má sorte, pois era selvagem, mas não um bárbaro.

Após ordenar que a Gata parasse de chorar, o
Lobo disse com voz firme: "Escute aqui, sua Gata imunda. Eu não quero dever favores a você. Você cuidou de mim, mesmo sem eu te pedir ou dever nada, e por isso quero pagar minha dívida.
Eu não sou um felino como você, sou um Lobo, e vou te ensinar a viver e caçar como um. É melhor do que morrer de fome. Abandone sua vida anterior e venha comigo para a selvageria.
Pare de chorar e desapegue-se, pois só assim serei livre da dívida que me prende a você. Se tiver dúvidas, lembre-se: o que tem a perder?"

A Gata parou por um instante e pensou. O Lobo tinha razão, mas ela não queria viver selvagem como ele. Ela era uma Gata doméstica sem mais dona ou um lar.

O Lobo percebeu a confusão nos olhos da Gata e então virou as costas e começou a andar em direção às áreas de mata. A Gata, ainda confusa, olhava para a janela da casa de sua antiga dona e depois para o Lobo. Ela não queria nada daquilo, apenas queria que tudo voltasse a ser como era antes ou parecido.

Enquanto o Lobo se afastava, a Gata olhou pela última vez para a janela da casa da velha e miou alto, se despedindo e agradecendo por tudo. Por mais que tenha sido maltratada, a velha queria que ela ficasse segura, de uma forma doentia e abusiva, mas viva. Agora que sabia que jamais a veria novamente e mesmo tendo sido trocada, não sentia raiva. Afinal, ela abandonou a velha senhora primeiro. Sua ex-dona tinha o direito de seguir em frente e arrumar um gato que a ouvisse.

Então, a Gata olhou pela última vez para a janela, agora com uma folha de papel rasgada tapando um buraco no vidro, que uma vez foi quebrado por uma Gata curiosa.

O Lobo e a GataWhere stories live. Discover now