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No dicionário, a palavra ingenuidade significa qualidade, caráter de ingênuo; simplicidade, candura, singeleza. “Qualidade”, sim, ingenuidade é uma qualidade, pois remete a alguém sem maldade no coração, ou seja, sem malícias.

Ingenuidade não parece ser algo inerente nos gatos, são curiosos, claro e até mesmo ardilosos, mas os gatos vividos não são ingênuos. Pena que nossa querida Gata não é vivida, sendo facilmente enganada e manipulada, pobrezinha!

Quando chegou no território do gato de rua, foi convidada a entrar em sua toca, ela ingênua, não viu problemas. Lá era um lugar espaçoso e com um forte cheiro de comida. A Gata só se deu conta que estava cansada e com fome quando o odor de comida de gato entrou por seu focinho. O gato malandro logo notou isso e lhe ofereceu uma lata aberta com metade da comida dentro.

A Gata faminta comeu tudo com duas bocadas e pediu mais. O gato, esperto, apenas fez que não com a cabeça e abriu outro sorriso amarelo com suas duas presas faltosas e disse: - Antes de mais nada, me diga o que quer aqui?
- O esquilo me disse que você pode me ajudar a voltar para casa. Respondeu à Gata.
- Te ajudar como? Responde o gato interessado.
— Ele disse que você conhece todas as ruas dessa cidade e pode me ajudar a voltar para a casa da minha humana. Responde à Gata esperançosa.

O gato se aproxima malandramente de sua “convidada”, como se estivesse ponderando inúmeras possibilidades e diz: - pode ser feito, mas será difícil.
- Como assim difícil? Pergunta a Gata assustada e preocupada. - Pensei que pudesse me ajudar.
O gato dá outro sorriso cheio de malícias e explica toda a situação para a Gata. Explica como a cidade é grande, que seria difícil encontrar uma casa em específico. Ainda mais que a única coisa que se sabia sobre ela, era uma janela quebrada por uma Gata em fuga.

Parece que nem tudo eram más notícias, pois o gato de rua disse que colocaria seu “pessoal” para procurar uma casa com uma janela quebrada e uma humana velha, mas isso não seria de graça.
A Gata, a partir desse dia, devia favores para o felino malandro, fazendo coisas do tipo roubar comida e outras coisas. Nas palavras do gatuno, era para cobrir os custos das buscas. Quem ficou incumbida de ensinar a Gata a roubar comida era uma coelha gorda de pelagem marrom e um olho faltando chamada Sis.

Sis a levou para a área comercial da cidade, onde ficavam os restaurantes. O plano era simples: fazer uma distração na porta dos fundos da cozinha de algum restaurante enquanto a coelha pegava o que conseguia da cozinha.
-Não sei fazer isso Sis, vai dar errado. Disse a Gata assustada.
-Pare de choramingar! Uma gatinha igual a você vai atrair atenção, basta que mie um pouco como se estivesse com fome. Se tiver sorte, nem vamos precisar roubar, basta que te deem comida. Responde a coelha de forma ríspida.
-Não sei não… Vamos tentar outra coisa. Responde de forma melancólica e assustada a Gata.
-Não seja idiota, sua Gata domestica inútil! Não quer voltar para a porcaria da sua casa? Então faça o que o gato manda e engole o choro. Vá lá bonitinha e veja se eles te dão comida, caso contrário, vamos pegar a força. Sis responde friamente.

Sem muita opção, a Gata se foi a miar pela porta dos fundos do restaurante. Tanta algazarra fez uma das funcionárias sair com uma vassoura nas mãos. Ao ver isso, Sis se escondeu pensando que enquanto a Gata apanhava, ela poderia se esgueirar e pegar o que conseguisse, só não esperava que sua companheira de roubo fosse se encolher toda e começar a chorar, e nem que a humana iria se convalescer disso e a alimentar com uma sardinha inteira e ainda a afagar.

-Tenho que admitir novata, não pensei que fosse conseguir alguma coisa boa na sua primeira vez, mas vejam só o que você ganhou. Diz a coelha caolha.
- Mal posso esperar para comer, estou faminta. Diz a Gata com uma voz trêmula e cansada.
- Não seja idiota garota, essa sardinha pertence ao gato. Vamos voltar ao beco. Responde impaciente Sis.
Em protesto, a Gata repete estar com fome até levar uma mordida da coelha marrom na orelha, deixando uma cicatriz. Após ouvir mais uma vez que a sardinha pertence ao gato e que entregar a sardinha é a única forma de rever sua dona.
A pobre Gata apenas fica em silêncio e volta com a sardinha na boca até a toca do gato de rua.

Ao chegar, é recebida por um sorriso ainda mais malicioso do gato, que ao reparar no buraco em sua orelha, apenas diz que parece que Sis te disse como funcionam as coisas aqui e que era melhor seguir suas ordens. Logo em seguida, mandou a Gata ir descansar, pois teria um longo dia pela frente.

Exausta e faminta, a Gata se deitou em uma pilha de lixo e dormiu após um breve momento de choro, choro esse que foi ouvido por uma Coruja branca empoleirada em uma calha do telhado de um galpão ao lado do território do gato de rua que possuía um sorriso amarelo e faltando duas presas.

O Lobo e a GataWhere stories live. Discover now