O governo Thicknesse

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A noite parecia mais fria do que nunca quando Olívia se materializou na escuridão em frente à casa dos pais. Tudo estava bizarramente silencioso, em um contraste horrível com os gritos e as explosões das quais ela acabara de escapar. Ainda não havia começado a processar o que havia acabado de acontecer quando abriu a porta da frente e entrou dentro de casa.

A sala estava iluminada com uma luz quente, e ela ouviu as vozes dos pais vindas do escritório. Concentrando todas as suas energias em colocar um pé na frente do outro, ela cambaleou até o cômodo, onde os encontrou sentados em poltronas e conversando preguiçosamente.

"Viv, finalmente", a mãe a cumprimentou, soltando um enorme bocejo em sequência.

Ela piscou. Estava em casa, segura, quando talvez um minuto atrás estivera sob o ataque de Comensais da Morte. Onde Fred ainda estava.

Seu estômago se revirou, parecendo finalmente compreender tudo o que havia ocorrido, e ela sentiu o ar ficar mais rarefeito; o teto parecia baixar em sua direção e as paredes pareciam claustrofobicamente próximas. Ela havia fugido. Havia abandonado Fred, deixado-o no perigo. Havia o deixado para tentar a sorte sozinho contra os Comensais.

"Olívia?"

Os pais agora a encaravam cheios de preocupação. Ela ouvia suas vozes abafadas chamando seu nome, e eles a levaram até a poltrona mais próxima.

"Olívia, o que aconteceu?"

Ela se forçou a engolir. Lágrimas caíram quando ela piscou, e ela limpou a água e o suor do rosto com a manga das vestes. "Eles... O Ministério... Morto."

"Quem?" O pai inquiriu com a voz firme. "Quem está morto, Olívia?"

"Scrimgeour", ela conseguiu responder, antes de se virar e vomitar no carpete. Sentiu o cheiro de chocolate e champanhe misturados com a bile.

A mãe fez o vômito desaparecer e convocou Effy, ordenando que a elfa trouxesse chá imediatamente. O pai estava com os olhos enormes, mas continuou com uma expressão séria.

"Como? O que aconteceu? Conte-nos tudo."

Então ela contou o que sabia — que não era muito. Effy lhe entregou uma xícara de chá de camomila, que ela bebericou aos poucos, sem efeito algum. A mãe então buscou uma poção calmante, e Olívia a virou de uma vez. Sentiu os pensamentos clarearem instantaneamente e, apesar de ainda estar consumida pelo medo, conseguiu relembrar os fatos de modo objetivo.

Scrimgeour havia sido assassinado. E Aquele-que-não-deve-ser-nomeado, o Lorde das Trevas, agora controlava o Ministério da Magia de todo o Reino Unido.

Ela continuou sentada enquanto os pais começavam a discutir entre si.

"É isso, Robert", a mãe exclamou. "Precisamos sair daqui."

"E ir para onde?" Ele retrucou.

"Podemos ir para a casa da minha irmã, na França!"

"E deixar nossos empregos? Viver à mercê dos meus cunhados, comendo da comida deles, sem conseguir sustentar nossa família? Abandonar toda a vida que construímos nos últimos vinte anos?"

"Sobreviver", a mãe sibilou.

"Já falei para você, não correremos perigo se não os desafiarmos. Temos nosso registro sanguíneo..."

"Para o inferno com o nosso registro sanguíneo!"

"FRANCESCA!" O pai urrou, impondo-se. Os dois se encaravam, sem ceder. No mesmo segundo, entretanto, pareceram se lembrar da presença de Olívia, e suas posturas relaxaram. O pai respirou fundo, recompondo-se. "Olívia, vá para o seu quarto", murmurou, em uma voz controlada.

A Última Dança | Fred Weasley (Livro 3)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora