Mais tortas e hospitais

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Olívia passou a maior parte das férias sozinha em casa.

Os pais iam para o Ministério assim que o primeiro raio de sol aparecia, e eles só voltavam tarde da noite, depois que ela já havia jantado, e muitas vezes iam direto para a cama. Ela passava, então, os dias seguindo Effy, a elfa doméstica da família, para lá e para cá, tentando ajudar em qualquer tarefa que fosse. Provavelmente estava mais atrapalhando do que ajudando — pois a elfa precisava lhe ensinar tudo — mas precisava da distração. Já passara os últimos três meses com o nariz enfiado nos livros da escola, queria uma folga dos estudos, mesmo que fosse apenas para substituí-lo por trabalho braçal.

Ela aproveitou, também, para ir testando novas receitas de torta até que chegasse o dia de Natal. Era tradição da família fazer uma competição de tortas entre ela e os pais, e já fazia dois anos desde sua última vitória. Ela fez quatro tortas diferentes, e os pais tiveram que levar potes e mais potes de torta para o trabalho, comendo como lanches e precisando até compartilhar com os colegas para conseguir acabar com aquele estoque.

O dia vinte e cinco amanheceu nublado. Olívia correu para a janela e a escancarou, levando uma rajada de vento na cara logo em seguida. Havia nevado durante toda aquela noite, pois os jardins estavam cobertos por pelo menos um metro de neve, e as nuvens cinzentas que se aglomeravam no céu pareciam indicar que logo viria uma nova tempestade.

Ela observou, por um tempo, esperando. Sabia que criar expectativas era apenas garantir a própria decepção, mas ela não conseguiu evitar. Havia se acostumado. Aquele seria o primeiro Natal em que não receberia nada dele, provavelmente, em três anos. Nos últimos três Natais, ele havia lhe presenteado. Nos últimos três Natais, eles haviam se amado.

Olívia praticava não pensar nele. Sempre que o garoto invadia seus pensamentos, ela se forçava a focar em qualquer outra coisa, tentava fugir daquela assombração. E, durante boa parte do tempo, até que sucedia.

Mas era impossível escapar dele à noite. Todas as noites, quando fechava os olhos, ela o via. Era apenas uma doce fuga por vez, um vislumbre tortuoso de sua vida passada, que lhe escapava de seus dedos assim que a manhã chegava. Poderia facilmente resolver o problema comprando um estoque de poções do sono que lhe inibissem os sonhos, mas havia ficado viciada naquele hábito masoquista; era o único modo que ela ainda podia vê-lo, ainda podia tê-lo — o único modo que ainda podia se convencer de que tudo fora real.

"Olívia!"

A mãe invadiu o quarto, parecendo abismada, e correu para fechar as janelas.

"Que está fazendo? Vai congelar!"

Ela apenas permaneceu ali, deixando a mãe espanar alguns poucos flocos de neve de seu pijama.

A mãe a encarou por alguns segundos. "Venha, Viv", ela chamou. "Seu pai e eu já estamos na cozinha."

Lentamente, Olívia assentiu e foi se trocar. Uma música natalina já preenchia o primeiro andar da casa, e os pais dançavam na cozinha enquanto socavam as massas de suas tortas. Era costume que não utilizassem magia para prepará-las — no início, porque Olívia não podia fazer magia fora da escola, mas também porque era satisfatório poder fazer as coisas com calma e destreza.

"Feliz Natal", ela disse, anunciando sua chegada.

"Feliz Natal", os pais responderam.

Olívia se encaminhou até uma parte vazia da bancada e começou a separar os ingredientes para a torta de maçã com canela, que fora a melhor de seus experimentos.

"Como está a escola?" O pai perguntou. "Sinto que mal conseguimos falar desde que você chegou para as férias."

E de quem é a culpa? Ela quis responder, mas se conteve. "É", disse. "Tudo continua... normal. Tudo em ordem para os N.I.E.M's, acho."

A Última Dança | Fred Weasley (Livro 3)Where stories live. Discover now