Capítulo 14. Ato Final

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Marinette tropeçou na barra do longo e esvoaçante vestido negro.

Pela terceira vez.

Isto é, apenas depois que saíra da último turno da peça que vinham apresentando.

Se fosse acrescentar os outros acidentes decorridos ao longo do dia, em razão da grande camada de tecido de seu figurino, a qual definitivamente não se dava bem com a sua notória falta de coordenação, certamente, a contagem ultrapassaria os dedos de ambas as suas mãos.

Amaldiçoando baixinho o fato de não ter encurtado o vestido doado por Juleka, pelo receio destoar das demais fantasias, dobrou o quanto pôde a pesada barra e seguiu cortando caminho entre o aglomerado de visitantes, até alcançar o depósito.

Ansiosa, abriu a porta de metal e adentrou contente o ambiente lúgubre, suspirando de alívio ao perceber que o barulho exterior era substancialmente reduzido com o selar da entrada. Naquele momento, imaginou que deveria mesmo parecer uma bruxa por demonstrar felicidade por estar em um ambiente tão assustador - as lembranças do incidente com o Horrificador, que atingiu seu ápice insano e gosmento naquele exato local, ainda estavam vividas em sua mente - e riu com o próprio pensamento.

- Parece que eu não sou o único feliz em ter encontrado um lugar sossegado.

Uma voz que a garota conhecia muito bem, fez com que a contentação em seu semblante se convertesse em pavor instantaneamente. Afinal, novamente via-se sozinha com Adrien numa situação estranha e não planejada. Ah, e poucas horas depois de beneficiá-lo com a sua primeira exibição seminua a uma pessoa do sexo oposto, deve-se acrescentar.

Fosse um mês e meio atrás, ela certamente estaria grata pela contribuição do acaso em ter tantas oportunidades - antes, tão raras - de estar a sós com o modelo. Todavia, diante dos últimos acontecimentos, só conseguia pensar que aquilo não tinha a menor graça.

- Desculpa, eu não sabia que tinha gente aqui. - Respondeu rapidamente, Apressando-se em retornar à saída antes que o garoto percebesse que ela nunca mais poderia encará-lo, graças ao seu lindo e angelical sutiã cor-de-rosa.

- Marinette, espera! - Adrien pediu, e a asiática praguejou mentalmente por ainda atender tão automaticamente aos comandos dele. - Você parece cansada. - Pontuou, notando a face abatida da colega, apesar da pouca luz ambiente. - Pode ficar, eu saio. - Declarou, também caminhando em direção a porta.

A menina inspirou, irritada consigo mesma por não conseguir segurar as palavras que diria em seguida dentro de sua boca.

- Você também parece cansado. - Falou, tentando suprimir as notas de preocupação em sua voz.

- Touché. - O loiro sorriu com carinho.

De fato, estava.

Ficar o dia inteiro de pé repetindo o mesmo texto, tinha entrado com facilidade entre as atividades mais exaustivas que já tinha desenvolvido na vida, perdendo somente para treinos severos em esgrima e suas atividades extracurriculares secretas. Tanto é que, baseado no próprio cansaço, deduzira que a mestiça, certamente, não deveria estar muito melhor, o que era reforçado pelo semblante exaurido que sustentava. - Toma. - Disse, estendendo-lhe uma garrafa, pela metade, de água mineral, recebendo um olhar de dúvida em retorno. - Beba, está quente e sua roupa é pesada. - Explicou.

Marinette fez uma careta estranha, fazendo com que ele se retraísse.

- Isso idiota, fale sobre as roupas dela e deixe que ela se lembre que você a viu sem elas e pense que não consegue tirar o maldito sutiã de corações da sua cabeça. - Zombou, mentalmente, crente que a expressão esquisita da menina devia-se à menção as vestimentas dela, o que era um erro, na verdade. Afinal, a garota apenas não assimilou, de pronto, o liame entre seu figurino e a bebida que lhe oferecera.

Operação Jardim Secreto Where stories live. Discover now