Caline Bustier caminhava, atordoada, pelas ruas recém clareadas de Paris. O dia mal havia começado - literalmente, uma vez que seu relógio de pulso ainda macava sete horas - e já se tornara, com facilidade o pior de sua vida.
Ela sentia-se completamente sem rumo.
Injustiçada.
Cansada até.
Esgotada, arrastou os pés até um banco de madeira público, onde se acomodou e, só então se deu conta que encontrava-se no parque situado na esquina do Colégio Francoise Dupont. E ela sequer lembrava-se de ter caminhado naquela direção.
Tal constatação fez com que soltasse uma risada, sem humor.
Talvez seu noivo Maurice estivesse certo. Talvez ela gastasse tempo demais se dedicando ao trabalho e se preocupando com os problemas de seus alunos, de modo que esquecia de viver a própria vida. Talvez ela devesse parar de se exaurir em um emprego onde as cobranças e as críticas superavam - e muito - o reconhecimento. Talvez, também, devesse parar de referir-se a Maurice como noivo, uma vez que ele havia terminado com ela poucos minutos atrás, por todas essas razões. Talvez.
E ali estava ela, sentada em um banco de praça, sem saber se sentia-se magoada, entristecida ou com raiva de toda aquela situação.
Mas uma coisa era certa.
Ela se sentia incompreendida, e questionava se Maurice, ou mesmo seus superiores no trabalho, eram tão perfeitos ao ponto de não permitirem que as próprias preocupações interferissem em seu dia a dia.
Gostaria de poder fazer com que eles - e, quem sabe, todos a sua volta - provassem ao menos um pouco do desespero que ela estava sentindo agora. E esse íntimo desejo foi o suficiente para que uma borboleta negra pousasse, delicadamente, sobre o elástico que mantinha seus cabelos ruivos rigidamente alinhados, tingindo-o de preto.
E naquele momento ela já não era Caline Bustier.
- Você está certa. Eles deveriam compreendê-la, não julgá-la. - Uma voz grave e imponente bradou em sua mente, ao mesmo tempo que a área ao redor de seus olhos queimava, talvez consequência do contorno lilás luminoso que repentinamente vislumbrou.
- Sim. Eles deveriam. - Concordou, em voz alta, levantando-se do banco que estivera sentada até então.
- Chaotic. Eu, Hawk Moth, lhe dou o poder de se vingar de todos aqueles que lhe oprimiram, fazendo com que eles provem um pouco do seu desespero. - A mesma voz, sombria, anunciou pausadamente. - E em troca, você só precisa fazer a gentileza de trazer os Miraculous da Ladybug e do Chat Noir para mim. - Continuou. - Pode fazer isso? - Concluiu com um questionamento.
Antes de qualquer resposta, a mulher sorriu. Um sorriso completamente diferente daquele acolhedor que sempre oferecia aos seus alunos.
- Mesmo Ladybug e Chat Noir saberão como é ter o coração inteiramente tomado pela dor. - Declarou, a voz pingando malícia pura, antes que a escuridão a manchasse completamente.
• • •
Naquele sábado, ao contrário da maioria dos outros, em que Marinette aproveitava para descontar o sono perdido no decorrer da semana, o dia mal clareara e ela já encontrava-se perambulando pelas ruas de Paris. Mesmo seus pais, quase caíram para trás, ao ver que a filha havia levantando-se praticamente junto com o sol.
Mas aquele sacrifício tinha motivo.
Por mais que suas amigas insistissem que não, no fundo, a asiática ainda sentia-se culpada pela escolha do tema do Festival Cultural. Afinal, se analisassem peça por peça da trilha de dominós caídos que formavam toda àquela história, encontraria, bem no princípio, a sua paixão por Adrien, unida a sua incapacidade de se declarar.
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Operação Jardim Secreto
FanfictionUm dia sem celular no afamado Colégio Françoise Dupont, bastou para que Marinette e suas amigas tivessem que recorrer à boa e velha troca de bilhetes para que pudessem manter a comunicação durante a aula. Porém, graças a uma mancada de Alix, o fami...