Capítulo 11. Trama

89 7 2
                                    

Chloé lixava as próprias unhas, demonstrando mais interesse em alinhá-las do que na conversa que se desenrolava naquele momento, o que atraiu certa indignação do garoto de óculos sentado à sua frente.

Constrangida, Sabrina que, como sempre, acompanhava a filha do prefeito de forma leal, lançou ao terceiro um sorriso amarelo, ganhando como resposta apenas um revirar de olhos.

- Deixa eu reforçar, para caso não tenham entendido. - O jovem tomou a palavra, a fim de esclarecer a situação em que as duas garotas tentavam lhe meter. - Para fazer o que estão me pedindo, vou precisar hackear dois e-mails, dois blogs e adulterar um arquivo. - Explicou.

- E o e-mail da gráfica. Não esqueça o e-mail da gráfica. - Sabrina asseverou.

- Três e-mails então - Corrigiu ele.

- Acha que consegue, Michel? - Indagou a ruiva, demonstrando certa desenvoltura para com o garoto.

- Tá brincando? - Um vinco de indignação surgiu na testa do adolescente, que talvez pudesse ser considerado atraente, não fosse pelos cabelos acastanhados sempre desalinhados ou pelas roupas desleixadas. - Tem certeza que precisam de um hacker para isso? Um tutorial na internet talvez resolvesse. - Debochou.

- Acontece que não temos tempo, Michel. - Justificou Sabrina. - Eu sei que poderíamos fazer pelo menos as edições, mas o Nathaniel falou que enviaria a história para a Alya assim que terminasse, e ela garantiu que postaria no blog da escola e no Ladyblog ainda hoje. - Completou.

Inesperadamente, a loura estalou a língua, sinalizando que finalmente interviria na conversa.

- Pare de se justificar! - Ralhou para a melhor amiga, que se encolheu. - Nós estamos pagando, e pagando bem, portanto, se quisermos que faça o nosso dever de física ou plante bananeira no pátio, terá que fazer. - Alegou, prepotente.

Michel encarou a figura retraída da ruiva, questionando-se porque ela se rebaixava a capacho da filha do prefeito. Não que ele sentisse pena, ou algo assim, mesmo que conhecesse Sabrina desde a infância, onde chegaram a compartilhar algumas brincadeiras graças ao fato de serem vizinhos. Era mais curiosidade em razão de uma menina inteligente como ele sabia que ela era, se submeter a tal humilhação.

Sem disposição para engolir os desmandos da loira, suspirou, antes de se manifestar:

- Terei que fazer, se eu quiser fazer. Até onde eu saiba, ainda não recebi pelo serviço, então posso desistir a qualquer momento. - Avisou. - E lembre-se loira: eu não preciso do seu dinheiro para viver. Estou fazendo isso mais por interesses pessoais que profissionais. - Revelou, mal se importando com o fato de Bourgeois estreitar os olhos em sua direção.

Afinal, estava sendo sincero quanto às suas intenções.

Embora Michel fizesse o estilo nerd-gênio-da-informática, era fato que possuía um bom relacionamento com a maioria dos alunos de sua classe, mantendo amizade com boa parte deles. Classe esta que vinha se preparando para apresentar uma peça de teatro ao final do festival cultural, mas viu o interesse do público alvo ser quase que inteiramente desviado para o inovador teatro interativo, projeto da sala das duas garotas a sua frente.

Logo, era mais que óbvia a insatisfação dos colegas de Michel e dele próprio, ao serem ofuscados, inobstante terem escolhido o tema primeiro.

Portanto , essa era a principal razão pela qual Michel decidira ajudar a loira em sua empreitada: realizar uma pequena vingança contra a turma impostora, embora seus colegas não soubessem disso. Motivo egoísta e infantil, mas ele era autoconfiante o suficiente para se permitir realizar os próprios desejos, independentemente de quão absurdos ou idiotas fossem.

Operação Jardim Secreto Where stories live. Discover now