30. Não?

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- Não? - pergunto apenas para ter certeza, enquanto sinto meu coração descompassado no peito.

- É tão cedo... - ela sussurra, enquanto esfrega as mãos por todo o rosto, em completa agonia.

- Você não quer se casar comigo? - falo em um pequeno fio de voz, tentando respirar fundo e controlar meu corpo que me envia sinais claros de uma crise de pânico.

- Eu quero Antônio. Mas não agora... estamos juntos há três meses, ajustando nossas vidas agora. Você mora tão longe...

Não consigo mais escutar, parece haver uma sinfonia dentro da minha cabeça. Me levanto correndo, molhando tudo por onde passo, em busca dos meus remédios, e parece levar um ano o tempo que eu demoro até encontra-los.

- Não posso me sentir assim - falo baixinho para mim mesmo.

Apenas engulo os comprimidos e tento controlar a respiração, enquanto puxo o ar que falta em meu peito. Assim que me sento na cama, Amanda aparece de roupão.

- O que você tem?

Respiro fundo, indicando que agora não consigo falar. Ela se senta do meu lado e segura as minhas mãos.

- Ei, você está assim só por que eu te disse não? - ela pergunta com uma preocupação exacerbada na voz.

- Só? - pergunto em um sussurro.

- Antônio, respira e conta comigo até dez. Vamos. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete. Oito. Nove. Dez. Enche os pulmões de ar.

Faço o que ela me manda, repito três vezes até que um pouco de lucidez me traz de volta.

- Está melhor?

Concordo com a cabeça.

- Vamos conversar agora?

- Sim.

Ela se levanta e se recosta na cabeceira.

- Vem cá - ela me chama, dando batidinhas e colocando um travesseiro no colo.

Vou até ela e me deito, apoiando a cabeça ali, enquanto sua mão vem direito nos meus cabelos.

- Se eu não aceitar. Como vão ser as coisas pra você? - ela pergunta com a voz calma.

- Não sei. Eu não sei lidar com a rejeição, não vinda de você - me viro de barriga pra cima, olhando nos olhos dela.

- Antônio, não podemos esperar só mais um pouco?, eu não quero ter que planejar um casamento agora, não com três meses de namoro.

- E se você planejar o casamento quando se sentir a vontade?

- E você vai aceitar ficar noivo pelo tempo que eu quiser? - ela ergue a sobrancelha, sabendo muito bem a resposta.

- Não.

- Você já tem sua resposta então.

- Você não vai aceitar?

- Não agora.

- Ok - me levanto, tentando fingir que está tudo bem, mas dentro da minha mente tudo está uma verdadeira bagunça.

O restante do dia é estranho, e embora a Amanda tente de tudo para ter um dia agradável, eu não facilito em nada pra ela.

No último dia dela em Miami, eu permaneço na academia o maior tempo possível. Treino acima do limite do meu corpo e quando quase desmaio, resolvo voltar pra casa.

Já é tarde, a encontro sentada no chão do quarto organizando suas malas, com um fone de ouvido e completamente chateada.

- Oi - a cumprimento, testando o terreno.

- Oi, você demorou - me responde, abrindo um pequeno sorriso.

- Eu preciso focar mais no treino, ajuda na ansiedade também - me sento na cama e a observo dobrar algumas peças de roupa.

- Tudo bem. Eu já terminei as malas da Beatriz. Deixei seu jantar pronto, vou só terminar essa aqui e deitar, amanhã precisamos estar no aeroporto às 06h30.

- Certo - me levanto e vou para o banheiro, preciso tomar um banho. Demoro muito embaixo da água, e quando saio, ela já está dormindo.

Me sento no sofá e me perco em pensamentos. Ligo a tv e já estou na metade de um filme qualquer quando ela aparece no corredor.

- Você não vai dormir?

- Estou sem sono - respondo de má vontade.

- Vai ser assim então?

- Assim como Amanda?

- Você vai me ignorar até que eu vá embora da sua casa?, e depois, quando eu estiver no Brasil, vai terminar comigo por mensagem?

- Eu não...

Ela não espera minha resposta, se vira e completamente chateada volta para o quarto.

Eu não tenho reação, não sei por que eu não me levanto e vou atrás. Mas no ápice da minha falta de maturidade, eu apenas permaneço ali sentado.

Assisto tv por horas, e já passam das quatro da manhã quando vou me deitar. Quando meu celular desperta, eu estou cansado demais, então desligo e volto a dormir.

Acordo com um barulho ensurdecedor de obras na casa vizinha. Abro os olhos completamente cansado, olho para o lado e não encontro a Amanda. Estou prestes a levantar para procurá-la quando lembro do voô.

Busco o celular e vejo as horas, 12h21. Puta que pariu Antônio, essa hora ela já deve estar quase chegando no Brasil.

Não me matem, por favor 😬 o que estão achando?, prometo que estou de volta. Beijos ❤️

DocShoe - Agora e sempre Where stories live. Discover now