- E mais nada, Juliano. Nós conversamos no carro, ouvimos música...ele tá sendo um cavalheiro, se é o que você quer saber. Um perfeito cavalheiro.
- Algum olhar? Sorrisos, toques?
- Sim pra tudo. Ricardo tem sorrido tanto que eu acho que ele termina o dia com cãibra no rosto, e tem tocado bastante no meu braço e no meu ombro. Me sinto em um dorama. - Rio.
- Por quê?
- Porque nos doramas os protagonistas passam capítulos e mais capítulos sorrindo e se tocando acidentalmente até criarem coragem de pegar na mão um do outro. O seu irmão tá indo na mesma velocidade - reclamo. Juliano gargalha.
- Ele tá indo com calma, Kelly. Vocês trabalham juntos e o clima pode ficar chato se você der o fora nele.
- Hum, talvez. Você volta amanhã mesmo? - mudo de assunto.
- Sim, o vôo chega às onze da noite. Você tá livre sábado de manhã?
- Tô, sim. Topo ser levada pra tomar café - sugiro na maior cara de pau. Juliano gargalha outra vez.
- Olha, eu tô bem cansado e queria dormir um pouco mais, mas a gente pode almoçar depois que você conhecer a minha casa...
- Hã?! Casa?! - pergunto, surpresa. - Pensei que você morasse com os seus pais!
- Não sei porque você tá surpresa, loirinha, tenho trinta e cinco anos. Eu não morava com os meus pais há tempos, mas voltei porque... - Ele suspira. - Olha, é uma história longa demais pra contar por telefone.
- Mas você vai me contar pessoalmente, certo?
- Certo. Mas em troca...
- Sim, o que você quer? - Porque se forem beijos, Senhor, a sua filha está pronta!
- Que você me ajude a escolher o piso e os revestimentos da casa. A arquiteta estará lá também.
- Claro que eu ajudo, Juliano, mas... - paro a frase no meio.
- Mas o quê?
- Não seria melhor pedir ajuda a alguém mais próximo? A sua mãe, por exemplo?
- Dona Sophia? Ah, ela certamente adoraria escolher o meu piso! E os revestimentos, os móveis, os tapetes, a roupa de cama, a louça...
- Entendi. - Rio. - Você quer que a casa tenha a sua cara e não a dela.
- Exato. Tenho que ir agora, Kellyzinha, a gente se fala. Te pego amanhã às nove e meia, ok?
- Espero você. Beijo!
- Eu vou cobrar. Acredite. - E ele encerra a ligação.
Espera, cobrar o quê? O beijo?
Porra, eu ia adorar que ele cobrasse...
A voz de Ricardo me traz de volta à realidade:
- Bom dia, Kelly...tá tudo bem? Você parece distraída.
- Sim, senhor...quero dizer, não senhor. - O meu rosto esquenta. Corrijo-me: - Ricardo! Hã...você tem uma reunião com a diretoria em vinte minutos. Vou descer pra checar a sala e fazer o café.
Levanto da cadeira e dou alguns passos até a porta.
- Kelly? - Viro-me. - Você teria um minuto?
- Claro. No que eu posso ajudar?
- Eu...eu... - Meu chefe passa uma das mãos pelo cabelo, visivelmente desconfortável. - Nós...bem, nós passamos muito tempo juntos esta semana.
- Sim, passamos. E? - Arqueio uma sobrancelha e o espero "desembuchar".
- E eu...eu queria te conhecer melhor. Você jantaria comigo amanhã à noite?
Coloco uma mão embaixo do meu queixo para que ele não caia. Ricardo está pedindo para sair comigo?! Comigo, uma simples secretária...e fora do padrão?!
Que puta plot twist, hein?!
- Hã, eu...realmente não sei o que te responder, chefe. - E não sei mesmo. Tenho quase certeza de não estar mais apaixonada por Ricardo, e sair com ele pode azedar a minha "amizade" com Juliano.
- Você quer um tempo pra pensar?
- Quero, sim. Sendo bem sincera, sen...Ricardo, não sei se é uma boa idéia sairmos juntos. Você é meu chefe.
- Eu jamais arriscaria a nossa relação de trabalho se não estivesse certo do que quero, Kelly...e é você. Você é perfeita pra mim.
Hein?! Perfeita para você?!
Você não se sentiu tão entediado quanto eu?!
- Eu...eu vou pensar. Com licença. - Saio quase correndo da sala.
Entro no elevador e apoio a cabeça no espelho, meio irritada com a vida. Se Ricardo houvesse me convidado para jantar na semana passada eu teria dito sim imediatamente, mas hoje...
Hoje não é com ele que eu quero jantar. Não é com ele que eu quero sair.
É com o irmão dele.
-
Conforme prometido a algumas das minhas leitoras fiéis, capítulo fresquinho. E parabéns atrasado, dona LidyaOli027!
Chegamos ao terço final do livro e vocês devem estar se perguntando se a partir de agora teremos mais emoções...quem sabe, né (além de mim)? Cenas do próximo capítulo literalmente...
Um beijo! Dani.
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Um Clichê Para Kelly
RomanceKelly Müller sabe que não passa de um clichê, e dos grandes (sem trocadilho): é uma secretária executiva solteira/encalhada, acima do peso, apaixonada por gatos e mais apaixonada ainda pelo chefe, o mulherengo Ricardo Bianchi. Talvez ele a notasse...
20 - Kelly
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