30 • Visita Inesperada

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• Ava Silva - Point Of View

Mesmo com a madrugada silenciosa e os braços de Bea em volta de meu corpo, não conseguia pegar no sono. Meus olhos estavam em alerta, eu sabia o que significava: Precisava de uma dose de álcool. Antes de buscar a morena para nosso encontro, tomei pelo menos dois copos de whisky, estava nervosa e era a única maneira de relaxar.

Ergui minha cabeça que estava sobre o peito nu de Bea, por falta de luz e apenas a claridade que entrava pela janela, conseguia ver somente alguns traços seus. No fundo, me sentia mal por enganá-la, mas não há outra forma. Se eu disser que preciso de mais tempo para me desapegar do álcool, ela pode querer não estar mais junto de mim e é a última coisa que quero. Suspirei, os momentos de algumas horas vieram à minha mente. Nós transamos no chuveiro, no quarto e na minha cama. Juramos amor e eternidade enquanto compartilhamos do mesmo prazer, era quase um pacto que não pode ser quebrado.

A olhando assim dormindo tranquilamente, tenho certeza que fomos feitas uma para a outra e que podem vir todas dificuldades possíveis que ficaremos juntas. Isso é amor, cumplicidade e confiança. Espero que daqui a um tempo, ela entenda o porquê de estar mentindo.

Levantei meu corpo com cuidado e bem lentamente para não acordá-la, assim que sai por completo da cama a cobri com o lençol. Procurei por meu baby doll que estava sempre por perto e o vesti. Pela claridade que vinha da janela estava prestes a amanhecer então, era melhor ir logo antes que a mesma acordasse. Meus passos pela casa eram silenciosos, fui direto a cozinha e ao maldito armário que Bea quase abriu. Coloquei alguns potes em frente a prateleira que posicionei as bebidas, mas naquele momento eu gelei porque poderia ter sido descoberta.

Dois dedos de whisky em meu copo, gelo e o bebi em uma empinada só. Bufei por sentir vontade de mais, não posso beber muito dormindo com Bea bem ao meu lado. Mais dois dedos, um gole e bastou para terminar mais um copo. Não tenho certeza de quantos copos servi ao fim, mas soube exatamente o momento que tinha que parar: Quando meu whisky que já estava aberto, acabou. Não havia outra garrafa disponível, pelo menos não aberta...

- Ok, chega. Chega, Ava. Volte para a cama. - Briguei com minha própria mente e sentidos. Era melhor subir do que esperar Bea acabar me encontrando aqui bebendo e ficar decepcionada. É, tenho que focar em reconquistá-la, por mais que isso aparenta já ter acontecido.

Depois de sumir com qualquer rastro de que estivesse na cozinha, voltei para o segundo andar e fui para o banheiro do corredor escovar meus dentes. Tinha noção de que beber só precisava acabar com meu bafo alcoólico, mas se eu fumasse e seria só deitar ao lado de Bea para ela perceber tudo. Ainda bem que sinto muito menos falta do cigarro do que do álcool.

Voltei para o quarto em passos lentos, abrindo a porta e entrando devagarinho, mal percebendo que havia uma certa mulher acordando bem naquele momento. Assim que virei meu corpo de frente para a cama, me assustei pois Bea estava sentada e coçava o olho, ela deve ter acabado de acordar.

- Ava, o que estava fazendo? - Seu tom era rouco, denunciando o quanto a mesma estava sonolenta, não respondi caminhando para a cama e enfiando-me embaixo do lençol puxando a morena junto de mim. Seu corpo estava nu, colado ao meu.

- Senti fome e tive que descer pra comer algo. - Justifiquei, dando de ombros.

- Você escovou os dentes? - Franziu a testa confusa.

- Está acabando com minha maneira de acordar sem bafo e com a cara não muito amassada após uma noite com minha ex em anos. - Respondi fingindo indignação.

Para mim, naquele momento acabei conseguindo pensar muito mais rápido do que outras vezes, era como se estivesse ficando acostumada a mentir, não que me orgulhasse disso é só que... É a única maneira de proteger nosso relacionamento.

- Boba, não ligo pra isso. - Riu, revirando seus olhos e dando-me um selinho.

- Vamos voltar a dormir, está muito cedo ainda. - a aconselhei, a morena assentiu. - Prometo fazer café da manhã pra você.

- Não esqueça que estou de dieta.

- Eu sei... - murmurei insatisfeita. - Agora vamos descansar. - Pedi e Bea concordou.

Acabei por sentir um alívio em meu coração quando ela me manteve em seus braços e demonstrou confiança em mim. Ela era realmente um anjo e cada vez mais minha certeza de que conseguirei desapegar da bebida sem a morena saber de nada se confirmava. Sendo assim, depois iremos viver juntas e felizes, sem nenhuma culpa ou receio para atrapalhar.

Dessa vez quem acordou sozinha na cama fui eu, procurei Bea com o olhar, mas a mesma não estava em lugar nenhum do cômodo. Estiquei meu corpo, caminhando para o banheiro e fazendo minha higiene matinal. Ainda estava com o baby doll que coloquei para ir a cozinha então, desci as escadas à procura da morena. Um cheiro delicioso de café da manhã parecia preencher todo meu apartamento, meus passos até mesmo se apressaram quando minha barriga roncou.

Na porta da cozinha, encostei meu corpo para admirar a cena. Bea estava apenas com sua camisa branca e calcinha, fazendo panquecas em meu fogão na maior intimidade do mundo. De primeira, mal me lembrei das bebidas, mas logo depois meu olhar foi no armário que aparentava estar intacto.

- Ei. - a voz da morena chamou minha atenção, a olhei e a mesma sorria. - Nem te vi ai. - Se ela estava com esse bom humor é porque não viu nada, certo? Pensamentos positivos. Retribui o sorriso, caminhando em sua direção e selando nossos lábios demoradamente.

- Bom dia, Bee. - Desejei, recebendo mais um selinho.

- Bom dia, Silva. - sua atenção voltou as panquecas. - Estou preparando uma das coisas que aprendi nesses anos, mas infelizmente não posso comer.

- Essa sua dieta é um saco, não? - Resmunguei.

- No início era, mas me acostumei. - Deu de ombros, demonstrando sua despreocupação.

A abracei enquanto esperava a mesma terminar de cozinhar. Optamos por comer na cozinha já que a sala estava uma bagunça pelo jantar de ontem. Organizamos tudo no balcão, Bea comia apenas frutas reclamando que nem deveria ter comido o hambúrguer de ontem. As panquecas estavam deliciosas ainda mais com a calda de chocolate que preparamos de última hora, a morena se sentia torturada quase pulando em meu prato chegava a ser engraçado.

- Então, luta não é nem de perto o meu esporte favorito, mas li algo sobre ter uma luta importante chegando… - Puxei o assunto assim que devorei minhas panquecas.

- Andou pesquisando sobre mim? - Arqueou as sobrancelhas se gabando, revirei os olhos.

- Para falar a verdade, pesquisei. - dei de ombros. - Você está nervosa?

- Um pouco, a mulher com quem vou lutar vive me provocando. - bufou ao falar de sua adversária. - Mas enfim, eu tenho treinado muito e confio no meu potencial. - Piscou em minha direção, sorrindo de forma convencida.

- Você vai, não é? - perguntou e eu franzi a testa confusa. - Me assistir, você vai? - Me encarou, no exato momento eu não tinha uma resposta para lhe dar. Quer dizer, seria a segunda luta em toda minha vida que assistiria e da mulher que amo, pode ser uma tortura e tanto. Fora que isso seria o gatilho perfeito para ficar nervosa e precisar do álcool para me acalmar.

- Eu… - Iniciei a falar, mas fomos interrompidas pela campainha. Alguém muito impaciente tocava a campainha da minha porta sem parar como se estivesse em desespero. Troquei um rápido olhar com Bea antes de correr para abrir.

- Nossa, Silva! - Era Sabrina, resmungando como uma velha e carregando Salem em sua gaiola. A loira mal pediu permissão e já foi entrando, estava completamente surpresa com sua visita já que a mesma não me avisou nada. - Estou ligando pra você desde ontem e não me atende. - minha amiga parecia irritada, largando suas bolsas no chão. - Liguei hoje de manhã também para avisar que viria, mandei mensagem e você nem me visualizou. Salem estava esperando não ter que pegar uber para vir ao seu apartamento principalmente porque agora tem um carro e poderia nos buscar! - encerrou seu discurso, o tom alto e bravo. - Se bem que do jeito que você bebe, era muito melhor um uber, mas sinceramente, eu achei que tinha consideração por mim. - Ofegou ao final.

Meu corpo de frente para o seu me dava a visão perfeita de Sabrina completamente alterada e logo atrás Bea na porta da cozinha, de braços cruzados e expressão completamente séria. Naquele momento, não tinha ideia de como reagir porque com certeza a morena está brava pela presença da loira e Sabrina só falta me comer viva por não ter lhe buscado.

Better Together - Avatrice Where stories live. Discover now