Mas... aquele silêncio no quarto, aquelas olhadas estranhas e o barulhinho dele digitando estavam me irritando. Eu tinha de saber o que ele tanto escrevia naquela coisa.

Eu então encharquei um pano com limpa vidros e resolvi limpar as portas da varanda do quarto. As portas ficavam bem atrás dele, era a desculpa perfeita pra dar uma espiada e quando dei a volta na mesa, Theodoro acompanhou meu movimento pelo canto do olho e quando me virei pra dar uma olhada no computador e ver o que ele estava fazendo o Príncipe fechou seu laptop com tanta força que eu dei um pulo para trás.

— Por acaso estava vendo vídeos indecentes, alteza?

— Isso é coisa de adolescente na puberdade.

Mesmo segurando um frasco de produto de limpeza em uma das mãos e um trapo na outra eu cruzei os braços ao lado dele.

Theodoro ficou olhando pra cima direto em meus olhos.

— Então o que é que você está escondendo aí? — Eu exigi.

— Eu sei que você se esquece desse detalhe, Bella, mas eu sou um Príncipe. Eu lido com coisas muito importantes todos os dias, a maioria delas, confidenciais e todas elas estão em meu computador. Nem todo mundo pode ver o que eu tenho aqui.

— Caramba! — Eu meneei a cabeça lentamente. — Você está mesmo escondendo alguma coisa aí.

— Não estou escondendo, só não é da sua conta.

— Não se preocupe, alteza, não vou contar pra Rainha que você anda vendo coisas proibidas em seu computador.

— Eu já disse que não estou, criadinha!

— Eu não me importo. — Eu falei e espanei uma poeira imaginária com o pano no ombro dele. — Já estou acostumada. Quando você não está correndo atrás de mulheres fora do castelo, corre atrás de mulheres em seu computador. Isso é a sua cara.

Rá! Ele nem respondeu. Eu estava apenas brincando, mas parece que acertei em cheio porque o Príncipe ficou me olhando de um jeito esquisito. É claro que eu tinha acertado na mosca, ele com certeza estava stalkeando alguma mulher naquele computador.

— Sabe, Isabella. — Ainda sentado ele cruzou a perna e os braços e inclinou a cabeça. — É notório que você me vê como um cara qualquer, mas eu tenho alguma importância, sabia? Principalmente quando se trata dos negócios e da diplomacia desse país.

— Não se preocupe, alteza, eu não te vejo como um cara qualquer. Eu só te acho meio burro e muito mulherengo. — Eu falei de nariz em pé, me virei de costas pra ele ignorando quando Theodoro semicerrou os olhos pra mim e comecei a limpar os vidros das portas.

— Você é mesmo uma insolente. — Ele falou, mas eu não senti irritação alguma na voz dele. Dei uma espiada por cima do ombro e ele agora estava em pé com as costas apoiadas em um dos pilares, os braços cruzados de novo, um pé por cima do outro e me olhando com um sorrisinho no rosto. — Já desistiu dessa ideia estúpida de pedir demissão?

— Não é uma ideia estúpida. E não vou voltar atrás.

— Não?! — Ele perguntou de repente como se não esperasse aquela resposta, mas pigarreou e voltou ao tom normal. Eu nem me dei ao trabalho de olhar para ele dessa vez. Eu tinha certeza de que ele estava em pânico por alguma razão. — Achei que a essa hora você já teria mudado de ideia.

— Nada vai me fazer mudar de ideia, Theodoro, eu já me... — Eu parei de repente ao me dar conta. A essa hora? O que ele quis dizer com isso? Eu estreitei os olhos sem que ele visse e esfregava o vidro tão rápido e com tanta força que estava a ponto de trincar. — Sabe, sua mãe me chamou pra uma reunião hoje.

UM PRÍNCIPE NADA ENCANTADOWhere stories live. Discover now