34 - Compaixão ou Culpa?

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Nihor me criou para ser a melhor lâmina que ele já esculpiu, e essa deve ser a analogia perfeita

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Nihor me criou para ser a melhor lâmina que ele já esculpiu, e essa deve ser a analogia perfeita. Forjada à ferro e fogo, ele fez questão de me moldar para o que precisava de mim, e eu não tenho problemas com esse fato. Sua benção me deu a chance de viver após aquele fatídico dia, e seus ensinamentos foram responsáveis por garantir minha sobrevivência até aqui. Eu escolhi seguir o caminho que ele traçou para mim, não vi problema em me tornar alguém odioso e nojento.

Roubar, matar, enganar, trapacear. Tudo isso é tão natural quanto respirar para mim, é parte de quem sou, parte de quem ele me criou para ser, mas, nem ele teria ido tão baixo. Há limites para o quão desgraçado alguém pode ser, até eu tenho noção disso, apesar de ser um oportunista famoso e não se importar em descartar qualquer um que se ponha em seu caminho, meu Senhor não vê com bons olhos nada que prive alguém de sua liberdade.

Liberdade é um direito irrevogável à Discórdia, por mais que qualquer Eleito dele abdique de sua própria autonomia, nem mesmo o mais baixo dos Deuses perdoaria o que fiz. Ele nunca me disse nada sobre a ideia, tampouco me impediria, mas agora me pego pensando: o que ele acha disso?

E eu nunca vou ter coragem suficiente para perguntar diretamente, visto que a resposta pode não me agradar muito.

— Srta. Elin, soube que tem ótimas relações com um oficial da Guarda, Aurélius — comenta o sujeito alto de toga, cujo nome não consigo me lembrar.

Eu deveria estar dando tudo de mim nesse evento, sorrindo a reto e torto, agradando os infelizes da nobreza que se deram ao trabalho de comparecer à este circo, mas eu não consigo tirar minha cabeça de mais cedo, do medo nos olhos de Gerda e da dor que aquela maldição causou nela. Nihor me disse anos atrás, quando me ensinou esses feitiços, que nunca poderia fazer uso deles se não fosse pela minha própria vida. E eu falhei miseravelmente nessa tarefa.

— É um velho amigo — murmuro aérea.

Aurelius é alguém com quem realmente me importo, como vai reagir quando souber no que me meti? Quer dizer, eu quis uma reputação ruim o suficiente para amedrontar a nobreza, é óbvio que ele vai saber, assim como Logan, e consequentemente, Estefan.

— Me parece que sua afilhada já está perdida de amores por Arthur Frollos — zomba o sujeito, parecendo levemente ofendido com minha distração.

Obster força o riso concordando, é a quinta vez na noite que o noto querendo me estrangular com os olhos. Estou indo de mal a pior, mas não é como se eu não tivesse o avisado assim que regressamos ao palacete, na verdade, fui extremamente verbal sobre não ter condição alguma de lidar com ninguém.

Me lembrar de Arthur fez cada pelo de meu corpo se eriçar, recordando de seus toques invasivos e conversas infindáveis. Torci o nariz e me afastei do círculo de velhos irritantes tagarelando, antes que pudesse raciocinar o quão rude esse ato seria, só me restou rir de minha própria estupidez quando notei e não adiantaria mais voltar atrás. Essa foi a sexta vez na noite que Obster desejou muito poder me estrangular.

Eleita da DiscórdiaWhere stories live. Discover now