15 - Sangue do meu Sangue

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Quando desperto não há mais luz do sol entrando pelas janelas, a penumbra da noite teria engolido o quarto inteiro se não fossem os candelabros bem posicionados através do cômodo

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Quando desperto não há mais luz do sol entrando pelas janelas, a penumbra da noite teria engolido o quarto inteiro se não fossem os candelabros bem posicionados através do cômodo. Não vejo Otto nem Marshall ao meu redor, isso me causa certa angustia e não consigo conter o grito de pavor quando me sento na cama para dar de cara com uma figura alta parada aos pés dela, meus olhos se fecham por instinto, isso não pode estar acontecendo outra vez.

Não quero sentir tudo aquilo de novo, ver aquilo em cima de mim e tampouco ouvir sua voz assombrosa, sinto lágrimas e ainda consigo me encolher num movimento rápido, teria jogado o cobertor por cima da cabeça se minhas mãos não tivessem falhado em agarrá-lo.

— Elin, sou eu.

Ouvir sua voz faz meu corpo relaxar, mas ainda entreabro apenas um olho para ter certeza que não estou sendo enganada. Meu peito aperta ainda mais ao constatar que a silhueta só pode ser a de Nihor, está metido em roupas caras e com uma porção de joias, mas ainda é ele. Apesar da vontade avassaladora de começar a chorar e saltar em seus braços, eu mal tenho tempo de reação.

A porta é escancarada em segundos por Marshall acompanhado do pai, ambos travam no lugar ao dar de cara com um Deus no meio do cômodo parecendo desaprovar a presença deles. Afundo o dente nos lábios para conter o choro, acho que já me humilhei mais do que suficiente para os elfos, Obster gagueja um pedido de desculpas em élfico que mal consigo entender enquanto Marshall permanece imóvel.

— Que seja, alguém poderia me explicar essas feridas e essa marca na minha filha?! — indaga irritadiço se dirigindo a meu anfitrião.

Abro a boca na intenção de responder, mas seu dedo indicador se ergue na minha direção como um sinal claro que é melhor eu me manter de boca fechada. Ele está de péssimo humor como imaginei que ficaria, suspiro e tento me concentrar em conseguir sair da cama. Me assusto ao ver Obster não apenas abaixar a cabeça, como se ajoelhar num piscar de olhos sem hesitar por um segundo.

— A dor da marca a fez perder o controle e alguns destroços causaram ferimentos superficiais, nós supomos — explica prontamente. — Quanto a marca, não temos como precisar as intenções de Farvi, Milorde.

Marshall fica ainda mais estagnado no mesmo ponto ao contemplar o pai ajoelhado, à beira de implorar perdão. Meu queixo também está caído, mas noto que Nihor não está nada satisfeito com a resposta. Seus ombros se contraem e corre a mão pelo cabelo num gesto que conheço bem, está muito além de irritado, está a ponto de matar alguém por ter feito a idiotice de existir perto dele.

— Essa maldita casa não estava com uma proteção mágica, estava? — indaga debochado.

— Não, nós não consi-

— Herbert me faça um favor: suma da minha frente e coloque seus malditos homens para fazer o serviço deles antes que eu perca ainda mais a paciência.

Chamar um Grão-Elfo pelo nome mesmo num círculo de pessoas íntimas é um tanto indelicado, mas a situação aqui está um pouco além de uma simples falha de etiqueta. Tento falar outra vez, mas o olhar fulminante de Nihor se fixa em mim por um instante quase me desafiando a tentar fazê-lo, me encolho calada como resposta. Herbert pede desculpas mais uma vez antes de se levantar e ir fazer o que lhe foi dito, Marshall parece não conseguir se mover então é arrastado pelo colarinho para fora do ambiente com nenhuma delicadeza.

Eleita da DiscórdiaWhere stories live. Discover now