Capítulo 29

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Sem duvida alguma eu amava Maria e com ela ali nos meus braços, com a cabeça deitada em meu peito, eu sabia que tinha tomado a decisão certa em ignorar o que o pai dela queria.

Ele podia achar que eu não fosse o melhor para sua filha e ele tinha todo o direito de pensar assim, eu fiz muitas coisas erradas no meu passado, coisas pelas quais eu deveria estar preso, mas eu não estava e havia deixado tudo isso para trás, junto com a minha cadeira de presidente no Devil's Head.

Poderia até não ser digno dela, mas ela me ama assim como eu a amo, então não iria a lugar nenhum.

- Acordou tão sério hoje. - a voz dela me trouxe de volta ao presente e eu virei minha cabeça para poder olhá-la. - O que está maquinando nessa cabecinha linda?

Se ela soubesse com o que eu estava preocupado ficaria muito triste e tristeza era a última coisa que eu gostaria de ver no rosto dela.

- Estava pensando em como seria o melhor jeito de te acordar.

- Acho que tenho algumas ideias. - sem esperar mais ela jogou a perna sobre mim me montando. - Bom dia meu safado tatuado.

Ficamos naquela cama até Will acordar e começar a bater desesperado. Maria desceu com ele para fazer o café enquanto eu tomava um banho, quando cheguei na cozinha vi que minha mãe tinha chegado e conversava com Maria enquanto ela fritava os ovos.

Era aquilo que eu queria dali em diante, minha família completa daquela forma.

- Até que enfim o preguiçoso resolveu descer, estamos combinando de ir ao parque hoje a tarde. O que acha?

- Ótima ideia, só vou precisar passar no bar antes pra receber uma entrega, mas vocês podem ir na frente.

Maria se aproximou e deu uma mordida em meu ombro antes de se sentar do meu lado.

- Aproveite e me traga aqueles papéis da sua mesa, sei bem que sua contabilidade está tão bagunçada quanto seu cabelo.

- Ei, meu cabelo está ótimo. Mas tem razão, preciso arrumar tudo isso ou vou surtar no fim do ano.

Ela gargalhou, debochando da minha falta de interesse em fazer as coisas do jeito mais fácil. Fazer o que se ela tinha se apaixonado pelo homem mais sossegado da terra?

- Quando vai ser o casamento? - mamãe perguntou acabando com a nossa risada e atraindo nossa atenção.

- Que casamento? - questionei mesmo sabendo que me arrependeria.

- Vocês dois estão tão unidos, já quero saber quando vai ser o casório.

Revirei os olhos querendo retrucar com minha mãe pra que parasse com aquela besteira e ao mesmo tempo queria apoiá-la.

- Vai acabar assustando a Maria fujona aqui. - usei o trocadilho de proposito para provocar.

Eu não tinha nenhum problema com me comprometer para o resto da vida com ela, pra mim já era pra sempre. Mas eu sabia que tudo era novo de mais para ela, minha garota ainda estava se acostumando a estar apaixonada.

- Dona Magda seu filho tem que sofrer um pouquinho mais, não posso ceder tão fácil assim aos encantos dele. - ela falou com a sogra e Will gargalhou, como se entendesse toda a conversa. - Quando ele tiver quarenta quem sabe eu aceito esse pedido ai.

- Sabe que só faltam cinco anos pra eu chegar lá, não é? Cinco anos pra me casar com você vai ser fichinha de encarar.

E eu não estava mentindo, desde que ela não fugisse da minha vida eu poderia esperar por todo o tempo que fosse necessário.

Depois do café Maria preparou uma cesta com comidas para o piquenique e foram direto para o parque enquanto eu fui até o bar, a entrega foi rápida, o sábado foi de casa cheia e ainda tínhamos o domingo, então eu arrumei tudo no bar e no deposito antes de ir até meu escritório começando a pegar todos os papéis bagunçados.

- Senhor Nascimento! - exclamei assustado quando dei de cara com o homem na porta dos fundos do bar

Tinha saído tão distraído que nem tinha me notado ele ali, parado na frente do próprio carro, com os braços cruzados e a cara fechada, provavelmente por saber que eu não tinha deixado sua filha como exigiu.

- Miguel, então é aqui o seu bar.

- Sim, é aqui. Como me encontrou aqui? - questionei estranhando que ele tivesse ido direto até ali, Maria não me disse nada então não podia ter sido ela.

- Já vim várias vezes ao restaurante da minha filha, conheço o único bar de motoqueiros na frente dele. - o homem se desencostou do carro e andou na minha direção. - Ou deveria chamar de arruaceiros?

- O que?

- Não, talvez delinquentes seja a palavra certa. - meu sangue ferveu com as palavras dele, mas eu já deveria esperar por isso. - Não sei se Maria contou, mas a irmã dela é policial e não demorou nada em puxar sua ficha, uma ficha muito longa por sinal, começou cedo, não é?

- Aquilo ficou no meu passado, no momento em que meu filho nasceu eu deixei aquelas coisas e foquei em ter uma vida limpa.

- Limpa? Pode até dizer isso de todas as coisas ilegais que fez, mas não tem como dizer o mesmo do rodizio de mulheres na sua cama antes e depois que se tornou viúvo.

Como ele sabia daquilo? Como ele sabia do meu passado?

- Senhor eu amo a sua filha, assim como ela me ama, não vamos nos separar por um pedido descabido e sem sentido. Tudo o que posso fazer é lhe garantir que vou dar tudo de mim para ser o melhor para sua filha!

- Você é dez anos mais velho que a minha menina, tenho certeza que já aproveitou a vida o suficiente, bem diferente dela. Maria só tem vinte e cinco anos, tem a vida inteira pela frente, uma vida brilhante com o restaurante que ela tanto batalhou para conseguir. - ele olhou em volta, como se procurasse alguém e então focou os olhos nos meus. - Seria uma pena que o restaurante fosse tirado dela, não acha?

Ergui as sobrancelhas em descrença, ele estava mesmo ameaçando tirar o restaurante da filha caso eu não terminasse?

- E como vai fazer isso se o restaurante é da sua filha?

- Eu dei de presente e ela nunca se importou em trocar para o próprio nome...

- Não pode fazer isso! Maria deu duro, trabalhou por anos para que o restaurante virasse o que é hoje, não pode simplesmente arrancar isso dela porque não gostou de mim.

- Você está me forçando a fazer isso, não vou ficar sentado assistindo alguém como você estragar a vida da minha filha. - ele apontou para o restaurante do outro lado da rua sem nunca tirar os olhos de mim. - Está me forçando a fazer isso, a tirar o que ela mais ama. A escolha é sua Miguel!

Como se não tivesse jogado uma bomba em cima de mim, ele voltou para o carro com uma tranquilidade no olhar e foi embora.

Aquele filho da puta, não podia deixar isso acontecer com ela, o restaurante era tudo pra Maria, sua vida toda, como ela dizia era sua única paixão.

Mas como eu iria terminar com ela? Eu não tinha ideia de como viveria sem ela e Will então seria ainda mais sério. Passamos o sábado e essa manhã nos declarando, há algumas horas atrás eu estava pensando em casamento e agora tinha que lidar com aquilo.

Eu estava diante de um dilema, qualquer uma das minhas escolhas iriam magoar Maria e acabar com a nossa relação, além de que eu jamais poderia contar a ela o que o pai estava fazendo, acabaria com a imagem que ela tinha dele e eu não seria o responsável por isso.

Inferno, eu precisava de uma luz para descobrir o que fazer!

Amor de Motoqueiro - Concluído حيث تعيش القصص. اكتشف الآن