Capítulo 25

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Era domingo dia de almoço em família, no caso a família do Miguel. Já tinha visto eles em fotos e tinha ouvido falar muito sobre a família grande, maluca e barulhenta. Mas o que eu podia falar, não é mesmo? A minha era igual.

Precisava que dizer que não esperava que aqueles homens enormes, cheios de tatuagens e usando coletes com caveiras nas costas com o nome do clube, fossem ser tão crianções, o mesmo valia para as mulheres com cara de duronas, usando o mesmo colete e tão cobertas de tatuagens quanto eles, fossem tão acolhedoras e boas de bola.

Tinha acabado de colocar Will na cama, o pequeno capotou todo sujo mesmo, tinha gastado todas as energias brincando com os primos. Não demorou para que os olhinhos vermelhos se fechassem e ele ressonasse pesado em meu colo. Observei por mais um momento ele dormindo pacificamente, Will era uma criança amorosa e não demorou para me ganhar, era assim com todo mundo, não tinha como resistir aqueles olhinhos e o sorriso doce.

Afastei os cabelos grandes e lhe dei um beijo na testa antes de me afastar o ouvindo resmungar alguma coisa inteligível.

Desci as escadas preparada pra voltar a conversa e arrancar mais histórias vexames do passado de Miguel, quando dei de cara com Brutos na cozinha tomando o leite que havia sobrado.

- Leite com mel, hã? - ele disse virando o copo.

Brutos era um homem que parecia mais uma montanha de tão alto e forte, uma montanha cabeluda, os cabelos dele eram bem maiores do que a cabeleira de Miguel. O homem era intimidante, seu apelido combinava totalmente com a imagem dele, bruto.

- É costume de família. - murmurei voltando a realidade. - Minha avó fazia pra gente e agora fazemos para os filhos.

- Filhos humm? - resmungou de volta erguendo as sobrancelhas como se me desafiasse.

Merda, eu não tinha pensado antes de dizer. Não queria que pensassem que eu estava querendo confundir a cabeça do menino ou assumir um lugar que não era meu. Eu amava o garoto e tinha sido automático fazer o leite pra ele na primeira vez, depois disso foi algo natural que ele me pediu quando estava com sono, até que virou um ritual só nosso.

- Eu não...

Miguel nunca tinha mostrado se importar ou estar incomodado com aquilo, eu com certeza adorava, mas no olhar que Brutos me lançava eu vi que ele não compartilhava o mesmo sentimento.

- Aquele menino é a vida dele você sabe? Não sei o que Miguel te contou, mas perder a Luna o deixou devastado, só que ele precisava continuar vivendo por aquele garotinho deitado lá em cima. Miguel ficou desde o primeiro dia pra lá e pra cá com Will no colo, não usando camisa enquanto dava mamadeira para que o filho sentisse um pouco do que seria mamar com a mãe. - Brutos contornou o balcão da cozinha, com passos lentos enquanto falava, se aproximando e me fazendo temer pelo que viria a seguir. - Ele passou por um inferno, chorando escondido para que ninguém visse, mas eu vi. Vi o quanto foi difícil para ele estar de luto pela mulher e ficar feliz por ter um filho. Todos nós havíamos perdido, uma amiga, parceira, uma irmã, mas Miguel tinha perdido a mulher da vida dele, levou muito tempo para que se recuperasse e voltasse a não sentir culpa por estar feliz. - engoli em seco e pisquei os olhos tentando afastar as lágrimas e respirei fundo esperando seu golpe final. - Então se você não ama aquele garotinho lá em cima e o homem que está lá fora, é melhor que suma de uma vez. Não vou deixar ninguém machucar os dois! - afirmou virando as costas.

Era isso? Brutos achava que eu não os amava? Eu amava, tinha sido a descoberta da minha vida, saber que eu conseguia me apegar a alguém como me apaguei a Miguel. Não queria ir embora, virar as costas pra tudo que ele me causava e fingir que não acontecia. Não quis isso desde o começo e agora mais ainda.

- Eu não estou indo a lugar nenhum! - falei determinada com o queixo mais erguido, para que Brutos entendesse que por mais amor que ele sentisse, não podia me mandar embora achando que eu não ia lutar pelo que eu queria.

Brutos se virou com os olhos semicerrados, como se estivesse prestes a me fuzilar. Então voltou para onde eu estava com passos largos até me alcançar, seu rosto desceu até estar no mesmo nível que o meu.

Por um segundo acreditei que ele me arrancaria dali sobre seus ombros, mas em vez disso sua bochecha encostou-se à minha e ele sussurrou contra minha orelha.

- Você demorou pra aparecer. - seus braços me envolveram em um abraço de urso. - Bem-vinda a família!

- Cassete cara. - gargalhei suspirando de alívio e deixando seus braços me apertarem até me tirar do chão. - Você me assustou.

Então o grandão me soltou com um sorriso contido em minha direção, ele estava cuidando da família, tendo a certeza que não machucaria nenhum deles.

- Me ajuda com a louça? - Brutos se afastou já assumindo o lugar na pia.

- Não mesmo, nós ganhamos o jogo vocês que lavem. - cheguei na porta encarando o olhar sombeteiro dele. - Meninos pratos! - gritei vendo os outros se levantarem sem muita animação e resmungando em resposta. - Você é um bom irmão. - falei me voltando para Brutos que já separava a louça.

O homem não respondeu, apenas continuou com o olhar tranquilo e os lábios levemente repuxados. De repente a cozinha estava pequena, com todos os músculos, cabelos e gritaria, cada um tomando uma tarefa para agilizar.

Já era por volta das dez da noite quando Miguel me arrastou para cima, me puxando para dentro do banheiro, estávamos sujos e fedendo aquela altura. A casa finalmente tinha ficado vazia, Will já tinha acordado e voltado a dormir, dona Magda estava assistindo televisão no seu quarto.

A paz reinava.

- E então, o que achou? - ele me perguntou enquanto me ajudava a lavar os cabelos cheios de grama e terra.

- Acho que acertei o ninho. - respondi depois de pensar por um segundo, com minha mente vagando em tudo o que aconteceu hoje, como me receberam e a forma que eram unidos.

- Espero que essa frase não continue com aquela merda de: errei o pássaro. - ri alto prolongando sua agonia e Miguel acertou um tapa na minha bunda me arrancando o fôlego.

- Significa que estou me sentindo em casa, achei o ninho para sossegar. - me virei para ele encarando seu rosto surpreso.

Os cabelos loiros molhados grudavam no seu rosto tampando minha visão, mas tratei de afastar todos ficando na ponta dos pés e plantando um beijo em seus lábios. Não precisei ir além pois seus braços me apertaram e as mãos seguraram minha bunda me impulsionando para estar no seu colo. O beijo não era faminto, enlouquecido, era calmo, longo, com adoração. Miguel subiu uma das mãos até meu pescoço e me segurou pela nuca ditando o ritmo.

Era tudo o que eu precisava para acabar o dia com chave de ouro. Ele era tudo o que eu sempre quis e nem sabia.

Amor de Motoqueiro - Concluído Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu