Capítulo 11

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Eu sai da casa de Maria naquela manhã pensando em tudo o que tinha acontecido, ela não era uma mulher que eu tive uma noite quente e nos despedimos no dia seguinte como pessoas adultas, nem tínhamos transado ao menos e eu ficava por ai sentindo esses choques estranhos toda vez que nos tocávamos.
Mas as coisas iam além disso, meu filho estava se envolvendo e eu precisava estabelecer uma linha aqui, não queria Will se apegando a alguém se ela não planejava ficar por muito tempo em minha vida. O garoto sentia falta de uma mãe e isso não era segredo para ninguém, mas a última coisa que eu desejava era que ele se machucasse quando visse que Maria não seria nada do que uma amiga.
Quando chegamos em casa a algazarra e barulheira era possível ser ouvida mesmo com o ronco da moto. Ontem quando deixei mamãe em casa, Brutos já tinha vindo ajudar com sua mãe, mas agora era possível ver que boa parte da família estava ali. Alguns já fuçavam mexendo nos armários e no fogão, outros conversavam no quintal, rodeando minha mãe.
- O almoço de domingo foi adiantado e não me avisaram? - questionei sorrindo e erguendo os braços para a bagunça.
- Não enche miguelzito. - brutos zombou chegando mais perto.
- Vovó! - Will correu em direção à matrona sentada na cadeira e com a perna engessada para cima. - O que aconteceu?
- Não acredito que não contou para o garoto. - brutos murmurou ao meu lado e foi seguido por minha mãe.
- Pra quem ia só buscar o filho você pareceu demorar muito, até esqueceu o assunto, hã? - provocou.
Ela sabia bem onde eu tinha ido buscá-lo e fez questão de falar sobre isso antes que eu saísse. Minha mãe era mais uma que estava gostando muito de Maria.
- Eu domi, não vi o papai chega. - Will se juntou aos primos pegando canetinhas e começando a rabiscar o gesso, aproveitei para puxar uma cadeira e me sentar, sabendo que aquela conversa ia demorar.
- Você dormiu sem seu pai? - todos assim como eu o olharam surpresos enquanto ele discorria a historia de como pegou no sono com ela.
- A tia Maria fez leite pa mim, colocou eu no colo e cantou. - ele explicou falando bem errado, e minha mãe me encarou com olhos inquisidores, mas até eu mesmo estava encarando ele de forma estranha.
De certa forma o ouvir chamá-la assim mexeu comigo, mais do que ter escutado ele chamar qualquer outra amiga da família assim, porque algo dentro de mim gritava que as coisas com ela não seriam simples assim.
Novamente a música do Scorpions vem a minha cabeça, "o vento da mudança sopra direto na face do tempo, como tornado que irá tocar o sino da liberdade para a paz de espirito". Claro que a letra não falava sobre amores, mas essa frase não saía da minha cabeça, alguma coisa queria reafirmar que ela ia ser como um tornado em minha vida, um vento de mudanças, disposta a bagunçar tudo que eu tinha, mas de uma forma boa.
- Ela cantou pra você? E fez leite? - a mãe de Brutos questionou incrédula. - E você dormiu?
- É, leite com mel. - ele continuou alheio a todos os olhares curiosos em sua direção. - É bem gostoso. E cantou... não lembro. - ele fez uma pausa como se tentasse se lembrar da letra da música, que provavelmente só havia ouvido uma única vez. - É ainda bem nana nana nana... - Will continuou cantarolando a repetição de "nana" infinito, mas nenhum de nós fazia a mínima ideia de que música era aquela.
- E você dormiu onde? - dona Magda me questionou erguendo o rosto em minha direção, já desconfiada com tudo.
- O papai domiu no sofá... humm não sei onde tia Maria domiu. - ele abriu a boca praticamente entregando tudo. - Mas ela acodou cedo e a gente fez café e o papai comeu com a gente! - meu menino disse animado de mais com algo tão simples e aquilo doeu em meu coração, por ver que mesmo querendo eu não conseguia lhe dar tudo o que ele merecia.
- Acordou hein! - Brutos jogou o braço em volta do meu pescoço me sacudindo, quase me fazendo cair da cadeira. - A Maria deve ser ótima de boca porque olha só esse pescoço.
Me recriminei no mesmo instante por não ter puxado a gola da jaqueta para que cobrisse aquilo. Denis me circulou do outro lado e em um solavanco puxou a jaqueta de couro que vestia.
- Olha só isso aqui! Acho que já descobrimos onde ela dormiu afinal.
Imaginei que haviam marcas em meu peito e pescoço, não de suas unhas como eu estava acostumado, graças ao seu trabalho Maria mantinha as unhas sempre pequenas de mais para causar algum estrago, mas isso não impediu que ela me mordesse, me chupasse e arranhasse seus dentes sobre minha pele.
Agradeci que Will estava distraído de mais com os primos e a pintura no gesso para ouvir alguma coisa que disseram, mas não tive tanta sorte com minha mãe, em seus olhos se lia: depois conversamos.
O almoço foi regado a muita conversa como sempre e hoje em especial pareciam voltados a falar de Maria, eu entendia parte da preocupação de todos comigo e com Will, desde que a mãe dele morreu tem sido apenas nós da família, eu não mantive uma mulher na minha vida por mais do que duas noites.
Mas eu sabia que não poderia arrastar ele para dentro de algo que não fosse durar, ele precisava de uma mãe, mas eu não sabia se ao menos estava pronto para ter outra mulher de forma permanente na minha vida. Ainda tinha Maria, quem diabos disse que ela queria algo comigo? Ou que desejasse ser mãe?
Minha família maluca e precoce continuava a impulsionar as conversas ao redor do assunto de relacionamento e família, apenas com a tentativa de plantar aquela ideia na minha cabeça. Eles nunca souberam ser sutis.
Porém não consegui manter meus pensamentos realistas sobre isso já que Deb me ligou, um tanto afobada, contando de uma briga no restaurante. Tudo o que pensei foi no lugar sendo assaltado novamente e Maria fazendo a vez de justiceiro e atacando os ladrões.

Amor de Motoqueiro - Concluído حيث تعيش القصص. اكتشف الآن