Simone. - XV

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Faziam exatos três anos que estava trabalhando como Senadora pelo meu estado. Tive uma trajetória na carreira política muito gratificante, graças ao meu sobrenome. Minha linhagem e minha força de vontade me permitiram viver os melhores anos da minha vida profissional. Foi no mesmo ano que fui escolhida como líder da minha bancada no Senado federal que reencontrei Soraya. Ela estava lá para fazer um papel parcialmente semelhante ao meu e o coração se encheu de orgulho ao perceber que era realmente verdade e não só boatos de bocas alheias. Sempre tive certeza absoluta da vocação que ela tinha para fazer tudo o que quisesse.

Iniciamos mais uma sessão, assisti Soraya discursar no microfone sobre os projetos em prol da proteção às mulheres vítimas de violência. Era ótima e estava no lugar certo. Depois surgiu uma reunião informal, todos conversavam sobre suas vidas pessoais e profissionais. Era minha chance de tentar conversar com ela e provavelmente ser ignorada.

– Soraya?– Toquei levemente seu ombro

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– Soraya?– Toquei levemente seu ombro. Ela conversava com um colega sobre sua experiência.
– Simone! Oi.– Teve uma reação que eu não imaginava ver.
– Como você está? Foi impecável hoje.– Esbocei um sorriso gentil. – É magnífico te ver aqui.– Tive a audácia de partir para um abraço.
– Estou perfeitamente bem.– Ela retribuiu o sorriso. – Agradeço muito, Simone.– Aceitou o abraço com uma imensa gentileza. Realmente não esperava aquele comportamento.

– Podemos tomar um café?– Soltei e inclinei a cabeça, incentivando-a

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– Podemos tomar um café?– Soltei e inclinei a cabeça, incentivando-a.
– Claro! Antes preciso ajeitar algumas coisas no meu gabinete, mas para ser bem sincera, ainda estou um pouco perdida. – Ela riu. Era o sorriso mais lindo do mundo. Me inclinei um pouco para olhar os papéis que estavam na pasta que ela apanhou para carregar nos braços.
– Gabinete 01. Vem comigo.– Sai andando na frente e o barulho do salto contra o piso de madeira me fez ter a certeza que ela estava me acompanhando.
– Aqui.– Empurrei a porta e dei espaço para ela entrar primeiro.
– Obrigada.– Ela entrou e ficou me esperando entrar também. Fechei a porta atrás de nós.
– Como está a sua vida? Casou?– Perguntei exatamente o que queria saber, mas com a entonação de quem fazia uma pergunta qualquer para puxar assunto.
– Olha onde estou, Simone, minha vida está ótima! – Ela colocou as pastas sobre a imensa mesa também de madeira e se encostou ali para dar continuidade a conversa. – Estou quase divorciada. – Cruzou seus braços.
– Percebeu que não precisava dele?– Fui corajosa.
– Percebi que não precisava de ninguém.– Ela estava diferente, confiante.
– Isso é ótimo!– Acabei sorrindo e colocando a mão dentro do bolso da calça social.
– E você? Ainda é casada?– Seus olhos estavam vidrados em mim.
– Eduardo nunca foi um empecilho de viver a minha vida, Soraya, você sabe disso.– Acabei dando um passo em sua direção.

Um silêncio tomou conta daquele cômodo por longos minutos, era uma ótima oportunidade para encerrar a conversa e seguir a vida, mas eu não queria aquilo e ela também não. Sentíamos que era nossa oportunidade de esclarecer as coisas.

– Por que você foi embora, Simone?– Ela finalmente virou o rosto e deixou de me encarar, talvez para esconder os olhos marejados por ter a coragem de tocar no assunto.
– Meu bem.– Acabei não aguentando a reação que ela teve e caminhei em sua direção. Soraya me mostrou a palma da mão aberta, como quem impedia que eu me aproximasse mais. Olhou para o teto em uma tentativa de não deixar que as lágrimas caíssem e respirou fundo antes de me olhar outra vez. – Sempre tive Eduardo como companheiro. Era rotineiro, não apaixonante. Ter você foi a parte mais excitante da minha vida, não só porque você é uma mulher e tanto, mas porque você me dava sede de viver. – Soltei as palavras como quem soltava o ar depois de segurá-lo por bastante tempo. Me encostei ao lado dela na mesa. – Soraya, eu estava apaixonada por você. Tem noção de como foi assustador perceber isso? Nunca tinha sentido nada parecido na vida. Não sabia como continuar.–

Soraya levou a destra para segurar o pingente do colar que tinha no pescoço. Comportamento típico de quem se sentia ansioso ou desconfortável. Ela ficou em silêncio por um tempo, depois virou-se em minha direção e falou com a voz baixa.

– Você pensou em me procurar?– Seus olhos estavam avermelhados.
– Só todas as noites antes de dormir.– Acariciei seu rosto com as costas da mão e ela permitiu o ato. – Eu me arrependi tanto. Se eu pudesse voltar atrás, tinha mandado seu namorado ir à merda e tinha levado minha mulher para casa. – Limpei o cantinho dos seus olhos com o polegar e ganhei um sorriso fraco dela.
– Mas não fez.– Senti o impacto da frase me atingir certeiro no peito.
– Não tive coragem de te procurar. Muito provavelmente você estaria ocupada me odiando. – Ela concordou com a cabeça.
– Eu jurei que te odiaria para o resto da minha vida.– Disse enquanto retomava sua postura.
– E continua me odiando?– Sussurrei. Era uma dúvida real, eu não estava em posição de afrontar ou tratar com cinismo sua dor.
– Nunca consegui. Nem por um segundo.– Ela tocou meu pescoço e acariciou minha nuca com a pontinha dos dedos. – É impossível existir um mundo onde eu não seja completamente apaixonada por você, Simone. – A loira aproximou seu rosto do meu aos poucos. – Isso te assusta?– Estava perto o suficiente para não precisar falar alto.
– Não.– Arrastei levemente meus lábios aos dela, enquanto meus braços contornavam sua cintura. – Eu sinto exatamente a mesma coisa.–

Foi só o que eu consegui falar antes que o desejo que dominava meu coração me fizesse puxar ela para perto e finalmente beijar sua boca outra vez. Tinha saudade, desejo e lembranças. Era como se nunca tivéssemos partido, como se nunca tivesse existido dor. Eu me sentia transbordando outra vez e isso só era possível quando eu tinha aquela mulher em meus braços.

–Eu senti a sua falta.– Ela sussurrou, enquanto seu indicador contornava meus lábios.
– Eu também senti a sua.– Apertei ela dentro do meu abraço e ali parecia que o mundo era infinito.

Nossa rotina no senado seguia perfeitamente bem. Tudo ficou ainda melhor depois que tive a sorte de reencontrar Soraya e acertar as coisas. Sentávamos lado a lado nas sessões, hora ou outra minha mão encontrava com a dela sob a mesa, entrelaçávamos nossos dedos e fingíamos normalidade.

Nosso amor era invisível para as pessoas, mas era nítido e imenso em cada olhar, cada toque e em cada conversa. Ninguém era capaz de enxergar isso, mas existia e estava ali, era real.

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