Soraya. - IV

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Levantei cedo em uma manhã de domingo, novamente de ressaca, meus finais de semana tem sido uma loucura ultimamente. Foi necessário um banho quente para as memórias da noite anterior surgir em minha mente e um sentimento de aversão preencher meu coração, terminei de me arrumar, fui para fora do campus correr um pouco, precisava colocar a cabeça no lugar e esquecer tudo o que tinha acontecido, estava arrependida e com nojo de mim mesma por pensar as coisas que pensei e me sentindo inútil por quebrar uma ligação muito importante que tinha com Simone para o meu aprendizado. O que ela ia pensar de mim agora? Precisava ficar longe daquele lugar e longe de qualquer possibilidade de esbarrar com Tebet, pelo menos por um tempo.

Depois de dar algumas voltas, estava decidida em não falar sobre e fingir que nada aconteceu, precisava continuar seguindo a minha vida sem me culpar pelos comportamentos que eu tenho quando estou chateada, até porque eu ainda estava chateada e provavelmente outras escolhas ruins ainda aconteceriam. Eu não podia duvidar da minha incrível capacidade de fazer merda.

Voltei para o dormitório para me arrumar e continuar vivendo.
– Onde você estava? Perdeu a primeira aula com a professora Simone.– Disse a morena, me entregando um copo de café para tomar, olhei direito e tinha o logotipo da mesma cafeteria que eu estava na noite anterior.
– Onde você conseguiu isso?– Fiquei um pouco confusa, nem eu sabia da existência daquele lugar até ontem.
– Seu namorado me mandou comprar lá, não entendi, mas segui o conselho. Ele estava todo animado essa manhã. – Olhei para D e vi que ela também parecia contusa, dei um gole no café e senti um gosto diferente, a outra percebeu meu estremecer e sussurrou perto do meu ouvido.
– Álcool, amor.– Gargalhei, tinha certeza que a cabeça daquela mulher não funcionava direito.
– Vamos, nós temos outra aula agora, não quero levar bronca. – Ela falou e começou a acelerar os passos.

Ao chegar na porta da sala, pude sentir meu corpo rejeitar aquela situação, um frio na barriga tomou conta de mim e apenas fiquei parada observando quando D tirou um imenso livro de dentro da bolsa antes de entrar, apenas parei na porta e recebi um olhar confuso da professora, balancei a cabeça em negação e voltei para o corredor.

– Soraya!– A voz doce de Simone me fez parar de andar e fechar os olhos, ouvi seus saltos batendo contra o chão em minha direção e fiquei imóvel. – Você não vai entrar na aula?– Sua voz era de preocupação.
– Eu não estou com o livro que pediu para a aula de hoje.– Já minha voz saiu baixa e rouca, me odiando.
– Não seja por isso, eu posso te emprestar um, não é motivo para não comparecer na minha aula.– Não era bem a aula que eu queria evitar.
– Me segue. – Ela deixou a turma que estava dando início a uma atividade importante e saiu andando na minha frente, fui atrás em silêncio, pelo caminho que estava sendo feito podia deduzir que estava me levando até a sala dos professores, o lugar estava vazio e escuro, ela me levou até o cantinho dos armários e procurou pelo seu, nem fez questão de ligar a luz.
– Eu tenho um novinho por aqui em algum lugar.– Disse assim que encontrou o seu e procurou pelo livro. –Achei!– Disse pouco depois, me entregando o mesmo.
Segurei o livro com ambas as mãos e apertei contra meu corpo, respirando fundo e tentando me convencer de que não dava para fugir pra sempre.
–Está tudo bem?– Ela deu um passo em minha direção e eu recuei.
– Está sim.– Falei com dificuldade, ela estava perto o suficiente para me desconcertar.
– Soraya, sobre a noite anterior...– Ela tocou sua canhota em meu ombro e meus olhos correram como imã para seu decote semiaberto, aparecia parte de seus seios que não cabiam dentro do sutiã e aquela cena fez com que minhas pernas bambeassem.
– Não tem problema, Tebet, eu acabei bebendo um pouco mais do que devia na noite anterior, não estava fielmente respondendo por mim. – Falei de uma só vez, estava com dificuldade em administrar minha respiração, sentia que poderia desmaiar em qualquer momento devido à alta temperatura que meu corpo estava atingindo.
– Você está quente.– Ela subiu a mão para tocar meu rosto e eu automaticamente fechei meus olhos e virei para o outro lado.
– É que está calor aqui, as janelas estão fechadas e você fechou a porta também. – Evitei olhar em seus olhos, sabia que estaria assinando minha sentença de morte se fizesse aquilo.
– Eu te deixo nervosa?– Ela sussurrou, enquanto dava mais um passo à frente e aproximava mais nossos corpos.
– Você me deixa confusa, Simone.– Mordi o lábio inferior, estava quase totalmente entregue, a vontade era de implorar por um beijo.
– Posso desatar esse nó, se quiser. – Sua boca estava colada em minha bochecha e sua mão agora estava em meu pescoço, dominava a situação de um jeito perturbador.
– Eu tenho um namorado.– Engoli seco lembrando que a Déborah comentou como ele estava animado essa manhã, mas não consegui me mover.
– Isso não é problema meu.– Ela fez meu rosto virar e finalmente encarar seus olhos imensos e atentos, enquanto ela analisava minha boca tão de perto.
– Temos que voltar, Simone, por favor.– Estava quase perdendo o sustento do meu próprio corpo. Era loucura pensar que agora era realmente ela que estava ali, era sua boca, seu toque, seu corpo, mas eu não podia me deixar cair naquela deliciosa tentação.
– Como quiser, Thronicke. – Ela me soltou e se afastou aos poucos, saindo do cômodo e voltando para a sala de aula. Eu precisei de um tempo para respirar, larguei o livro e levei ambas as mãos para os joelhos, me apoiando ali para conseguir me concentrar em retomar minha respiração ao normal. Como era possível ela ter tanto poder sobre mim?

Peguei o livro e sai da sala, outra vez senti meu corpo se chocar com de alguém e novamente era com o de César.
– Soraya? O que estava fazendo aí?– Ele me olhou confuso e eu acabei gaguejando.
– Eu? Eu vim buscar um livro que a professora me pediu para pegar.– Ajeitei os cabelos.
– Você está bem? Parece um pouco pálida.– Ele tentou segurar minha mão e eu afastei, era muita coisa para engolir em tão pouco tempo.
– Deve ser fome.– Sorri fraco e comecei a andar em direção a sala de aula.
– Adorei ontem, você estava impecável, selvagem. Sabe que eu não gosto muito dessas atitudes que fogem do padrão, sou um cara tradicional, mas podemos repetir na cama hoje, que tal? – Ele beijou o topo de minha cabeça e todo o tesão que estava acumulado em meu corpo tinha acabado de partir.
– Tá bom, César, vou ver e te aviso.– Me controlei para não revirar os olhos e finalmente entrei na sala de aula.
– Soraya Thronicke.– Disse Simone. – Está atrasada! Sente-se que vou lhe entregar sua atividade. – Assim o fiz e ela caminhou até a porta. – Até outra hora, meu caro. – Fechou a porta que separava ela de César e acabei balançando a cabeça em negação com aquela atitude.

 – Fechou a porta que separava ela de César e acabei balançando a cabeça em negação com aquela atitude

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