Soraya. - III

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A semana passou como um flash de luz, ja era sábado à noite e eu estava em um dilema com Déborah se era ou não uma boa ideia sair para beber.

– Não quero acordar em um balcão de novo, não tenho mais idade de espírito para isso.– Levantei para colocar o meu prato da janta na pia.
– Eu conhecia o dono do lugar, tá? A língua dele ficou na minha boca quase a noite toda, não era um ambiente totalmente estranho.– Tentou se defender.
– Esse é o preço que eu pago por querer formar um trisal, ter que te aturar. – Brinquei já prevendo o surto.
– Nem que eu dependesse disso para sobreviver. – Fingiu colocar o dedo na garganta para vomitar. – Mas pensa bem... Está cedo ainda, vamos voltar rapidinho.– Ela foi se aproximando aos pouquinhos.
–Hum?– Dei chance dela tentar me convencer um pouco mais.
– Fora que é do outro lado da rua, se cansar é só atravessar a rua e já vai estar em casa.– Ela continuou se aproximando lentamente.
– E...?– Evitei o contato visual, se eu conhecia bem minha melhor amiga aquela hora ela já estava fazendo cara de cachorrinho abandonado.
– E que é aniversário do nosso colega de turma, muito provavelmente vão ter vários rostinhos conhecidos para interagir e quem sabe até trocar de namorado. – Ela estava perto o suficiente para ouvir qualquer que fosse a minha resposta.
– Você implica muito com o coitado, mas tá bom.– Acabei sendo convencida pelos primeiros argumentos.
– Você é a melhor! Eu te amo!– Ela beijou minha boca e saiu correndo, colocou o óculos escuro na cabeça e seguiu em direção à porta. – Vai se arrumar que eu já volto para te chamar, vou resolver uma coisinha. – Saiu batendo a porta.

Comecei a me arrumar, não era um barzinho muito elegante para exigir uma roupa totalmente sofisticada, mas era um aniversário então pedia por algo fora do padrão, além de que estava sentindo falta de me amar e me achar bonita, decidi me dedicar à mim, por mim.
Terminei tudo o que tinha para fazer e fiquei sentada na beira da cama, mentalizando que se Déborah demorasse mais um pouquinho para aparecer, eu ia desistir de tudo e colocar um pijama, mas ela apareceu logo depois.

– Porra...– Ela disse assim que bateu os olhos em mim.
– Exagerei?– Passei as mãos no vestido um pouco nervosa.
– Não, claro que não! Você está gostosa pra cacete, mana.– D fez aquele sinal com a mão de quem tinha acabado de provar um prato de comida muito gostoso e amado.
–Então vamos logo, antes que eu mude de ideia.– Levantei rindo e ela agarrou em meu braço para caminhar até o local.

Chegando lá para minha supresa estava bem movimentado, não sabia que o cara conhecia tanta gente assim, mas um amigo chama outro, que chama outro, que chama outro e no final o que mais tem é gente para lotar o lugar. Déborah já chegou causando um alvoroço, conhecia praticamente todo mundo e fingia ser amiga próxima de todos. Primeiro caminhamos até o bar para pegar uma bebida, fui de Cucumber & Mint, era diferente e refrescante, depois caminhamos até uma mesa livre. Dei um primeiro gole na bebida assim que me sentei, embora fosse bom estava forte e eu não tinha toda força do mundo contra o álcool, senti meu corpo estremecer mas não parei e depois daquele vieram mais três iguais.

– Olha que cara gato.– D apontou com a cabeça a direção que eu deveria olhar e assim o fiz, vendo um rapaz que não me era estranho.
– Você já não ficou com esse cara?– Semicerrei os olhos confusa.
– Sim, mas vou ficar de novo.– Foi direta e eu acabei rindo alto, entre um gole e outro do meu drink.
– Ok, faço questão de te deixar livre para...– Levantei as mãos em rendição. – Pode ir reciclar aquela boca.– Brinquei.
– Sim, mas antes...– Ela virou minha cabeça para outra direção. – O bartender está indo entregar um drink para aquela mesa em seu nome, é só sorrir e acenar.– Ela beijou minha bochecha e saiu.

Eu vi o homem de terno com uma bandeja na mão caminhar em direção a mesa que Simone estava sentada com Rosângela, não demorou muito para seus olhos de jabuticaba me encontrar e sorrir, correspondi com um sorriso e um aceno de mão como minha amiga me indicará, assim ela compreendeu quem tinha a presenteado. Eu podia matar D com as próprias mãos por fazer as coisas sem me consultar antes, mas não podia negar que foi a ideia dela que me presenteou com um dos sorrisos mais lindos que eu já vi. Tebet cochichou algo no ouvido da colega de profissão e logo se levantou da cadeira, senti meu coração bater mais forte de nervosismo e minhas mãos começaram a soar. Droga de mulher que não me deixava controlar meu próprio corpo.

– Obrigada pela bebida.– Ela mostrou o copo ao se aproximar. – Posso?– Perguntou ao tocar a cadeira que antes era ocupada por Déborah.
– Claro! Por favor.– Fiz questão de me levantar e eu mesma puxar a cadeira para que ela pudesse se sentar e assim que o fez, voltei a me sentar em seguida.
– Posso saber o motivo do agrado?– Ela levou a boca até o copo e deu outro gole na bebida.
– É raro ver alguém tão inteligente quanto você frequentando um lugar como esse. Quis motivá-la a não ir embora.– Segurei meu copo e deslizei a ponta do indicador circulando a borda dele.
– Você está aqui, não está?– Ela cruzou as pernas por baixo da mesa e naquele momento eu tinha desejado com todo meu coração ter tido a chance de assistir aquela cena em câmera lenta. – E não se preocupe, agora já tenho meus motivos para ficar.– Ela concluiu e eu automaticamente entrei em transe ao observar seu rosto. A boca perfeitamente desenhada e na cor vermelha, combinava perfeitamente com a cor de seus cabelos escuros que agora estavam enrolados nas pontas e caindo em seu rosto. Percebi que ela também me olhava com atenção, os olhos que eu amava admirar estavam vidrados em meus lábios. Fui me aproximando aos poucos e levei a destra para tocar seu rosto, ela fechou seus olhos assim que sentiu minha mão e eu apenas coloquei uma mecha de seus cabelos atrás de sua orelha.
– Eu fico feliz.– Sussurrei e ela abriu os olhos no mesmo segundo.
Por algum motivo, surgiu dentro de mim uma imensa vontade de beijar sua boca, sentir seu cheiro mais de perto. Ela mexia comigo de uma forma inexplicável, nunca tinha sentido aquilo na minha vida, eu mal conseguia me controlar ou entender e foi quando deslizei minha mão em sua coxa por baixo da mesa que ouvi ela questionar.
– O que você está fazendo?– Percebeu meu toque e tossiu enquanto se afastava, olhou ao redor e provavelmente se deu conta que estávamos em público, o que me fez voltar a realidade e perceber que eu estava agindo somente com o corpo e sem usar muito a cabeça.
– Bom... Preciso voltar para a Janja.– Ela engoliu seco e segurou minha mão, fazendo a mesma voltar a repousar sobre a pequena mesa que nos separava.
– Sim, é claro, sem problemas. – Esbocei um sorriso desconfortável, estava me sentindo meio mal por não entender se ela tinha gostado ou não do meu comportamento. – Curte a noite.– Conclui e ela se levantou para sair.

O ambiente estava quente, meu rosto queimava como se eu estivesse com uma febre de quase 40°, tinha perdido o controle do coração e da mente, tudo por culpa de Simone. Não conseguia tirar da cabeça tudo o que D havia me falado sobre encontrar uma pessoa que valesse a pena e quais eram as sensações que essa pessoa te causaria, era exatamente o que aquela mulher fazia comigo, ela estava certa e eu me sentia péssima por pensar em Simone daquele jeito. Me levantei rapidamente da cadeira e sai do bar em passos acelerados. Depois de andar um pouquinho avistei uma cafeteria 24h e entrei nela, não estava me sentindo muito bem então pedi um café e enquanto preparavam, encaminhei uma mensagem para César e pedi para ele me encontrar lá, ele não estava muito longe e não demorou muito para chegar. Assim que vi o rosto do meu namorado, apanhei sua mão e caminhei com ele até a região mais isolada onde ficavam os banheiros.

– Está tudo bem com você? – Ele perguntou, enquanto tocava meu ombro com a imensa mão e me fez virar ao seu encontro.
– Hãn? Ah sim, estou bem.– Minha cabeça estava rodando, eram muitos sentimentos ao mesmo tempo e o álcool não me deixava raciocinar direito.
– Amor, você quer convers...– Em um ato totalmente fora da sobriedade, avancei no pescoço dele e beijei sua boca com um desespero descomunal. Ele abraçou minha cintura e correspondeu o beijo na mesma intensidade iniciada por mim. Eu não tive tempo de pensar no o que estava acontecendo de fato, apenas desejava tirar aquele tesão que Simone me causava sem nem saber. Ele empurrou a porta com o pé e me levou para dentro da cabine do banheiro, foi ali que eu gastei toda minha energia, somente pensando e desejando que fosse a mulher que perturbava meu sono, que fosse suas mãos delicadas me tocando, que fosse sua boca gostosa e seu cheiro doce. Não era, mas me serviu de alguma coisa por poucos minutos.

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