Soraya. - XI

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Era o dia do júri simulado e depois de passar tanto tempo me dedicando para realizar essa apresentação, finalmente me sentia pronta. Era um evento muito importante para os alunos de direito, um pouco de prática para tanta teoria, o momento em que os alunos tinha que provar que estavam ali por alguma razão importante e que fariam o possível e o impossível para exercer aquela profissão.

– Como eu estou?– Virei para mostrar a roupa que tinha escolhido. Uma calça branca de alfaiataria larga e uma camisa social acetinada de listras.

– Bonita.– César cruzou as pernas.
– Gostosa para um excelentíssimo senhor caralho.– Falou minha melhor amiga ao mesmo tempo.
– O bom é que o linguajar dela já está quase totalmente formal.– Ele provocou.

Déborah somente se levantou e me beijou na boca, sabendo que ele ficaria furioso com o ato, depois saiu do apartamento. César se levantou para retrucar a provocação, mas foi barrado por mim que segurei seus braços e não o deixei segui-la.

– Ignora, por favor, eu preciso de você.– Pedi, tentando fazê-lo me olhar nos olhos.
– Sabe que eu não gosto disso, Soraya.– Ele tirou seus braços que estavam envolvidos pela palma da minha mão. – Ela não faz isso em público, né? – Disse enquanto voltava para o lugar que estava sentado anteriormente. – Imagina que cena ridícula uma mulher beijando outra na frente das pessoas. – ajeitou a gravata. César seria meu convidado na plateia do júri.
– Ela é quase minha irmã, César.– Engoli seco.
– Nem que fosse sua mãe, Soraya.– Seus olhos não encontraram com os meus. Para ser bem sincera, já fazia um bom tempo que ele não dizia nada me olhando nos olhos.
– Tudo bem. Desculpa.– Me encaixei entre suas pernas e me sentei em seu colo, acariciei seu rosto e dei um beijo em sua boca, na intenção de fazer ele esquecer a situação.

Passei o resto do tempo antes da simulação garantindo que eu ia me sair no mínimo impecável. Faria a defesa de um homem birracial, acusado injustamente de furtar a casa de uma senhora rica para qual trabalhava como jardineiro. Era tudo falso, mas o sentimento de injustiça e de ausência de voz reinava dentro de mim e fazia tudo parecer real.

Entramos no auditório que estava detalhadamente decorado para parecer o ambiente real do júri e nos posicionamos nos lugares marcados com nossos nomes

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Entramos no auditório que estava detalhadamente decorado para parecer o ambiente real do júri e nos posicionamos nos lugares marcados com nossos nomes. Nos bancos atrás estavam convidados e professores que não fariam parte da bancada de avaliação e todos também se vestiam a caráter. Nossa apresentação durou aproximadamente uma hora e meia para finalizar, todo mundo estava concentrado e curioso para saber como ia finalizar, logo o som do martelo ecoa por todo o auditório e a minha causa é defendida com sucesso. Senti os olhos marejarem, olhei para a plateia e a primeira pessoa que eu vejo se levantar e aplaudir é a professora Simone Tebet, meu coração parecia que ia explodir.
Abracei meus colegas e os parabenizei pela apresentação maravilhosa de cada um. Acredito que todos saímos com uma sensação revigorante de estar no lugar certo.

Para comemorar, a direção preparou um jantar na própria universidade para todos os envolvidos. Uma imensa mesa em linha reta, as cadeiras posicionadas lado a lado e muitos já iam escolhendo seus lugares, corri para tentar me sentar ao lado de Simone e fui impedida por César que puxou meu braço para outra direção. Eu estava muito feliz, queria compartilhar essa felicidade com Simone e queria ouvir a opinião dela sobre tudo que assistiu, era importante para mim, mas acabei me sentando na ponta oposta, apenas encarando seu rosto de longe e ela correspondia o olhar. Começamos a nos servir e não demorou muito no jantar para meu celular tocar, era ela ligando, procurei com o olhar e percebi que ela não estava mais no seu lugar, atendi o celular e mostrei o indicador para César pedindo licença para falar ao telefone.

– Me encontra no banheiro.– Ela falou.
– Como assim o meu cartão foi bloqueado?– Disse me afastando da mesa. Não conseguia mais parar de atuar.

Simone riu e desligou. Caminhei rapidamente em direção ao banheiro e foi só tocar a maçaneta para sentir a mão que me puxou para dentro às pressas. A morena me olhou nos olhos por longos minutos antes de puxar meu rosto com ambas as mãos e selar nossos lábios em um beijo cheio de urgência.

– Você está maravilhosa.– Ela disse ao se afastar. – Meu coração bateu mais forte quando te vi subindo aquelas escadas.– Suas mãos ainda seguravam o meu rosto.
– O que você achou?– Ergui as mãos para acariciar seus pulsos.
– Você foi espetacular.– Simone quase gritou, era imenso o orgulho que refletia em seus olhos brilhantes. – Você É espetacular, Soraya, eu não esperava menos da sua apresentação.– Finalmente ela me deu um abraço.

O abraço daquela mulher tirava tudo o que me prendia ao chão, ela me fazia acreditar que eu podia ter tudo e conquistar tudo com apenas um abraço sincero. Ninguém nunca colocou tanta fé em mim. Foi ali que eu a agarrei outra vez e a beijei. Os passos contrários fizeram minhas costas baterem contra a porta do banheiro e acabei gemendo baixo. Senti o gosto da cremosidade do seu batom nude, misturado com o sabor do vinho branco que ela tinha tomado horas antes. Eu me perdi em Simone. Me perdi na sensação de tê-la só para mim. Me perdi nos pensamentos de um dia dividir uma vida com ela e não ter nada para me preocupar.
Sem se importar com o mundo fora do banheiro, ela abriu os botões da minha camisa e desceu os beijos para a parte exposta dos meus seios, que não eram tão fartos como os dela, mas ela adorava mesmo assim. Me marcou naquela região, acabei gemendo mais alto e fez com que ela se afastasse para me calar. Acabamos rindo juntas.

– Eu quero preparar algo para você.– Falei na emoção do momento.
– Como assim?– Ela limpou a lateral da boca e a marca de batom no meu pescoço.
– Amanhã. Vem passar a tarde comigo no meu apartamento amanhã. – Fui fechando os botões da camisa e pressionando ela com o olhar. – Te faço um jantar especial. Por favor, Simone, quero passar um tempo com você. – Segurei seu rosto com as duas mãos e ela sorriu.
– Você não precisa implorar, querida. Me fala o horário e eu vou estar lá. – Ela me beijou. – Eu te prometo.– Sua voz ficava rouca quando sussurrava.

Depois de sair do banheiro, não muito longe, acabei esbarrando com César no pátio.
– Onde você estava? Eu fiquei te procurando.– Me olhava confuso.
– Acho que acabei bebendo muita água por conta do nervosismo.– Tinha um sorriso fraco nos lábios e tentava manter minha postura em cima do salto alto.
– Entendi...– Seu olhar confuso ficou ainda mais notável quando ele avistou Simone saindo do banheiro logo depois de mim. Ela fingiu que não notou nossa presença e seguiu para a mesa. César seguiu seus passos com o olhar até ela se sentar e eu precisei chamar sua atenção de volta para mim.
– Bom... Não vejo a hora de você se formar e não precisarmos mais comparecer em eventos como esse. – Ele concluiu por fim e acabei me sentindo extremamente ofendida com o comentário.
– Eu não te obriguei a vir.– Encarei seu rosto com indignação agora.
– Onde você está, eu estou.– Ele me puxou para um beijo e eu recusei. Temi que ele notasse algum resquício do batom de Simone em minha pele e me enciumei em pensar que ele poderia sentir o gosto do beijo dela através dos meus lábios.

César, uma linha tênue entre o minimamente agradável e o machista egocêntrico.

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