Soraya. - VIII

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Já tinha completado quatro dias que não assistia aula e dentro desses quatro dias, dois tinham aula com a Simone. Depois de voltar da sua casa naquele fatídico dia, acabei me afundando em um balde (talvez dois) de sorvete que resultou em um resfriado terrível, mas estávamos perto de participar de um júri simulado e se eu não assistisse as aulas para ter as informações corretas, não somente o que Déborah me trazia, acabaria me saindo muito mal em uma apresentação importantíssima.

Acabei ignorando a fraqueza do meu corpo e fui enfrentar aquele tsunami que era a faculdade. Assisti todas as aulas e como a última do dia era ministrada pela Tebet, esperei que todos os alunos retornassem para a sala de aula e sai de fininho. Só me arrependi quando meu corpo esbarrou com o dela na porta, ela entrando e eu saindo.

–Soraya, você vai embora?– Ela falou um pouco surpresa em me ver.
–Aham.– Passei por ela evitando o contato visual e me retirei da sala.
– Calma, eu gostaria de conversar com você.– Ela falou enquanto seguia meus passos.
–Não vai dar, ainda estou um pouco doente, não quero te deixar gripada.– Simulei uma tosse bem falsa e continuei andando sem olhar para trás.
–Soraya, espera!– Ela segurou meu braço e puxou em sua direção. Eu fiquei imóvel, apenas sentindo o toque de sua mão firme. – Você não frequenta minhas aulas, não responde minhas mensagens e não dá a oportunidade de me explicar.– Aproximou seu corpo do meu discretamente.
– Não tem nada para explicar. Você me comeu no sofá da casa que divide com o seu marido e foi só isso. – Falei em um tom mais alto do que deveria, ela olhou ao redor assustada e usou a outra mão para me calar.
– Céus! Não grita, Soraya.– Foi me puxando para dentro do banheiro.
– O que foi, Simone? Jogo de poder? "Preciso ter tudo o que eu quero sempre"?– Passei as mãos nos cabelos, estava confusa e cheia de raiva.
– Não seja ridícula.– Ela revirou os olhos.
– Impossível! Você me fez de ridícula quando tive que apertar a mão do homem depois de ter dado horrores para a mulher dele.– Estremeci só de pensar.
– Sou mulher minha! E não me arrependo de nada do que eu fiz, Soraya.– Ela me pressionou contra a parede e no mesmo minuto senti minhas pernas fraquejarem. – Foi uma das melhores noites da minha vida. – Sua boca estava quase colada em meu maxilar.
– Para, Simone, não dá para continuar. – Eu não tinha mais forças para lutar contra tudo o que ela me fazia sentir. – Eu não quero fazer isso com o César, não quero fazer isso com o Eduardo e não quero fazer isso comigo. – Usei ambas as mãos para afastar o seu corpo. – Precisamos parar com isso. – Finalmente consegui olhar em seus olhos e pela expressão em seu rosto, ela entendeu que eu falava tudo com sinceridade.
– Tudo bem. – Ela deu um longo passo para trás. – Como quiser.

Deixei ela lá e fui embora da universidade, pedi para que César me buscasse e fui passar um tempo em sua casa para distrair minha cabeça, ele ainda morava em uma casinha pequena no fundo da casa dos pais, então precisei fazer uma cena antes de finalmente estar sozinha com ele.

– Eu senti saudades.– Abracei seu corpo e involuntariamente as lágrimas começaram a cair do meu rosto.
– Soraya, meu amor? Está chorando?– Ele apertou o abraço e usou sua mão para acariciar meus cabelos.
– Estou tendo uma semana difícil. – Me afastei para ver a mancha que minhas lágrimas fizeram em sua camisa e deslizei a ponta dos dedos ali. – Desculpa.– Sussurrei, imaginando que ele ficaria bravo.
– Tudo bem.– Ele acariciou meu rosto. – Olha, o que você acha que ir me assistir jogar tênis no domingo de manhã? Vai fazer bem para você sair um pouco, conhecer outras pessoas e outros ambientes.– Me puxou para sentar ao seu lado no sofá e eu logo encostei minha cabeça em seu peito e fui abraçada por ele outra vez.
– Eu acho ótimo. – Levantei um pouco a cabeça para deixar um beijo delicado em seus lábios. – Obrigada.– Sussurrei e ele apenas sorriu.

Passamos o resto do dia ajudando um ao outro nos estudos, Eduardo me viu ensaiar a apresentação mais de vinte vezes, poderia ele fazer em meu lugar se quisesse, me fez perceber como ele era importante para mim, embora Déborah cismasse em dizer que eu merecia coisa melhor, o que era melhor do que um homem que gastava seu tempo para cuidar de mim? Ele era carinhoso comigo, eu não podia ignorar suas qualidades.

– Sinto que estamos um pouco distantes um do outro.– Ele mordeu um pedaço da pizza que segurava na mão. Estávamos sentados no chão da sala, entre diversos papéis de anotações que estavam jogados e eu entre as pernas dele, apoiando meu corpo no seu.
– Eu sei, a culpa é toda minha, tive dificuldade em estabelecer uma rotina e acabei entrando em uma tremenda confusão. – Minha mente se perdeu por um instante. – Vamos nos reconectar, eu prometo, é só uma fase ruim.– Virei um pouco o rosto para olhar em seus olhos e ele segurou meu queixo antes de me beijar.

Ali era o lugar certo, era com César que eu tinha que estar.

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