Parte 15

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Passei o dia seguinte deitado, saindo só para comer e necessidades. Agi apenas quando o barulho lá fora começou. No quarto ao som de rojões, nu à frente do espelho; explorei pulsões com dedos subindo's joelhos, às coxas e apertando nádegas, pela barriga ofegante ao tórax, circularam mamilos endurecidos frente à coração disparado. Palmas rodearam o pescoço pulsante, deste corpo tão ardente que fez lágrima escorrer. Oito horas, para sair a procura do crush (Palavra nojenta) pus blush, esfregando pincel até pesar magenta. Batom cereja e furei orelha com brincos. Quase apliquei lápis também, porém seria demais em mera festa junina. Vesti calcinha bege, saia azul marinho, sem shorts; abotoei camisa xadrez. Sapatilhas vermelhas com rosa esculpida antes da ponta. Cabelos lisos, soltos e três presilhas dum lado só. Com cartinha no bolso e peito estufado para enaltecer seios inexistentes, saí pelo festival dentre pequenas no pula-pula e maiores namorando. Avistei Melody fácil, silhueta à lua cheia da menina berrante ao touro mecânico. Calça jeans e chinelos, casaco, faixa no cabelo como um arco-íris cruzando o céu. Foi arremessada longe e tristonha desceu, mas rosto ascendeu quando me viu, veio saltitante e sentamos nas cadeiras plásticas à lateral da passarela onde desfilavam as meninas sem face; devorávamos maçãs do amor, julgávamos andares exagerados e mãos na cintura até que Melody comentou: "Humanos são estranhos... tudo para atrair meninos." Talvez seja por diversão? "Não, pra chamar atenção. É tudo por sexo."

Me surpreendi, era indireta? Quais seriam as chances desta conversa acontecer? "Sou igual. Amor é mentira, aposto que adultos sabem... nem ficaram tristes com o cachorro." Como? "Já percebi. A única emoção de verdade é raiva, mas precisam inventar outras para não matarmos todos. Mentira fez nossas irmãs chorarem... nunca entendi porque as pessoas choram sem dor." Ficou tão pessoal e era agora ou nunca, pus mão no bolso. "Não consegui ficar triste pelo bicho, tentei tanto que doeu a cabeça. Nunca senti nada na vida, tô tão à frente..." Então parei percebendo, que isto seria insuficiente para conquistar esta anjinha psicopata. Numa estratégia autodepreciativa. Propus trocar, carta pelo beijo...

Nove da noite. Ela disse "Aqui não" e me puxou pela mão. Fomos dentre crianças antecipando bomba chilena e bêbados cantando Milena de Michel Teló. De mim senti dó. Passos às cordas de violão correram para detrás do palco onde havia desertidão (Motoristas desinformados voltavam em ré) pois sertanejo servia-nos como distração. Melody pressionou costas à madeira que vibrava suaves notas de sanfona e contrabaixo, segurou mi nuca e puxou-me na direção da tua boca rosada, semelhante a protea fechada. Foi atrapalhada mas sem constrangimento. Doce como caramelo que banhou bolo de casamento. Éramos frágeis flores, claras como teu futuro vestido, ali deixamos de ser amigos. Saliva frutada em maçã do amor, teus lábios molhados devoraram-me. Oh desejos tóxicos copos-de-leite não poderiam realizar-se nem que eu fosse desprezível ser. Desejos tão humanos... tão perdidamente humanos. Segundos duraram anos e subsequentes anos segundos. Bocas se desencostaram e olhos abriram, encaramo-nos com imaturidade da idade e experiência de infância fatigante ao som dos aplausos e colorido vapor do gelo seco espiralou por nossos pulmões ofegantes. Tuas mãos: pétalas peônia massagearam-me o rosto, sabíamos que era pra valer muito antes de arremessares aquele buquê. A caminhar pelas areias praianas entreguei-a cartinha, seus olhos desceram pelas palavras, e cuspe por minha garganta seca enquanto massageei meus dedos trêmulos. Melody olhou para mim, pro papel, a mim e papel novamente. No que tropeçava em elogios incrédulos, a pedi em namoro.

Até Praça da Baleia onde todos os bancos eram ocupados por amantes. Sentamos à terra e pra além do oceano admiramos fogos no céu estourar (azul, verde e vermelho). Brando brega no ar. Contei, dentre os estouros abafados, sobre existirem-me prazeres trancados. Desesperado para abismo não abrir-se entre nós e ela ouviu num silêncio aterrador. Expus toda a ansiedade e dor. Quantas milhares de palavras aqueles olhos me diziam? "Homossexual, bissexual, assexual?" falou "Eles inventaram tanta coisa... banal." Apanhou presilhas do meu cabelo deixando-o cair ao rosto; tacou no chão e pisoteou, rasgou-me a orelha puxando brincos de gota e curto berro fugiu da minha garganta. Me puxou os braços, pôs-me de pé e minhas pupilas pulavam para todas as visões; desabotoou a camisa xadrez do meu corpo arrancando alguns botões e arremessou-a para longe, e também rancou a saia fora... "Tira as sapatilhas!" e tirei. Grama úmida pelo sereno se espremeu dentre meus dedos; e resposta daqueles segredos foi asserção passivamente desesperada: "Você é menino!" Estes olhos arderam. Então lambeu seus dedos, e com saliva suave limpou minha maquiagem.

Sou menino, assim relembro, fato tão enraizado quanto que novembro antecede dezembro. Aprendi mais naquela noite do que em todos os meus dias. Abracei-me corpo nu, pois tremia banhado ao luar, então ela emprestou seu perfumado casaco vermelho. E após rodear quarteirões discutindo futuro que nossas mentes eram muito limitadas para alcançar, retornamos para preocupadas Vanessa e Marilú. Aceitamos broncas de cabeça baixa e direto pra cama às dez. Por horas, senti a pressão dos seus lábios contra os meus e as batidas dos nossos corações rimavam poemas infantis. Doki Doki ao ritmo do Tick Tock no relógio do quarto enquanto eu encarava o teto com um sorriso bobo no rosto. Resumo daquele sentimento complexo: "Hoje é o melhor dia da minha vida!" Namorados não podem manter relacionamento sem sexo... ou podem? Naquele momento olhei para o céu pela janela e desafiei o universo; nós iríamos namorar, casar, adotar filhos, morrer juntos e felizes. Enfim, espero que se apaixones por ela também...

Senhorita PrimaveraWhere stories live. Discover now