7. QUEIJO GIRL

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Kara zorel

Minha cabeça lateja e eu tenho que me esforçar muito para não ficar pensando que a dor significa mais do que já é, principalmente porque eu sinto meu peito doer de um jeito que já é bem característico de quando eu estou nervosa.

Sei que preciso apenas respirar e esvaziar a mente. Na verdade, eu sei tanta teoria sobre a ansiedade que na maior parte das vezes, me sinto muito estúpida por não conseguir colocar tudo em prática. O desespero sempre dá um branco em minha cabeça.

Nem ficar abraçada a Colin, meu gato laranja um pouco obeso e com uma personalidade meio mal-humorada, ajuda a aplacar o sentimento ruim que se instala em meu peito, mesmo através da porta fechada, consigo ouvir os sussurros de meus pais.

Mamãe nunca foi muito boa nesse negócio de falar baixo e isso meio que sempre foi motivo de piada entre a gente.
Lembrar disso me faz pensar em uma época na qual nossa família não tinha grandes preocupações e papai tinha um bom emprego.

As coisas agora estão tão complicadas que eles mais fingem sorrisos para me tranquilizar do que sorriem de verdade. É por esse sentimento de culpa que não sai de dentro de mim que fico acordada durante boa parte da madrugada, mexendo em meu notebook e afastando Colin de cima do teclado. Meu gato tem uma tendência esquisita
de deitar em cima dos livros que leio, ou de qualquer outra coisa que eu esteja fazendo.

Adormeço por poucas horas quando o dia já está amanhecendo, mas não é aquele tipo de sono que faz a gente descansar, porque me sinto muito mais cansada quando acordo e começo a me vestir. É como se meus olhos estivessem cheios de areia de tanto que pinicam, mas hoje não posso me dar ao luxo de dormir um pouco mais.

Olhar para minha bicicleta completamente empoeirada e em um canto da garagem me faz questionar pela milionésima vez a quantidade de coisas que a ansiedade me tirou. Sempre amei andar de bicicleta, mas depois das crises de pânico, fica um pouco difícil o simples fato de sair de casa. É como se minha cabeça fosse minha maior inimiga, sempre me mostrando possibilidade ruins, mandando sinais de perigo para meu corpo que faz com que as palmas das minhas mãos estejam sempre suadas.

— Você tem certeza? — A voz preocupada de Clark logo atrás de mim faz com que eu pare de olhar para minha bicicleta azul e volte minha atenção para ele.

— Tenho. Não posso gastar os passes de ônibus e preciso fazer a ação social da minha bolsa de estudos do semestre. Não posso mais perder as coisas da faculdade, Clark-

Meu irmão balança a cabeça, mas percebo que ele está mais preocupado do que deixa transparecer. Clark é como mamãe e suas expressões não conseguem esconder de verdade o que está sentindo.

— Confia em mim, irmãozinho — peço e bagunço os cabelos dele, tão enrolados quanto os meus. — Eu já estou bem de novo, não sou mais uma bomba relógio que vocês têm que impedir que exploda. -

— Eu nunca pensei isso de você, Kara . -

— Eu sei. - Não querendo mais continuar com essa conversa, pego um pano e começo a tirar a poeira da minha bicicleta, admirando a estrutura antiga com cestinha de vime e rodas brancas, com o acréscimo de aros grossos e azuis e um guidão prata com apoios marrom.

Essa bicicleta foi presente dos meus pais quando eu tinha dezesseis anos, algo vintage do jeito que amo.

— Estou indo — falo a Clark , após terminar de limpar minha bicicleta e me certificar de que os cadarços dos meus tênis estão bem amarrados. — Chego logo depois das quatro. -

Antes que meu irmão diga alguma coisa, pedalo para fora da garagem, me sentindo péssima por estar mentindo, mas também sabendo que é uma dessas mentiras necessárias.
Faz muito tempo que eu não venho ao shopping e pedalar pelas ruas mais movimentadas da cidade, mesmo tão cedo, me deixa com medo, mas estou decidida a não ser vencida, mas, sim, a vencer.

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